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Em Pauta

Palavrões e caretas desafiam a hipocrisia na história da luta pela liberdade

Mário Sérgio Lorenzetto | 14/12/2014 08:06
Palavrões e caretas desafiam a hipocrisia na história da luta pela liberdade

Maus modos que se eternizam

Palavrões e caretas são a rebelião contra os códigos sociais. São dois costumes que evoluíram em paralelo às boas maneiras que permanecem no nosso dia a dia.

Nos palácios ou nos barracos das favelas, é preciso conter a língua. Os palavrões muitas vezes não se dirigem a pessoa alguma, exprimem apenas uma emoção. Seus domínios de predileção são o mundo religioso, o sexual e o escatológico. Alguns teólogos medievais chegaram a considerá-lo como o oitavo pecado capital. Eram usuais: "Por mil macacos"!, "Pelas chagas de Jesus"! e " Ao diabo a lua e aquele que a criou"!

Naquela época estavam sob especial vigilância as imprecações dos pobres e dos mendigos, as obscenidades dos atores e dos saltimbancos, mas também as palavras perigosas dos heréticos. Em meados do século XVII, existiam penalidades para coibir o aumento exagerado dos palavrões. Podiam ir de uma multa variável conforme a condição social do “boca suja” e chegava ao absurdo da extirpação de sua língua. Só restava um remédio - disfarçar os palavrões: "Eu renego Deus"! tornou-se o inofensivo "Arrenego", que ainda hoje é popular em muitas regiões do país. Mas é praticamente impossível viver sem eles.

Palavrões e caretas desafiam a hipocrisia na história da luta pela liberdade
Palavrões e caretas desafiam a hipocrisia na história da luta pela liberdade

Tratado de civilidade e a falta do que fazer

Erasmo de Roterdã, tido por muitos como um grande pensador, escreveu um tratado de civilidade, que oporia a animalidade à civilidade, para combater as caretas. Hoje, parece com falta do que fazer. De conformidade com Erasmo, o rosto deveria ser o lugar da harmonia que um lento polimento social e cultural tornaria contido, liso, sem rugas e sem expressão. Ele dizia que "É indecente dar toda espécie de aspectos a sua fisionomia", explicou o professor de bons modos Erasmo, "como franzir o nariz, enrugar a fronte, erguer as sobrancelhas, torcer os lábios, abrir e fechar bruscamente a boca". Mas em todos os momentos da história humana a careta faz parte da vida, os olhares tortos

ocorrem o tempo todo, os meio-sorrisos continuam denunciadores e os trejeitos de alguns devotos continuam a ser atos de hipocrisia.

A careta é a da criança, que esmaga os dedos em uma brincadeira, mas também é sacralizada quando Einstein mostra a língua diante dos fotógrafos. Será que as caretas não são a expressão de uma rebelião contra as normas estabelecidas, símbolo da verdadeira liberdade? Se assim for, nada mais normal e aceitável que uma fashionista de fama como a Corinthiana Gloria Kalil xingar o juiz em uma partida de seu time.

Palavrões e caretas desafiam a hipocrisia na história da luta pela liberdade
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Anjos caem na armadilha da vaidade

Existia uma característica que era válida para todas as aldeias indígenas brasileiras independente de sua língua ou lugar onde vivia - a vaidade dos homens em detrimento da vaidade das mulheres. Os enfeites produzidos com penas, ossos e madeiras e tinturas cobriam seus corpos e o delas era descoberto de tudo - elas eram peladas para o conceito indígena. Não usavam cocares, poucos ou nenhum colar e pulseira, e raras pinturas corporais. Eles eram "vestidos", podiam até ter o pênis a mostra, mas usavam muitos enfeites nas cabeças, no pescoço, nas pernas e braços. Via de regra, o corpo era totalmente ocupado por pinturas. O mundo fashion indígena era masculino, a moda pertencia aos homens.

Para os europeus que por aqui aportaram era uma festa com muitas mulheres à disposição e mulheres totalmente peladas. A curiosidade e vaidade tomou conta dos primeiros encontros entre os indígenas e os europeus. Os dois lados se mostraram muito curiosos com as imensas diferenças de suas vestes. Um relato europeu mostra a tentativa de entendimento das vestes indígenas: com a cabeça tomada pelo fanatismo religioso, um europeu explica que tinha encontrado o paraíso, pois ele estava cheio de anjos com suas "asas e corpo cheios de penas". Nada mais eram que índios "vestidos" com penas pregadas e amarradas em vários pontos de seus corpos. As trocas iniciais eram de produtos para a vaidade - miçangas, boinas, camisas...e os índios pagavam com alimentos e mão-de-obra.

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Ferro para os índios ou ferro nos índios

Mas esse período foi curto. As trocas rapidamente passaram a ser realizadas com os instrumentos que prometiam sonhos para os indígenas - instrumentos de ferro. Facas, machados, serrotes passaram a ser trocados pelos alimentos e a mão-de-obra. Uma imensa

transformação no modo de vida indígena. Saia a faca de osso e entrava a de ferro. A diferença entre os dois materiais é muito grande. Essa é a grande promessa trazida pelos europeus para o Brasil. Uma vida melhor se instalava nos sonhos indígenas pois os instrumentos de ferro funcionavam melhor que os de ossos, pedras e madeiras.

Mas as facas de ferro passaram a subir de preço extraordinariamente na troca por uma árvore derrubada ou pelos alimentos ou pelas mulheres. As populações indígenas se empobreceram e se tornaram famintas. Começaram a procurar outros lugares, outros europeus para realizar trocas em melhores condições. Muitas se tornaram nômades em busca dos instrumentos de ferro.

Essa é a primeira promessa não cumprida pelos europeus. A primeira. Outras viriam. Não cumprir promessas está no âmago, no cerne brasileiro.

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Medicamento pode apagar memórias ruins

Alguns veteranos de guerra, vítimas de assalto e de acidentes poderão comemorar dentro de alguns anos um novo medicamento – apagará de seu cérebro todo o trauma sofrido. Todos somos prisioneiros da memória de algum acontecimento traumático. É o poder extraordinário que a dor tem de deixar uma impressão no cérebro. Enquanto alguns cientistas trabalham para resolver o enigma da perda da memória na demência, outros abordam o problema de como escapar das lembranças dolorosas que dominam nosso cotidiano.

Oito anos atrás o neurocientista Todd Sacktor, de Nova York, injetou um composto denominado ZIP no cérebro de um rato e, após duas horas, testou o rato e observou que um determinado medo, anteriormente percebível e mensurável, fora apagado de seu cérebro. Faça isso em um veterano de combate incapacitado e estará a caminho de um Prêmio Nobel, ou de uma mina de ouro bilionária. Provavelmente, será o “medicamento do século”.

Acredita-se que o agente envolvido na preservação da memória seja uma proteína. De acordo com o experimento de Sacktor, essa proteína já é conhecida e recebe a denominação de PKMzeta. Essa PKMzeta é a responsável pela manutenção das lembranças. E qual a proteína que mantém a lembrança dolorosa?

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