Pepsi aposta no suco de caju e Senar capacita plantadores do MS
Para Pepsi, agora é a vez do suco de caju
Quando a colheita do caju começa na Índia, a maior parte da polpa é jogada fora, exceto por uma pequena parte usada para preparar uma bebida alcoólica famosa em Goa, um estado indiano. Porém, o desperdício da próxima colheita será menor: a Pepsi aposta que o suco de caju pode ser o próximo fenômeno das bebidas naturais como a água de coco ou o açaí.
A água de coco, o suco de romã e de limão são populares na Índia, mas os preços estão elevados. Por isso, a empresa passou a procurar produtos locais para tornar as bebidas mais baratas para os consumidores. Isto está combinado com o crescimento econômico da classe média e o apetite da mesma por novos sabores e ingredientes.
Um exemplo disso é a quinoa – um grão típico dos Andes, que devido à grande demanda global – por ter se tornado moda – está em falta em vários lugares. A chia – uma semente da Guatemala que adquiriu fama como a “semente que emagrece” – , também outro ingrediente da “moda”, passou a ser usada em vários produtos. O suco de caju passará a ser vendido em 2015 sob o nome de Tropicana, substituindo sucos mais caros como o de maçã, abacaxi e banana. A expectativa da empresa é que a produção possa se tornar global.
A Pepsi acredita que, pelo fato de o suco ser considerado “exótico”, ele pode se tornar um produto premium. Os agricultores indianos estão perplexos com o interesse da Pepsi na polpa do caju. Enquanto a castanha é um fenômeno mundial, a polpa é quase sempre descartada. O Brasil é o maior consumidor da polpa, porém o país processa apenas 12% anualmente por causa do desafio da sua pouca durabilidade. Na Tailândia, o suco é promovido como uma “bebida dos deuses”. O suco é exaltado por possuir vitamina “C”, além de outros “mitos” como a queima de gordura e a melhora da performance sexual.
A Pepsi passou a prestar atenção na fruta no Brasil, que já produz água de coco para a empresa, quando um produtor de caju apresentou a fruta para os pesquisadores da empresa. Um dos desafios do caju é sua rápida fermentação. Para aprimorar o processamento da polpa, a empresa teve ajuda da Clinton Foundation, que manifestou
interesse em ajudar pequenos produtores agrícolas. A fundação já colabora com pequenos produtores na Etiópia e no México.
Senar de olho no mercado
Os portugueses levaram o caju para a Índia no século XVI, para a região de Goa. Atualmente, a Índia é uma das maiores produtoras mundiais e 70% da produção do país é feita por pequenos produtores. A venda da fruta nos últimos tempos tem aumentado a renda familiar dos pequenos produtores, que ainda parecem ser céticos a respeito das intenções da Pepsi e da súbita valorização do produto.
No Mato Grosso do Sul, Pedro Gomes, Coxim e Três Lagoas se destacam na produção, com profissionais interessados e de olho no mercado. O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) vem capacitando futuros plantadores de caju, com atenção especial para Sidrolândia. É conveniente acompanhar a evolução do mercado da polpa de caju prometido pela Pepsi.
Quem não souber fazer contas com a soja colherá pedras
A visita do Ministro da Agricultura, Neri Geller, a Dourados serviu como estímulo para aquela que será a maior preocupação do sojicultor - as contas. Acabou a época da fartura. Acabou a era da falta de planejamento. As eleições estão na reta final e os discursos e falsas promessas cessarão. Os grandes cuidados da fazenda passam a ser tomados nos computadores. Já não bastam ter as melhores máquinas, as melhores terras, sementes "supersônicas" e inseticidas que matam até a larva que nascerá daqui a 20 anos.
Qual o custo que terá com insumos e mão-de-obra? A resposta mais ouvida no evento era: entre 15% e 20% maior que na safra passada. Caso a conta esteja correta, será nesse intervalo de 5% que estará a possibilidade maior de lucro. Um dos itens mais preocupantes passa a ser a compra de dinheiro. Ainda que custe pouco, tal prática deve ser muito bem estudada. O outro é a quantidade de fertilizantes e defensivos. Quem não exercer uma fiscalização severa para combater o desperdício dos insumos verá escorrer com as chuvas, não apenas esses insumos, mas o lucro.
O otimismo do Ministro da Agricultura, aventando a hipótese de melhores preços para a soja do Brasil, é apenas "profissão de fé". Por enquanto, não existem dados que
corroborem essa esperança. Com toda a clareza - a receita da soja será menor que no ano anterior. A única alternativa é tomar todos os cuidados possíveis com as despesas. Ou então a colheita será de pedras.
Safra 2014/2015 irá para portos em caminhões “chipados”
Após anos de más notícias, a situação melhorou no principal eixo de escoamento de grãos do Centro-Oeste. Mudam presidentes, trocam ministros, novos e ambiciosos projetos surgem para substituir os anteriores. Promessas esquecidas são renovadas. A boa notícia é que o cenário de caos vivido no passado, quando as cenas das quilométricas filas de caminhões correram o mundo, não se repetiu até agora.
O grande diferencial está no agendamento, determinado pela presidenta Dilma, para a descarga dos caminhões nos portos. A fiscalização do agendamento começou em fevereiro, desde o local de origem das cargas. Fiscais da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) registram o fluxo de veículos agendados e não agendados em 5 postos de controle nas divisas de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e São Paulo.
Em fevereiro, outra agência do governo federal, a ANTAQ – Agência Nacional de Transportes Aquaviários – publicou uma resolução definindo multas pelo descumprimento do agendamento. Cada caminhão não agendado rende multa de R$ 1.000,00 ao terminal portuário de destino. Em caso de reincidência, o valor dobra.
Duas ações governamentais, fiscalização e multa bastaram para corrigir o caos das estradas próximas aos portos. Em fevereiro, apenas 50% dos caminhões cumpriam o agendamento, hoje, ele se aproxima dos 100%. Antes, a utilização dos portos aos domingos era um terço do normal, aos sábados não chegava a 40%. Os portos ficavam abarrotados nos dias da semana e quase vazios nos finais de semana. Hoje, todos os sete dias da semana estão com percentuais que se aproximam dos 100% de utilização, mas não ultrapassam a capacidade plena de utilização portuária. O máximo de eficiência para a capacidade existente.
Para a próxima safra, está prevista a instalação de um chip nos caminhões que seguem para o porto. Serão acompanhados desde a origem através de antenas instaladas ao longo do percurso, para agilizar e dar segurança o transporte da safra. Ponto favorável para o governo federal.
A nova visão da Sociedade Rural Brasileira
Desde fevereiro, a Sociedade Rural Brasileira (SRB) tem novo presidente. Gustavo Diniz Junqueira, 42 anos, foi eleito pelo Conselho Superior da entidade para comandá-la no período de 2014-2017. O pleito também renovou parte do Conselho e da Diretoria Executiva. Novos ventos e novos líderes.
Junqueira tem vínculo familiar histórico com a agricultura e é formado em administração de empresas. Mestre em finanças pela Thunderbird School of Management dos Estados Unidos e trilhou carreira sólida na área financeira. Segundo Junqueria, está mais do que na hora do setor acentuar a sua participação nas discussões dos mais relevantes temas da agenda pública nacional – segurança, saúde e educação. Ele diz que o setor precisa de logística, de uma estrutura de financiamento que pense no futuro. Diz que o financiamento cresceu muito nos últimos anos mas, não acredita que o país tenha condições de dobrá-lo.
Pensa que há falta de foco. “Não podemos olhar o mercado apenas sob a ótica da produção, senão ficaremos com mentalidade de hippie, que fica fazendo a pulseirinha sem saber para quem vai vender”. “Temos de discutir a questão da segurança alimentar. Estamos sempre nos organizando sob a ótica da produção: açúcar e álcool, soja, milho, pecuária. Tenho pensado que talvez isso esteja ultrapassado. Temos de olhar com a ótica do consumo. O que meu cliente final busca? Será que não devemos olhar as cadeias do agronegócio à luz do consumidor?”
“Agricultura é um estilo de vida”
Outra afirmativa do Junqueira poderá criar polêmica: “Vejo erros, por exemplo, das lideranças que colocam o agronegócio como o salvador da pátria. Não existe país sem uma indústria forte, sem uma área de serviços fortes. As atividades são ligadas. Temos de passar essa fase de autoafirmação”. Ele também acredita em estilo de vida ao dizer que hoje, o que mais se vê nas propagandas são as grandes colheitadeiras, em campos imensos, mas os seres humanos não se comunicam com máquinas. Os norte-americanos colocam em suas propagandas uma família e um estilo de vida. “Agricultura é um estilo de vida”.
Bancos públicos venderão créditos podres
Para os bancos, crédito podre é aquele com atraso de mais de 180 dias. A prática comum nos bancos privados encontra dificuldades nos públicos devido ao entendimento segundo o qual tal prática exigiria licitação. Havia, porque deixou de existir, pelo menos para o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. O BNDES continuará "ortodoxo": licitará sua carteira de podres.
Os bancos públicos passaram a entender que basta uma aprovação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a concorrência de vários interessados pelos podres para atender a legalidade da operação. Com a desaceleração da economia e do ritmo de venda de dinheiro, o peso das operações de crédito vencidas, podres, crescerá sobre o total da carteira dos bancos.