Sapiens, a espécie que triunfou graças às avós
As grandes civilizações foram construídas se organizando contra os instintos familiares. Os chineses, há milênios, criaram um sistema objetivo para selecionar seus funcionários públicos de maneira que não colocassem seus familiares dentro do governo. O combate ao nepotismo, ainda que novo no Brasil, é mais velho que Matusalém. O mundo cristão proibiu o matrimônio aos clérigos com intenções similares. Os turcos otomanos, outra potência gigantesca, formaram uma elite administrativa formada por escravos estrangeiros que não podiam transmitir seus poderes - e fortunas - a seus filhos. Tudo foi feito para bloquear o impulso universal de antepor os interesses familiares aos do povo. Mas foram experiências limitadas.
O instinto familiar está muito arraigado.
Esses esforços tiveram êxito limitado. Padres e bispos tiveram filhos e os colocaram no poder eclesiástico. Os jenízaros, a elite administrativa turca, revogou a lei e colocou seus filhos no comando. A família sempre consegue vencer. Esse instinto está muito arraigado no sapiens.
Somos dependentes no útero e fora dele.
As crianças tem um potencial imenso, mas para desenvolvê-lo requer cuidados intensos e prolongados, que com frequência, supera a capacidade dos pais. Somos dependentes durante anos, dentro do útero e fora dele. Isso incentivou algumas características típicas da espécie. Recentemente, a Universidade de Havard publicou um longo trabalho demonstrando a necessidade de um bom estado físico dos avós para auxiliar a criação dos netos. As avós humanas são uma raridade, além delas, só as baleias conseguem ter longos anos de vida depois da menopausa. O motivo? Ajudar a criar os netos.
Tanzânia, Canadá e Finlândia comprovam.
A chamada "hipótese da avó" se desenvolveu à partir da observação das mulheres idosas do norte da Tanzânia. Elas são muito produtivas, recolhem alimentos que dividem com suas filhas. Essa generosidade favorece que as filhas lhes deem mais netos. O Canadá e a Finlândia corroboraram a hipótese. Em Quebec, ficou comprovado que as mulheres que viviam na mesma localidade que suas mães, tinham, em média, 1,75 filhos a mais que suas irmãs que viviam distantes. Na Finlândia, o resultado da pesquisa foi igual, desde que a avó tivesse menos de 75 anos. A evolução humana favoreceu quem tinha avó.