Sem riqueza e sem sexo. A criação do dízimo e do celibato
A história da renúncia à riqueza arranca com a conversão ao cristianismo de Constantino, no início do século quarto depois de Cristo. E será sedimentada no século V, considerado o início da Idade Media, quando se gestou o que chamamos de "Ocidente". É uma época de opulência, uma "belle époque", da Antiguidade. Mas a renúncia à riqueza, também é outra anomalia da sociedade romana. Não são anomalias o culto aos combates de gladiadores e ao imperador da vez, aquele que doava trigo aos pobres? As quatro grandes anomalias romanas - pão e circo, e sem riqueza e sem sexo - continuam sendo copiadas.
"Amor aos pobres". A parábola fez-se realidade.
Por que um dia os ricos decidiram desprender-se de seus bens e deram lugar à acumulação original que cimenta o imenso poder econômico - e espiritual - da igreja? Ao contrário da parábola cristã - "pelo buraco da agulha" - os ricos entraram na igreja guiados pelo "amor aos pobres", predicada pela segunda leva de pais da igreja: Agostinho, Ambrosio, Jerônimo e Paulino de Nola. Inicialmente, os historiadores , pensavam que as assombrosas doações cristãs seriam uma variante do "evergetismo romano".
O evergetismo era um costume arraigado.
Na Antiguidade Romana, a doação à comunidade de bens, propriedades ou de espetáculos. como as lutas de gladiadores, por parte de cidadão beneméritos, era um costume arraigado. Tinha uma forma desinteressada, mas, em verdade, buscavam a auto-promoção, a aquisição de um status que não conseguiriam pela política ou pelas armas.
Da Terra para o céu.
Há uma diferença essencial entre o evergetismo e as doações cristãs. O gesto do evergeta servia para sua glória mundana. A renúncia à riqueza cristã, pelo contrário, tentava consumar uma gigantesca transferência de riqueza, da Terra para o céu. É uma época em que as pessoas acreditavam firmemente que bastava doar suas riquezas para a igreja que conquistariam um lugar no paraíso. Além das doações de toda as riquezas familiares, entrou na moda uma doação à prestação: o dízimo.
Adiós sexo.
O celibato também é dessa época. A renúncia sexual, ao contrário da renúncia à riqueza, já estava entranhada nas classes dominantes romanas. A "ataraxia dos estoicos" - a apatia, a indiferença de todas as emoções, alcançada pela prática da virtude - ganhou os costumes civilizados dos ricos romanos... e só deles. A abstinência ao sexo não surge no Quarto Concilio de Latrão, em 1215, como entendido por muitos, já era corrente na igreja da Antiguidade Romana.