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Em Pauta

Sexo, hormônios e pílula. A maior revolução no final do século XX

Mário Sérgio Lorenzetto | 01/10/2021 06:30
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Existem milhares de drogas disponíveis, mas só uma é conhecida universalmente como "a Pílula". É uma droga estranha. Não alivia sintomas, como os analgésicos, nem salva vidas, como o antibiótico. Mas seu impacto cultural não teve similar. A Pílula revolucionou os hábitos sociais, abriu uma vasta gama de oportunidades para as mulheres - muito além de praticamente qualquer outro remédio - mudou o nosso mundo.


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Antes da Pílula.

Muitos povos, antes da Pílula, tentaram romper ligação entre fazer sexo e ter filhos. Na China antiga, as mulheres bebiam soluções de chumbo e mercúrio para tentar impedir a gravidez. Na Grécia, sementes de romã eram usadas como anticoncepcional, pratica ligada à deusa Perséfone, que comeu uma semente de romã e criou os meses inférteis do inverno. Na Roma de Plínio o velho, um dos maiores eruditos, receitavam introduzir parasitos da cabeça de aranha em uma pele de cervo. Esse saquinho deveria ser amarrado no braço da mulher. Na Idade Media, penduravam testículos de doninha nas coxas - quase exterminaram esses bichinhos. Também usavam grinaldas de ervas - hoje, só sobraram as de flores. Usavam sangue menstrual para criar poções. E caminhavam três vezes ao redor de onde uma loba grávida houvesse urinado. A gravidez era o começo da responsabilidade doméstica.


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Saco no pênis.

Os homens não ficavam atrás. Eram equipados com formas iniciais de camisinhas. Profiláticos nem um pouco confiáveis, eram feitos de acordo com o tecido da região. Na China, eram de seda. Em boa parte da Europa, de linho. Mas também havia as pré-camisinhas de intestino picado de ovelhas. No dia do casamento, eram amarrados ao redor do pênis com fitinhas coloridas. Tal como as grinaldas, só serviam para a estética.


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O avô da Pílula suicidou.

Durante séculos, nada aconteceu nas ciências. O primeiro grande momento da Pílula só viria com Ludwig Haberlandt, um austríaco, magro e bigodudo. Ele deu os primeiros passos na descoberta dos hormônios. Nos anos 1920. era sabido que durante  a gravidez, uma mulher não engravidava de novo até que desse à luz. Ela ficava temporariamente estéril. Parava de ovular. Haberlandt descobriu que  podia fazer isso no laboratório, sem a gravidez, ao transplantar pedaços de ovários das grávidas. Esses pedaços de ovário pareciam liberar algo. Haberlandt achou que fosse um hormônio - que impedia a ovulação. Chegou ou se aproximou muito da Pílula. Mas era um homem à frente de seu tempo. Recebeu uma tempestade de críticas. Foi acusado de crimes contra nascituros. Foi pego na cruzada dos moralistas de plantão. Um ano depois, Haberlandt, o avô da Pílula, se suicidou.


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A turma da Pílula.

Mas veio a guerra. O negócio era fazer filhos e não impedir a gravidez. Um dos poucos que continuaram as pesquisas hormonais foi Gregory Pincus. Fundou um grupo de pesquisa privado, a Worcester Foundation, em Massachusetts, em 1944. Pincus associou-se ao chinês Min Chueh Chang, ambos fascinados pelos hormônios que interferiam na ovulação. Receberam muito dinheiro de Margaret Sanger, uma ativista que lutava pelo direito ao voto feminino. Margaret conseguiu ainda mais dinheiro com Katharine McCormick, outra ativista. Ambas estavam na faixa dos setenta anos, acreditavam que as mulheres, e não os homens, deveriam decidir se e quando engravidariam. Após intensas lutas, criaram a Pílula. Mas nada seria fácil. Nos primeiros tempos, quem desse uma Pílula, iria para a prisão por cinco anos.

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