Sucrilhos da Kellog's para acabar com a masturbação
Andy Wharol surpreendeu o mundo apresentando uma lata de sopa como obra de arte. A partir daquele momento, o valor estético seria uma nova propriedade das mercadorias. O mundo deixou de comprar um ótimo produto embalado em um saco feio. E o artista continuou sua pregação. Apareceram o ketchup da marca Heinze, A esponja Brillo e as caixas de sucrilhos da Kellogg's. Todos foram protótipos wharolianos. Mas o conteúdo das caixas da Kellogg's, e seu inventor, são ainda mais incríveis.
"Boa alimentação e abstinência sexual determinam a saúde".
Quando o médico John Harvey Kellogg tinha pouco mais de 20 anos, em uma de suas viagens à Europa, descobriu as virtudes do iogurte. A longevidade dos trabalhadores rurais búlgaros o levou a prestar atenção na fermentação bacteriana do leite e, consequentemente, a tudo que estava relacionado com a saúde intestinal. Para o médico, tudo era uma questão de "encanamentos". Lançou a ideia de que para termos uma ótima saúde só dependia de dois fatores: "boa alimentação e abstinência sexual".
Coma sucrilhos e acabe com a masturbação.
Para o doutor Kellog a energia do corpo estava sendo desperdiçada em atos impuros. Com tais parâmetros, doutor Kellog patenteou seus famosos sucrilhos no ano de 1895. A preparação dos sucrilhos foi descoberta por casualidade ao cozinhar grãos de milho e, depois, levá-los ao forno após convertê-los em papa.
Segundo Kellog uma dieta branda com seus sucrilhos, não só ajudava a digestão, mas também reduzia a libido e, com isso, o "feio costume masturbatório". Condicionado pela fé religiosa, o doutor Kellog converteria a ciência em um dogma para a venda de produtos. A gigantesca indústria da busca da saúde através da alimentação, nasce do desejo fanático de combater a masturbação.
Sanitarium de Kellog: é proibido ter relações sexuais.
As terapias do doutor Kellog tiveram, em seu tempo, um alto risco de infâmia coletiva. No balneário que fundou, e que batizaria com o nome de Sanitarium, separava todos os homens das mulheres, inclusive os casados. Para ele, todos somos escravos dos desejos sexuais e precisamos nos libertar. E iam além. Os rapazes e moças tinham amarradas as mãos e os obrigavam a colocar cinturões de castidade. As chaves ficavam com o doutor. Outra ideia "genial" do doutor era para acabar de vez com o onanismo. Conforme Kellog, só havia uma solução: fazer circuncisão, retirar a pele que cobre a ponta do pênis. E para piorar, a dita cirurgia não podia ser feita usando anestesia. Assim, dizia Kellog, o paciente se lembraria sempre da dor quando desejasse uma mulher.
Einstein: o deus de Kellog era castrador.
Apesar dos exageros do doutor Kellog, suas terapias gozaram de êxito gigantesco. Seu centro de saúde esteve lotado de pacientes até a crise financeira de 1929. O crash da bolsa os expulsou de seu paraíso puritano. Einstein dizia que o deus do doutor Kellog era puritano e castrador.
Quando a ciência se converte em dogma e a arte em uma mera mercadoria, ambas cabem em uma caixa de cereais. Patéticas.