Taxa do lixo: até Churchill assumiu que estava errado
Um dos momentos mais belos da literatura universal relata a história de uma mudança de opinião. Pertence à "Ilíada", o texto fundacional de nossa cultura. O grego Aquiles mata em combate o herói troiano Heitor e não sepultura ao cadáver. Ajudado pelos deuses, o pai de Heitor e rei de Tróia, Príamo, consegue escapulir da cidade assediada para ir ao acampamento grego de Aquiles com a intenção de convencer o herói furioso que lhe permita enterrar dignamente seu filho. Aquiles, finalmente, cede. Pouco antes, quando os deuses contemplavam Aquiles arrastando o cadáver do inimigo vencido, Apolo exclamava: "Maldito Aquiles, que não têm mente sensata, nem juízo flexível, e que só conhece ferocidades". Até os deuses consideravam o juízo flexível, a capacidade para mudar de opinião, uma virtude e não um defeito.
Mudar de opinião é uma atitude vista muitas vezes como um problema, quase como uma traição aos princípios, quando na realidade a história nos demonstra que, como no caso da velha peleja descrita por Homero, é uma virtude.
Um filme recente nos mostra outro desses momentos cruciais. Se trata do "Instante Mais Escuro", que relata as primeiras semanas de Winston Churchill como primeiro ministro da Grã Bretanha, no princípio da II Guerra Mundial. Os nazistas avançavam a toda velocidade pela Europa, ocupando país atrás de país. As tropas britânicas estavam presas em Dunkerque. Churchill, que até então não era o mítico líder, e sim um político incômodo até para seu próprio partido, que já havia tomado uma decisão desastrosa na I Guerra Mundial - Galípoli - devia decidir se negociava com Hitler. Perante a magnitude do desastre britânico e europeu, decidiu negociar... só para mudar de opinião em pouco tempo.
Aqueles que não mudam de opinião nunca mudam nada. Marcos Trad admitiu o erro cometido no lançamento da taxa de lixo. Mudou de opinião. Constatemos no novo carnê a ser lançado.
Inglaterra: deputado propõe que desempregados sejam esterilizados.
O deputado conservador Ben Bradley, vice presidente do partido da Primeira Ministra Theresa May, causou perplexidade e furor na Inglaterra. Seu plano é levar todos os desempregados aos hospitais para serem esterilizados. O deputado afirma que "o país se afogaria em um vasto mar de derrotados desempregados" caso continuem a ter filhos e receberem o sustento do governo. Criou um escândalo sem precedentes. A Inglaterra têm um programa de ajuda social muito mais complexo e rico que o Bolsa Família brasileiro. O máximo que uma família de desempregados, com dez filhos, podem receber é de R$9.500 mensais. Até a intervenção de Ben Bradley, o debate no Congresso Britânico dizia respeito a esse limite.
Sozinho em casa, até o último suspiro.
Antes era algo muito esporádico. Agora é frequente. Cada vez mais. A morte na solidão. A imensa maioria é de idosos que a morte os surpreendeu em sua casa. Não tiveram tempo para reagir ou pedir ajuda. Alguns poderiam ser salvos se tivessem recebido auxílio.
Essas mortes são consequência das mudanças na estrutura familiar e na evolução demográfica. Fazem com que, cada vez mais, existiam longevos, sem que os serviços sociais e de saúde tenham crescido o suficiente para atendê-los minimamente. Eles ainda não descobriram sua força política, ainda votam em jovens que oferecem pautas ligadas apenas aos de sua geração. Esse fenômeno, da morte solitária, também é uma mudança do estilo de vida mais individualista e mais estressado, que faz com que ninguém imiscua na vida de ninguém. Por outro lado, ninguém ajuda os solitários e tampouco faz companhia.
O caso mais recente é o da empresa de cobrança que foi atrás de um devedor. Encontraram o homem mumificado. Estava morto há quatro anos. Ninguém havia dado falta, nem mesmo sua filha. Tampouco os vizinhos. Pensavam que tinha falecido em algum hospital.
O desejo de independência e de autonomia são características nucleares da cultura do século XXI. Enquanto tudo vai bem, inclusive com a saúde, poder viver de forma autônoma é algo sem dúvida muito positivo. O problema é como adequar as estruturas sociais a um modelo que faz com que muitos idosos fiquem sós justo quando perdem a saúde.
Para muitos dos idosos, o mais doloroso da velhice não são as doenças. É a solidão. No Brasil há mais de 27 milhões de idosos. Algo como 12 milhões - 44% - vivem sozinhos. Alguns milhões sofrem de depressão sem tristeza. Apatia, redução de contato social e negativismo são as marcas. Os governos não lhes possibilitam assistência alguma. A metade dos 27 milhões vivem em situação de pobreza, e bem sabemos, os pobres são mais vulneráveis e têm pior saúde. Como tratar da solidão?