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Em Pauta

Taxa do lixo: o bode subiu no telhado da prefeitura

Mário Sérgio Lorenzetto | 20/01/2018 09:09
Taxa do lixo: o bode subiu no telhado da prefeitura

A cidade continua respirando a taxa de lixo. Procuram um culpado, talvez um criminoso que tenha lançado mais de 200 mil carnês com erros propositais. Talvez encontrem o bode que fuçou e transformou em lixo os carnês que continham a taxa famigerada. Mas só há um culpado nessa desorganização?

Não é crível que exista um ou mais culpados. O erro é conceitual. Tudo começou quando prefeitura e câmara de vereadores resolveram retirar de suas responsabilidades de lançamento essa taxa e realocá-la na empresa de saneamento.

Qual a motivação para essa mudança de endereço? A primeira é aproveitar a baixa inadimplência que existe no pagamento da taxa de água que seria levada, automaticamente, para a taxa do lixo. A segunda é bem explícita: promover aumentos da taxa do lixo sem receber a crítica esperada.

A seguir, foram aos microfones prometer aumentos na taxa para o empresariado que produzisse maior volume de lixo e em contrapartida, a periferia da cidade teria uma redução na cobrança da taxa.

O conceito expresso nesta coluna foi usado e abusado: "quem produz mais lixo, paga para que ele seja levado a seu destino final". Até esse momento somente o empresariado se indispôs com a taxa. A população viu com boa vontade a mudança.

Todavia, havia uma dinamite escondida: não eram apenas as empresas que produzem muito lixo que seriam afetadas, criaram o conceito de quem vive em bairro de classe média ou alta, teria de pagar mais, muito mais. Uma parcela crescente da cidade começou a criticar a mudança.

Mas não era "apenas" uma dinamite que se escondia no carnê do IPTU, era uma bomba atômica: aproximadamente 98% da população foi atingida pelos aumentos abusivos da taxa de lixo. Isso não é erro de um ou de alguns, é erro conceitual.

Procuram reduzir o rombo existente nos cofres da prefeitura com a taxa de lixo. Gênios eles, parvos todos nós. Só conseguiram aumentar as despesas com confecção de novos carnês e sua postagem. Talvez aprendam que o carnê do IPTU é o mais antipático e indesejado dentre todos que recebemos. O IPTU é, universalmente, o mais odiado dos impostos.

Não se pode esconder que a questão do lixo é preocupante. Não só em Campo Grande, mas no planeta. Também não se pode construir discurso fácil de que as soluções são simplistas. São complexas, de difícil execução e demoradas.

Caso desejem resolver o problema do lixo e não apenas do cofre falido terão de buscar alternativas existentes em outros países. Não há alternativa brasileira a ser copiada. A mais famosa, praticada por alguns anos em Curitiba, era apenas um engodo eleitoral.

O princípio deve ser o de quem produz mais lixo deve pagar mais por sua coleta, mas não basta. Há de criar um sistema onde a população participe selecionando o lixo e vendendo o que é reaproveitável. O bode subiu no telhado. Bode não sabe viver em telhado. Para onde irá o famigerado bode?

Taxa do lixo: o bode subiu no telhado da prefeitura
Taxa do lixo: o bode subiu no telhado da prefeitura

Sucesso é resultado de talento, trabalho árduo ou sorte?

Em primeiro lugar, a sorte de nascer. Isso sem mencionar a sorte de ter nascido em um país razoavelmente rico, ao invés de, digamos, em uma casta inferior na Índia ou na Síria devastada pela guerra. A sorte de ter pais amorosos que nos criaram em um lugar seguro e em um ambiente saudável e que nos deram uma educação de boa qualidade.

A sorte de frequentar uma faculdade onde passamos por professores bons ou inspiradores, e em seguida, ao encontrar um trabalho bem remunerado. A sorte de nascer em um raro momento da história de paz mundial. Não há dúvida, a sorte é um dos caminhos para o sucesso.

E quanto a inteligência e trabalho árduo? Certamente são tão importantes quanto a sorte. Mas décadas de dados de genética nos dizem que pelo menos metade da inteligência é hereditária, portanto, está, também, relacionada à sorte.

Os componentes não genéticos da aptidão, do escrúpulo, e da ambição também são importantes, claro, mas a maioria das variáveis culturais foram fornecidos por outras pessoas ou por circunstâncias fora de nosso potencial criativo. Se acordamos pela manhã cheios de força e vigor, voando porta afora para o mundo, não escolhemos ser assim.

Há, também, o problema das pessoas superinteligentes, criativas e trabalhadoras que nunca prosperam, então, obviamente, existem fatores adicionais que determinam o resultado do sucesso, como a má sorte. E as más escolhas.

Se os dados cósmicos rolaram a nosso favor, como devemos nos sentir? Orgulho modesto por um trabalho árduo não é vício, mas arrogância orgulhosa por ter boa sorte não é virtude. então, devemos cultivar a gratidão.

Taxa do lixo: o bode subiu no telhado da prefeitura

O Frango do Dia Depois de Amanhã.

Era 1945. A Guerra Mundial chegava ao fim. O apelo às armas estava sendo trocado pelo apelo às asas. Chegara a hora de uma nova competição: "O Frango do Amanhã". O objetivo desse desafio era criar, adivinhou, um frango grande. Um frango muito grande.

Nessa época, o peso médio de um frango no abate era de 1,13 quilo. O vencedor foi Charles Vantress, dos Estados Unidos. Conseguiu uma ave que, 86 dias depois da incubação, pesava 0,45 quilos a mais do que a ave padrão. E quase meio kg de carne multiplicado por milhões de frangos equivalia a um monte de dólares.

Ninguém se preocupou em fazer um concurso do Frango do Dia Depois de Amanhã. As aves produzidas em massa, nos dias atuais, podem pesar 2,72 kg. E chega a isso em apenas 47 dias.

Esse crescimento acelerado, ao contrário do mito dos hormônios, é resultado de uma combinação de contínuos experimentos de criação com o uso generalizado de estimuladores de crescimento - vitaminas e, em especial, antibióticos. É bem mais grave do que a historieta dos hormônios.

O bioquímico Thomas Jukes, do Lederle Laboratories, descobriu que frangos que comiam ração fortificada com antibióticos realmente aumentavam de peso. Produtores também passaram a lotar os viveiros com galinhas sem precisar temer tanto as doenças infecciosas graças a essa medicação premeditada.

O boom na criação de animais ocorreu apesar dos alertas para os riscos do uso excessivo de antibióticos e da resistência à esse medicamento que foram feitos pelo próprio descobridor da penicilina, Alexander Fleming. Mas a euforia econômica convenceu a maior parte do agronegócio a dar pouca ou nenhuma atenção à resistência dos antibióticos.

As mudanças - acrescentem as genéticas - contribuíram para a explosão dos frangos. Em 1909, foram vendidos 154 milhões de frangos. Atualmente, o número ultrapassou a casa dos 9 bilhões. Isso só nos EUA.

O grosso dos antibióticos do mundo - cerca de 80% - vai para animais. É estarrecedor. Como muitas dos antibióticos também são usados para combater infecções humanas, bactérias que surgem nas fazendas continuam ameaçando nossa saúde cada vez com potencial maior de morte.

Mas um acontecimento quase de tirar o fôlego está em curso. A Perdue Farms anunciou que sua empresa parou de usar antibióticos e ainda assim conseguiu aumentar os lucros. Mostrou que os antibióticos como estimuladores do crescimento perderam o vigor.

Poucos meses depois, a cadeia de fast-food Chick-fil-A aderiu a esse novo conceito. Suas aves estão livres de antibióticos. McDonald´s, Subway, Walmart a seguiram. Mas ainda há bilhões de galinhas ciscando pela terra com antibióticos. Sabemos onde isso vai dar.

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