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Em Pauta

Todos na boleia do caminhão

Mário Sérgio Lorenzetto | 28/05/2018 07:58
Todos na boleia do caminhão

Não há setor da economia brasileira que não tenha subido na boleia do caminhão. Todos pegaram carona. Não é apenas um locaute como diz o governo, uma greve de donos de caminhões, é muito mais amplo. Estão na boleia: industriais, fazendeiros, comerciantes, motociclistas, uberistas... a fila de interessados é mais longa que fila de abastecimento em posto de combustível. Já venceram. Com o apoio da população, querem tudo. Eram 14 pontos na pauta inicial de reivindicações, agora são tantas quanto as estrelas no céu. Repetem-se as "Jornadas de Junho de 2013", de uma pauta de redução de passagens de ônibus para um "Brasil Ideal", algo difuso, de difícil leitura, mas que significa em suas profundezas mais recônditas, "estamos de saco cheio com todos os políticos e as políticas de todos os governantes".

Todos na boleia do caminhão

Do Nordeste petista, ao Centro-Oeste tucano: pensavam que o movimento era contra o Temer...

Os governadores contemplavam, de longe, a erupção do vulcão caminhoneiro. "As lavas não chegarão até nós", sonhavam. Também agiram como se tivessem pedras nas mãos e nenhum telhado de cristal, críticas exacerbas ao governo de Brasília pipocavam nos jornais. As lavas foram se aproximando. Cada vez mais perto da porta de seus palácios. Voaram estrelinhas petistas no Nordeste, cortaram bicos longos no Centro-Oeste. Começaram a entregar os anéis... antes de serem torrados. Só um governador soube fazer a leitura correta do vulcão. O governador de São Paulo, único socialista, "pero no mucho", que não está sob o comando das estrelas dos nordestinos petistas, saiu à frente: entregou ICMS, IPVA e pedágio. O movimento dos caminhoneiros em São Paulo refluiu, perdeu força, o governador Márcio França tornou-se o centro do debate nacional, aspirou para dentro de seu Estado as aspirações dos brasileiros. Foi o único que entendeu que o vulcão estava soltando labaredas contra todos os políticos do país. Sairá maior e mais forte da explosão.

Todos na boleia do caminhão

Quem paga a conta das conquistas dos caminhoneiros?

O saldo das conquistas dos caminhoneiros é bastante simples: patrões e caminhoneiros autônomos saem ganhando, moradores da periferia pagam a conta. Ainda que comecem a surgir números da conta, a verdade é uma só: ninguém sabe o tamanho do rombo na economia, os números que estão na imprensa são apenas elucubrações, distantes da verdade. Em primeiro lugar, é impossível que o país tenha o crescimento de seu PIB como era esperado. Os sonhados 2,5% a 3,0% de crescimento geral da economia foram para o ar. Como conta complementar, os aliados prioritários dos caminhoneiros - motociclistas e uberistas - saem com as mãos abanando. Eles não movimentam a economia. Não há força para discutir no país, o preço da gasolina... pelo menos no momento. Para tristeza geral dos proprietários de automóveis e motos abastecidos com gasolina e álcool, só é visível no cenário a retirada dos aumentos diários de todos os combustíveis, serão quinzenais ou mensais. E nada mais. A variável forte na economia é o diesel, os demais combustíveis só produzem impacto no mau humor geral da população e não nos números. Esperem por piora geral nos atendimentos dos postos de saúde, escolas e policias.

Todos na boleia do caminhão

Sai caminhoneiro de direita, entra petroleiro petista.

No prisma ideológico quem ganha é a aspiração pela volta à ditadura militar. Novamente, os militares só não estão no poder porque não querem, aprenderam que, a médio prazo, saem perdendo. As faixas, cartazes e mensagens no WhatsApp não deixam margem a dúvida, o movimento encabeçado pelos caminhoneiros autônomos - com os caronistas-patrões - é, no mínimo, oposicionista a todos os políticos e partidos "que estão aí". Para eles, o desencanto com a democracia, tornou-se paixão.
Novo vulcão começa a rugir:os petroleiros içam suas bandeiras vermelhas. "Só patrões ganharão com o movimento dos caminhoneiros autônomos?", perguntam-se os trabalhadores na produção e refino dos combustíveis. Marcaram uma greve parcial para quarta-feira. Paralisarão a produção de combustíveis por três dias. A pauta é eminentemente política-ideológica, querem a volta da Petrobras-Mamãezinha de petistas e seus aliados. Preparem-se. Vale repetir: preparem-se, se os estoques de combustíveis estão altos devido à greve dos caminhoneiros, logo mais, não existirá uma só gota de diesel ou de gasolina.

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