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Manoel Afonso

Quociente eleitoral: o fantasma dos candidatos

Manoel Afonso | 23/09/2022 08:45

NO PAREDÃO: Já se questiona o futuro da senadora Soraya Thronicke (União Brasil) pela volatilidade de sua base eleitoral e devido as suas críticas ácidas ao presidente Bolsonaro. Eleita com o slogan ‘a senadora do Bolsonaro’- ignora as pesquisas no Mato Grosso do Sul e seu desempenho (pífio) na corrida presidencial. Os seus ex-eleitores irão perdoá-la pela traição?

A PRECAVIDA:  Ao TSE Soraya declarou ter guardado em sua casa nada menos que R$ 250 mil em grana viva. Sobre o fato (legal), em entrevista recente à Folha de São Paulo, alegou que a iniciativa visa suportar as despesas domésticas de manutenção familiar e eventuais emergências. Convenhamos: prática rara, pouco recomendável em época eleitoral e de tanta violência, dando margem a comentários desgastantes.

1-FOLCLORE: Governador de Pernambuco, Agamenon Magalhães (1893/52), visitava o interior e numa casa pediu água para a moradora. Incontinenti ela pediu ao filho: “Agamenon traga água para a visita”. O garoto trouxe a água e despertou a curiosidade do político que indagou: “O nome de seu filho é homenagem a alguém? ”. Ela respondeu: “ Não sinhô. É que uns tempos pra cá ele danou a roubar que só vendo”.

2-FOLCLORE: Após invadir Quijingue (BA) Lampião distribuiu dinheiro ao povo e patrocinou um baile público. Em 1923, ele chegou sem avisar a Nazaré do Pico (PE) para impedir o casamento da sua prima Maria L. Ferreira, sua paixão de infância. Mas foi convencido pelo padre e acabou indo embora sem criar confusão. Impôs uma condição: ninguém poderia dançar após o casório.

VIVO OU VIVA?: Economista, o deputado Paulo Duarte (PSB) denunciou a manobra da Vivo que não repassa aos clientes o valor correspondente a redução havida do ICMS. Foi tiro e queda. Após a denúncia ao MPF, a Anatel já determinou a devolução do valor excedente em dobro aos clientes e aplicação de multa. Na próxima fatura os clientes já sentirão a diferença e os efeitos da denúncia.

MESMICE: Chegada a hora em que os argumentos dos candidatos nos debates (combinados?) e nas entrevistas se tornam demasiadamente repetitivos, sem o cuidado de se evitar os mesmos chavões. Outro ponto questionável: as críticas e promessas genéricas de resolver diferentes problemas, mas sem qualquer embasamento técnico e financeiro.   É o velho 'chutômetro’!

POBREZA: Se os jingles têm sido ponto alto nas campanhas em outros estados, dando popularidade a candidatos, como é o caso do Tiririca parodiando Roberto Carlos (‘O Portão’), aqui não se investe neste tipo de mídia inteligente. Até aqui a propaganda nas redes sociais é chula, apelativa, escrota.  Falta criatividade e sobra agressividade.

VISIONÁRIO: Após visitar a Feira Internacional de Chicago em 1893, Delmiro Gouveia construiu em Recife o primeiro shopping center da América Latina (incendiado por adversários). Em Paulo Afonso (AL) (1916) construiu a primeira hidrelétrica do país e na cidade de Pedra criou uma fábrica de linhas de costura. Morto ‘misteriosamente’ a tiros em 1917, a empresa foi comprada pela Machine Cotton (concorrente inglesa) que destruiu as maquinas jogando-as no Rio São Francisco. O jogo é bruto!

INFORME-1: Pelo sistema proporcional os votos vão primeiro para os partidos ou federação, e depois para os candidatos. Conta-se os votos do partido e depois calcula-se quantos serão eleitos em cada sigla e quem serão eleitos. Candidatos com o equivalente mínimo de 10% do quociente eleitoral podem ser beneficiados com as ‘sobras’ de votos de candidatos (do partido ou federação) que superaram o quociente eleitoral.

INFORME-2: Com a reforma eleitoral participarão do rateio das sobras só os partidos e federações que obtiveram pelo menos 80% do quociente eleitoral e pelos candidatos que tenham obtido votos em número igual ou superior a 20% desse quociente. A medida veio corrigir distorções. Em 2010, um candidato a deputado federal se elegeu com apenas 200 votos graças a grande votação do Dr. Enéas.

INFORME-3: Em MS no ano de 2018, o comparecimento do eleitorado foi de 78,78% (1.478.842 eleitores) e 10,42% (195.635) de brancos/nulos para deputado estadual. Votos válidos – 1.283.007 – equivalente a 68,35%. Portanto o quociente eleitoral (dividindo 1.283.007 votos válidos pelo número (24) de vagas) foi de 53.458 votos. A tendência é que nestas eleições o quociente seja maior.

INFORME-4: Naquela eleição para deputado federal, o número de votos em branco e nulos chegou a 12,71% - totalizando 238.615 votos inutilizados. Foram 42.980 votos a mais desperdiçados em comparação com os votos brancos/nulos para deputado estadual. Mostra que o eleitor prioriza os candidatos a Assembleia Legislativa. O quociente eleitoral foi de 155.003 votos.

HERÓI: Sabia? O general recifense Abreu de Lima começou sua trajetória na Revolução Praieira (1817) contra Portugal; fugiu para os ‘States’ e de lá para a Venezuela juntando-se a Simon Bolívar. Entre 1819 e 1830 cruzaram a Amazônia de canoa e venceram a Cordilheira dos Andes, libertando o Equador, Colômbia, Venezuela, Peru, Panamá e Bolívia. Defendeu a abolição dos escravos e a reforma agrária. Condecorado chegou a general por bravura e merecimento.

NEBULOSO: A reclamação de centrais do comando de campanhas ao Governo do Estado é que os números de algumas pesquisas – se comparados minuciosamente – seriam controversos e acabam influenciando e confundindo os eleitores, passando inclusive uma imagem de descrédito.  As decisões da Justiça Eleitoral em suspender publicações botam lenha na fogueira.

DR. PEDRO CASTILHO: “A legislação, infelizmente precisa ser atualizada, no formato atual permite que pesquisas fraudulentas sejam divulgadas anteriormente à apresentação de documentos que permitam o controle de legalidade de lisura do resultado. Mesmo com decisões judiciais contrárias, a pesquisa acaba sendo veiculada e não dá para controlar totalmente a internet. O certo seria os institutos apresentarem os dados antes de poderem divulgar. Mas a lei permite a divulgação anterior à apresentação dos dados. Portanto, quando a pesquisa cai o estrago já está feito”.

UMA FIGURA!: Cruz Cabugá, personagem de proa na revolução emancipacionista (anti-Portugal) de 1817 em Pernambuco. Foi ao exterior tentar recrutar Napoleão Bonaparte para lutar com os pernambucanos contra Portugal, mas o resgate na ilha de Santa Helena furou e os seus soldados mercenários acabaram capturados. Para não ser preso ficou na América do Norte até receber o perdão real em 1821.

BEM ATUAL: Em 1933 Noel Rosa compôs “Onde está a honestidade?” que merece ser lembrada: “Você tem palacete reluzente/ Tem joias e criados à vontade/ Sem ter nenhuma herança nem parente/ Só anda de automóvel na cidade/ E o povo já pergunta com maldade/ Onde está a honestidade?/ O seu dinheiro nasce de repente/ E embora não se saiba se é verdade/ Você acha nas ruas diariamente/ Anéis, dinheiro e até felicidade/ E o povo já pergunta com maldade/ Onde está a honestidade?”.

‘CUIDADO’: A música de Eduardo Costa também retrata o país: “E agora não adianta ficar bravo/ É Deus por nós e cada por si/ Pode parar com o choro e mi,mi,mi/ Vendeu/  Trocou os hospitais pelos estádios/ E agora estádios viram hospitais/ Você trocou Jesus por Barrabás/ Sem mais/ Cuidado que eles passam/ Só de 4 em 4 anos/ E o resto desse tempo/ Eles ficam planejando/ A festa, o pão, o circo/ Feriado e o carnaval/ Depois o povo morre/ Em corredor do hospital/ Cuidado/ Vendeu o voto e a alma pro diabo..(-)”.

PÍLULAS DIGITAIS:

Aviso importante: Quem ainda não brigou com amigos e familiares por causa de política, essa é a última semana! Aproveite!

A política é a arte de impedir as pessoas de participar de assuntos que são do seu interesse. (Paul Valéry)

O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade. (Umberto Eco)

Um milhão de pessoas no funeral da rainha e nenhum flanelinha, vendedor de cerveja, espetinho, água, cachaça ou pão de queijo.

O novo (rss...rss) rei da Inglaterra parece ter problema com canetas. E foi casar logo com uma Parker. (Nelson Padrella)

Quando acabou aquele velório teve-se a impressão de que o morto ficou mais aliviado (Stanislaw Ponte Preta)

Tudo que não invento é falso. (Manoel de Barros)

PONTO FINAL:

 Onde está a vida que perdemos vivendo?

 Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento?

 Onde está o conhecimento que perdemos na informação? (T.S. Eliot)

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