Vício em telas e o impacto nas relações sociais de crianças
Muitas crianças e adolescentes estão se adaptando a nova lei federal que não permite o uso do celular nas escolas, nem mesmo no intervalo, e toda essa mudança tem gerado muitas discussões entre os educadores, psicólogos e pais.
A tecnologia tornou-se uma parte indispensável da vida moderna, e as inevitáveis telas, sejam de smartphones, tablets, computadores ou televisores, estão cada vez mais presentes no cotidiano de crianças e adolescentes. Embora esses dispositivos ofereçam benefícios, como acesso à informação e facilidade de comunicação, o uso excessivo tem gerado preocupações, especialmente em relação ao vício em telas e seus impactos nas relações sociais. Esse fenômeno pode afetar não apenas a dinâmica familiar, mas também a capacidade de interação social fora de casa, comprometendo o desenvolvimento saudável dos jovens.
Em qualquer lugar é comum observar crianças e adolescentes imersos em seus dispositivos, muitas vezes ignorando a presença de pais e irmãos. Esse comportamento de modo exacerbado, pode sim levar ao vício e consequentemente ao distanciamento emocional, uma vez que o tempo dedicado às telas substitui momentos de convivência e diálogo. O vício em telas afeta a capacidade de socialização fora do ambiente doméstico, crianças e adolescentes que passam horas excessivas em frente às telas tendem a desenvolver dificuldades em estabelecer e manter relações interpessoais presenciais.
A comunicação virtual, embora cômoda, não substitui a riqueza das interações face a face, que envolvem expressões faciais, gestos e tom de voz. Os jovens podem se tornar mais introvertidos, ansiosos ou até mesmo desenvolver uma fobia social, uma vez que a exposição constante ao mundo digital os afasta da prática de habilidades sociais essenciais, como empatia, escuta ativa e resolução de conflitos.
Estudos indicam que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos pode levar à redução da capacidade de concentração, à dificuldade de lidar com frustrações e à diminuição da criatividade. Esses fatores, por sua vez, afetam diretamente a forma como crianças e adolescentes se relacionam com os outros. Por exemplo, a falta de paciência e a necessidade de gratificação imediata, características comuns em quem passa muito tempo online, podem dificultar a construção de amizades profundas e duradouras, já que relações reais exigem tempo, esforço e compreensão mútua.
No entanto, é importante ressaltar que a tecnologia em si não é vilã. O problema reside no uso desequilibrado e na falta de orientação. Cabe aos pais e educadores estabelecer limites claros e incentivar atividades que promovam a interação social e o desenvolvimento integral dos jovens. Práticas como esportes, leitura e brincadeiras ao ar livre podem ajudar a equilibrar o tempo gasto com as telas, além de fortalecer vínculos familiares e sociais. Para mitigar esses efeitos, é fundamental adotar uma abordagem equilibrada, afinal, as relações sociais são pilares essenciais para o desenvolvimento emocional e social saudável, e não devem ser substituídas pela ilusão de conexão proporcionada pelas telas.
(*) Lia Rodrigues Alcaraz é psicóloga formada pela UCDB (2011), especialista em orientação analítica (2015) e neuropsicóloga em formação (2024). Trabalha como psicóloga clínica na Cassems e em consultório.
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