De sucata, flores surgem da parceria ambiental entre Blink e Luis Pedro Scalise

Quanto pesa uma escultura feita a partir de sucatas encontradas em ferros-velhos e depósitos de entulhos? As que foram criadas pelo multiartista Luis Pedro Scalise têm, na balança, 400 quilos. No significado, porém, cabe o infinito de possibilidades nos vasos de flores de metal, coloridas em tons fortes, de três metros de altura. Criadas em parceria com o projeto Blink Sustentável, elas ficam em exposição até o próximo dia 9 de novembro, no Shopping Bosque dos Ipês, em Campo Grande.

Quando a criatividade sustentável ganha fôlego, vale até substituir um dos cinco "Rs" das letras que simbolizam os conceitos do uso racional de resíduos: repensar, reduzir, recusar, reutilizar e reciclar. Na hora de batizar a mostra, o “repensar” foi substituído por “Reflorescer”: ou seja, dar nova vida para aquilo antigamente chamado de lixo, palavra proibida no contexto atual para quem lida com preservação ambiental. A regra é: nada é inservível, e quase tudo pode ser reaproveitado. 

Prova clara disso são as dez peças expostas, formadas por um mosaico que vai de resto de carro a corrente de bicicleta. As inspirações para o trabalho foram telas já em produção por Scalise, todas florais, parte delas exibidas nos totens onde estão as esculturas. “Todas são uma releitura das minhas telas em formato 3D. Cada peça é um vaso florido que pode ser usado em jardim, hall de entrada e grandes recepções”, comenta.

Nas palavras do artista plástico, o desejo é utilizar-se do papel fundamental da arte na vida do ser humano para influenciar cada um que olha para as obras e vê, através da beleza, o quanto ela pode ser transformadora. “A arte é essencial, ela pode dar um upgrade na vida”, sugere.

Além das belas imagens das obras em metal reaproveitado, a exposição oferece ainda informação, ou seja, pacote completo para uma nova consciência ambiental. É possível saber, por exemplo, como fazer o reúso de sobras da construção civil. 

“Exemplo vivo” - O arquiteto, catarinense radicado em Campo Grande há décadas, trabalha para o mundo, acostumado a fazer projetos que vão da decoração à cenografia e à moda.  Na empreitada do momento, viveu na prática, em situação aparentemente prosaica, o poder da influência da produção artística.

Ao buscar material, ouviu de um trabalhador a certeza da mudança de perspectiva do dia a dia. “Ele me disse que em casa, as pessoas diziam que ele trabalhava num lixão de ferro”, relatou. Depois de passar a ajudar no recolhimento da obra-prima para as esculturas, a definição foi outra.

“Contou que agora, trabalha num canteiro para peças de obras de arte”, repete o multiartista, com o olhar emocionado e parando a cada palavra para reforçar o impacto sentido. Não mudou apenas a autoimagem da personagem da vida real citada por Scalise. O funcionário do ferro-velho decidiu, do jeito dele, replicar o conceito de criar a arte a partir da sucata e fez um caminhãozinho de metal.  

Sustentabilidade – A ideia da exposição, conta o diretor da Rádio Blink, Alex Bachega, surgiu durante ida a um ferro-velho junto com Scalise, parceiro de iniciativas da empresa. Bachega observa que incentivar o uso responsável dos recursos naturais, consumindo e gerando menos resíduos, já é uma prática da emissora há vários anos. Tanto que desde a primeira sede, na rua Bahia, um jacaré estilizado, criado com todo tipo de material descartado por ouvintes, era o maior destaque do lugar.

Toda terça-feira, a emissora também abre as portas para receber material descartado passível de reciclagem. “Eu digo que pretendemos ser um pequeno vagalume verde na escuridão do planeta”, afirma Bachega, usando a linguagem poética para falar das ações de consciência ambiental.

Para ele, o momento da humanidade pede isso. “Só através da força criativa, vamos enfrentar todas as crises”.

Encontro de conceitos – Superintendente do Shopping Bosque dos Ipês, Adriana Flores avalia a exposição como a continuidade da coincidência que é um dos princípios aplicados desde a construção do empreendimento, dono de certificações internacionais na área ambiental. “São conceitos que se conversam”, observa.

Na visão dela, a arte produzida por Scalise em exposição na Praça Central do centro comercial permite “um novo olhar para o lixo”.

Além do público frequentador do espaço, vão ser organizadas idas de estudantes, considerados um público importantíssimo para multiplicar os ensinamentos da chamada economia circular, cuja aplicação na vida de cada um é justamente evitar o máximo possível o retorno para a natureza do que é descartado pelo homem.

Como ver: De 23 de outubro até dia 10 de novembro está aberta, a exposição "Reflorescer" que é gratuita e ocorre na Praça Central do Bosque dos Ipês. A chegada mais fácil é pelo "acesso A" do estabelecimento. O horário é de 10h às 22h, todos os dias.