Alta nos preços faz mães largarem "mistura" para garantir leite das crianças
Em abril, Campo Grande foi a 3ª cidade do País com maior alta na inflação
Conforme a inflação avança, os itens do dia a dia ficam mais caros e isso tem feito com que mães tenham de decidir entre a "mistura" - quase sempre uma proteína animal - e o leite das crianças, já que a capital sul-mato-grossense registrou a 3ª maior alta do País.
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em abril deste ano, em Campo Grande, ficou em (1,21%), empatado com Belém e Brasília, ficando atrás somente do Rio de Janeiro (1,39%) e Aracaju (1,36%).
Para a cuidadora de idosos, Marina da Silva, de 41 anos, que tem duas crianças em casa, a missão de levar comida para a mesa e garantir que o leite não falte nas mamadeiras tem sido um grande malabarismo. "Antes, eu pagava de R$ 5 a R$ 6 em uma caixinha de leite, agora, pago R$ 7. O nosso poder de compra está diminuindo muito e quando vamos no mercado, temos que escolher: o dia que compra carne, não compramos ovos e o dia que compramos ovos, é preciso deixar outra coisa. Tem que priorizar", considera Marina.
Apesar de já ter tentado substituir o leite por outra bebida, a fim de dar aquela pequena aliviada na lista de compras, ela conta que os pequenos não aceitam e não há outra saída a não ser tirar outros itens do carrinho. "Quando vamos dar chá, eles não querem, até porque o leite sustenta mais. É aquela coisa, deixa de comprar a carne, mas não deixa de comprar o leite, não dá mais nem para fazer compra, lá em casa, a gente vai rodando os mercados e vendo onde tá mais barato e, cada dia, compramos num lugar diferente", revela.
Quem também está sentindo na pele a alta desenfreada da inflação é a Jéssica Benites, de 34 anos. Ela tem dois filhos pequenos, uma de colo e outro que ainda mama no peito, e conta que já fez várias manobras diferentes. Mas agora, para não deixar a pequena sem leite, ela diminuiu o consumo para sobrar mais para a filha.
"Antes, eu tomava de manhã e à noite. Agora, tomo menos e a saída que encontrei foi comprar o leite em pó, já que acho mais barato em alguns mercados. Além disso, outra opção lá em casa foi alterar os pratos, estamos comendo mais frango. A gente faz compra para o mês e toda vez que vamos ao mercado na semana, são R$ 100 que ficam lá. Não tem condições", lamenta.
Ainda segundo relatório do IBGE, dos nove grupos de produtos e serviços, oito tiveram alta de preços em abril na Capital. O grupo alimentação e bebidas (2,02%) teve o maior impacto na cesta básica. E não é só para quem vai ao mercado que a situação está delicada.
Iara Conceição Guimarães, de 33 anos, que vive com o marido e os seis filhos na favela Só Por Deus, em Campo Grande, relata que fazer compra é um episódio fora da realidade para sua família. Após o parto do sexto filho, ela teve um problema na coluna e ficou completamente impossibilitada de trabalhar. A única fonte de renda vem do marido, que trabalha com reciclagem.
"A gente se vira no pouco que tem, até alguém vir ajudar a gente. Hoje, eu só tenho um pouco de arroz, feijão e um umas fraldas. Até pedi uma fralda para a vizinha. Quando acaba, a gente vai procurar comida no lixo", conta.
Os produtos que mais encareceram foram a batata-inglesa (40,08%), que apresentou aumento em relação ao mês anterior (0,94%); leite longa vida (7,23%) e cereais, leguminosas e oleaginosas (4,47%). Nas baixas, ganham destaque o mamão (-23,01%), a melancia (-12,26%) e o repolho (-3,85%).