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Economia

Com a picanha custando até R$ 55, preço da carne assusta consumidor

Luciana Brazil | 07/05/2014 15:33
Preço sobe, mas consumidores continuam comprando. (Fotos; Marcos Ermínio)
Preço sobe, mas consumidores continuam comprando. (Fotos; Marcos Ermínio)
Letir confirma aumento, mas diz que compreende o mercado. (Fotos; Marcos Ermínio)
Letir confirma aumento, mas diz que compreende o mercado. (Fotos; Marcos Ermínio)

Poucas vezes antes na "história do churrasco", iguaria de todo fim de semana em Mato Grosso do Sul,  a carne esteve tão cara. O preço dos cortes mais nobres, como picanha, variam muito de um estabelecimento para outro e podem ser encontrados a valores próximos de R$ 55,00 para o quilo do produto. Apesar do preço salgado, o consumidor carnívoro não reduz as compras.

O preço da carne, que sempre sobe em dezembro, consequência da grande demanda, costuma recuar logo nos primeiros meses do ano. Porém, isso não aconteceu e o valor se estabilizou em alta.

Mesmo com a permanência da alta, os clientes continuaram comprando, garantiu o comerciante Ovídeo Falavigna, 37 anos, dono do Mercado Arapongas, na Vila Margarida, em Campo Grande. Segundo ele, muitas mudanças fizeram com que a tarifa se mantivesse acima do esperado para a época.

“Isso é reflexo de um conjunto de coisas. Há dois anos, mataram muitas matrizes (vacas reprodutoras), mas isso só começou a refletir agora e, por isso, não está tendo gado. As usinas, a soja, as plantações de eucalipto, isso também contribuiu para a escassez do animal e está afetando o mercado”, justificou.

Um longo um período de “negatividade” no mercado, estreitou os lucros dos produtores de gado, como explica o economista Júlio Brissac. Diante deste cenário, o produtor percebeu outras formas de aumentar a receita. Muitos arrendaram as terras, outros partiram para a agricultura e teve até quem vendeu as fazendas, segundo Júlio. “O volume de produtores de gado gordo diminuiu muito”, frisou.

Na análise do economista, que engrossa o discurso do comerciante, a postura dos pecuaristas resultou também na venda de muitas matrizes. “Para partir para outro negócio, o produtor precisa liquidar o produto e foi o que eles fizeram, e foram vendendo as matrizes”, disse Júlio.

O empresário acredita que agora o preço não deve baixar. (Fotos; Marcos Ermínio)
O empresário acredita que agora o preço não deve baixar. (Fotos; Marcos Ermínio)

Atraídos pelos rendimentos, que chegam a ser até seis vezes mais que na pecuária, produtores passaram a investir no cultivo de florestas, principalmente de eucaliptos. Conforme dados divulgados em 2012 pela Reflore- MS (Associação de Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas), em nove anos, a área plantada de eucaliptos pulou de 90 mil para cerca de 580 mil hectares. As indústrias de celulose também impulsionam o mercado deste cultivo.

“Nós éramos o primeiro Estado no Brasil em número de gados. Hoje, já somos o quinto. E não sei como será daqui para frente. Agora, eu acredito que esse preço não baixe mais”, acredita Ovídeo.

O ano atípico no país, por causa da Copa do Mundo, vai refletir em mais dois meses de forte demanda, lembra o economista. “Além de dezembro, mês em que a demanda é espetacular -por causa das comemorações de fim de ano- teremos mais dois meses de grande procura por causa da Copa”.

Empresários não acreditam que o preço da carne volte a recuar e alguns até apostam em um pequeno aumento nesta semana, por causa do Dia das Mães.

"Em novembro eu vendia o quilo da picanha por R$ 24,90. Hoje, o quilo sai por R$ 33,50. Aquele preço do ano passado não volta mais. Além disso, acho que a carne deve subir nessa semana, com o Dia das Mães. Mas essa alta deve ser passageira", disse o comerciante Luiz Silveira, 39 anos.

Silveira ressalva também a estabilidade do consumo. "É incrível, mas independente do preço, as pessoas continuam comprando". Ele lembra também que o preço da carne tem subido gradativamente. "Há seis anos, eu vendia o coxão mole por R$ 5,89. Hoje, a mesma carne, estou vendendo por R$ 17,90", lembrou Silveira.

Supermercados apostam em promoções específicas para atrair os clientes.

“Nos dias de promoção o preço fica mais acessível, mas não fica barato. Nesse país nada é barato. A inflação é galopante. Tudo sobe. O Brasil nunca vai ser um país sério”, se revoltou o aposentado Paulo Arcanjo, 70 anos.
Para ele, que compra com frequência, a carne está mais cara. “A gente continua comprando, mas não sei até quando”.

Acostumada a adquirir muita carne de uma só vez, a técnica em laboratório, Letir Ferreira de Vasconcelos, 68 anos, faz questão de ressaltar que a elevação do preço também depende outros setores. “O sal está caro, os produtos para cuidar do gado estão caros e a mão de obra do peão também”.

Há pouco tempo, Letir e o filho tocam uma pequena fazenda no município de Camapuã, o que justifica suas ressalvas. “O preço está alto. De dois meses pra cá, acho que estou sentindo mais caro”, disse ela com seis peças de lagartos e cinco quilos de coxão duro.

“Eu levo toda essa carne para fazenda. Compro a cada dois meses e levo pro meu filho que fica lá”, explica.

Preços- Em caso de cortes nobres, como picanha, filé mignon e alcatra, os preços variam muito de um estabelecimento para outro. O quilo da picanha chega a variar R$ 22,00, dependendo do local. Em um mercado no bairro Tiradentes o quilo da picanha custa R$ 33,50. Já na loja especializada, na Avenida Mato Grosso, o valor chega a R$ 54,98.

Conforme os locais percorridos pela reportagem do Campo Grande News, o quilo do filé  mignon apresenta diferença de quase R$ 14,00, sendo vendido por R$ 46,85 o quilo, na loja especializada, e R$ 33,60, no mercado de bairro.

Para justificar as diferenças, as boutiques de carne garantem que a qualidade e a limpeza são o ponto forte.

De dezembro a abril, a costela foi o corte que mais apresentou variação de preço, com alta de 40,58%, segundo os dados do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) divulgados pela Anhanguera Uniderp. O músculo ficou em segundo lugar na variação, de 9,27 para 15,53%.  O fígado foi o único corte que sofreu deflação. 

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