Como não gastar com gasolina: veja dicas de quem vendeu carro e vai de bike
MS tem 69% da população acima do peso e cada vez mais gente procurando pedalar por economia e saúde
Antes de tudo, é preciso saber que o negócio é viciante. Quem largou de gastar com combustível e vai de bicicleta ao trabalho não se arrepende. Com o litro da gasolina a R$ 6,30, tem cada vez mais gente indo às lojas à procura de uma bike razoável para mudar a rotina, em Campo Grande. Quem já até vendeu o carro, conta tudo o que alguém precisa saber para tomar coragem e assumir a bicicleta como meio de transporte. Além de economizar, eles chegam mais rápido ao driblar o horário de pico da Capital, que tem 611 mil veículos nas ruas.
São R$ 600 economizados por mês, no caso da médica veterinária Noirce Lopes, de 55 anos, sem falar nos gastos que tinha com seguro e manutenção, antes de vender o carro.
“Tive que vender, pois realmente tinha que economizar. Usei carro emprestado e esse ano, tomei a decisão de ir pedalando ao trabalho. Foi a minha salvação. Pois não há reajuste salarial. Então, tive que reajustar minha forma de viver a vida. Só tive ganhos com isso”, conta.
Em 20 minutos, Noirce faz dez quilômetros de casa ao trabalho, da Vila Sobrinho ao Bairro Pioneiros. Ela conta que uma colega, que trabalha no mesmo local, também já resolveu ir de bike por conta do valor do combustível. “Fico feliz por motivar as pessoas a pedalarem. Não é só economia, é um ganho para a saúde”, comenta a veterinária.
A bike também é mais econômica que a moto e não é só isso. Dá para economizar até tempo, porque o trânsito está cada vez mais lento na Capital.
Fazendo 30 quilômetros todos os dias, o porteiro Sérgio Messias Lima de Oliveira, de 38 anos, conta quanto gastou para comprar uma bike usada e deixar a moto de lado na hora de ir ao serviço, no turno da noite.
“Paguei R$ 1,2 mil, mas agora, já estou pensando em trocar, porque tem sido muito bom. Economizo mais de R$ 300 de gasolina, por mês. Só preciso sair um pouco mais cedo, tomo banho lá no serviço e na volta, ainda dou um passeio, às vezes, que é melhor do que ir dormir. Para mim, além da economia, é uma terapia, pois já vivi crises de ansiedade”, revela.
No Centro, o proprietário da loja Colmick Bike, Valter Colman, relata que as pessoas ficam cada vez mais interessadas na bicicleta com os sucessivos aumentos do preço da gasolina. “Todos os dias, vem gente perguntando qual é a melhor bike para usar no dia a dia e largar o carro. Tenho uns seis clientes que trabalham aqui ao lado e já fizeram isso”, comenta Valter, que também não tem carro e usa a bike para tudo.
Para começar- Valter explica que a bike também tem seus custos com manutenção, mas a economia com o combustível e os benefícios para a saúde fazem a troca valer a pena. Para começar, ele recomenda uma bike com 24 marchas, freio hidráulico e rodas de qualidade. “Suspensão e banco é questão de conforto. Não é essencial”, detalha.
Quem quer uma bike para passear, pode gastar em torno de R$ 1,7 mil a 2,5 mil, mas para quem quer usar todos os dias, ele recomenda modelos que hoje saem por R$ 3,6 mil.
“Você pode começar com o que tem, porém se investir mais, terá mais qualidade para não ficar na rua por causa de algum problema mecânico. Hoje, dá para parcelar em até dez vezes o preço da bike. Então, vale muito a pena frente a economia que você vai ter com a gasolina”, opina.
Na onda da bike - Com a demanda aumentando, a fabricação de bicicletas subiu muito em 2017 e atingiu o auge em 2019, quando mais de 919 mil bikes foram produzidas no PIM (Polo Industrial de Manaus), segundo a Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares).
Houve uma queda com o início da pandemia, mas o setor já se recupera neste ano. A produção aumentou 13,1% em agosto, em comparação com o mesmo mês do ano passado, passando de 63,9 mil para 72,2 mil. A expectativa da Abraciclo é o País fechar 2021 com fabricação de 850 mil bicicletas, o que significa alta de 27% em relação a 2020.
Kit sobrevivência - Para o trajeto ser tranquilo, é bom aprender a trocar pneu, caso fure. Com a prática, é algo simples e que não leva mais que 15 minutos.
"O pneu fura quando já está ficando velho. Com a troca em dia, é bem difícil furar", diz Valter, que também é mecânico de bicicletas.
Muitas lojas oferecem cursos. É importante ter em mãos uma bomba, que custa em torno de R$ 70; uma câmara reserva, que sai por R$ 45; um lubrificante, de R$ 40 e uma espátula para remover o pneu, que sai por uns R$ 15. Quem pechincha, encontra preços menores na Capital.
“Aqui temos workshop gratuito para quem está começando. Resolvemos dar o treinamento, porque tem cada vez mais pessoas com esse perfil nos procurando. Depois de aprender tudo, elas têm mais coragem para pedalar no dia a dia”, comenta Valter.
O que não muda do carro para a bike é a necessidade de manutenção, alerta Valter.
“Se for andar todos os dias, tem que estar revisando preventivamente a cada três ou seis meses, mas cuidando direitinho, minimiza os custos. É preciso trocar a corrente, os pneus e pastilhas de freio quando ficam desgastados. Você terá pequenos gastos com manutenção, mas tem que lembrar que não gasta mais com gasolina”, comenta Valter.
Segurança - Mesmo que o percurso seja curto, quem vai de bike tem que usar os equipamentos de segurança. Capacete, luvas e luzes são essenciais. "A primeira coisa que a pessoa faz quando para, é usar as mãos para encostar em algo e no caso de cair também, então, tem que estar de luvas", recomenda Valter.
Erro comum de iniciantes é andar na contramão. "Não pode. Na mão certa, é mais segurança para você e luzes na frente e atrás, à noite, são essenciais para que os condutores te vejam de longe e evitem acidentes.
Saúde - "São pequenos detalhes e depois que você se organiza, viram rotina e fica algo muito simples. Eu só uso bike e recomendo. É saúde, além de tudo. Usando para se deslocar, você já está fazendo um exercício diário, o que para muitas pessoas é essencial", lembra Valter.
Em Mato Grosso do Sul, sete em cada dez pessoas estão com excesso de peso, segundo levantamento divulgado pela SES (Secretaria de Estado de Saúde) neste mês. São 1,9 milhão de habitantes nessa situação, o que representa 69,3% da população. "A bike ajuda a manter a forma, é só ganho para a saúde. Amo pedalar!", comenta Noirce.