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Economia

Efeito dominó: "crise dos chips" afeta bolha onde só 10% têm seguro de carro

De 1,6 milhão de veículos, 173 mil têm seguro, segundo última pesquisa da Superintendência de Seguros Privados

Caroline Maldonado | 05/12/2021 09:54
Carros novos em concessionária da Capital. (Foto: Henrique Kawaminami)
Carros novos em concessionária da Capital. (Foto: Henrique Kawaminami)

É o "efeito dominó". Na pandemia, a “crise dos chips” – que faz faltar componentes eletrônicos para veículos no mundo todo – acabou com o estoque de carros novos e impactou o de seminovos. O mercado de seguros privados também foi atingido dentro da sua “pequena bolha”, em que atende apenas cerca de 10% da frota em Mato Grosso do Sul. Em 2019, havia 1,6 milhão de veículos rodando no Estado. Desses, apenas pouco mais de 173 mil eram segurados, segundo o último levantamento da Susep (Superintendência de Seguros Privados), órgão do Ministério da Economia.

Os números não incluem o DPVAT (Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre), que é obrigatório. A superintendência não tem como informar a quantidade de veículos segurados neste ano, em função das prorrogações de prazo concedidas por conta da pandemia e implantação de novo sistema de recepção de dados, mas informou os valores contabilizados pelo setor.

Queda - Em 2019, as seguradoras arrecadaram um total de R$ 283,6 milhões em MS, entre janeiro e setembro. O valor caiu para R$ 264,6 milhões, no mesmo período de 2020. A queda no crescimento real dessas empresas foi de 9,34%, nesse acumulado de um ano para o outro.

Apesar dos veículos ainda estarem saindo “a conta gotas” das concessionárias, o setor de seguros já começa a sinalizar recuperação. O crescimento é de 3,87%, com faturamento de R$ 295,4 milhões, entre janeiro e setembro de 2021.

Alguns corretores ainda sentem falta daqueles novos clientes com carro zero e há até quem reclame de queda de 30% na renovação de seguros. Trabalhando com corretagem de seguros há 31 anos na Capital, Éder Cristaldo sentiu que o impacto maior veio neste ano.

Corretor de seguros Éder Cristaldo atendendo cliente em escritório, na Capital. (Foto: Kísie Ainoã)
Corretor de seguros Éder Cristaldo atendendo cliente em escritório, na Capital. (Foto: Kísie Ainoã)

“No ano passado, com o início da pandemia, o mercado não teve queda, mas um ano depois, em março de 2021 começou a ter queda de 30% na minha percepção. Muita gente não conseguiu renovar o seguro, porque não estava ganhando dinheiro com a queda na economia”, lamenta.

O corretor conta que os mais “fiéis ao seguro” são aqueles que já passaram por algum acidente. “Os que já usaram sabem da necessidade de ter um seguro. Então, entre esses, a maioria renova, porque tem consciência e sabe que pode acontecer algum acidente”, explica.

Preços - Quem tem seguro já sabe: os homens mais jovens e solteiros não têm como escapar de pagar mais. Segundo o corretor, para um carro popular, como o Volkswagen Gol, por exemplo, o proprietário paga em torno de R$ 2,8 mil para ter o carro segurado por um ano. Uma mulher casada pode conseguir o seguro para o mesmo carro por cerca de R$ 2,2 mil.

A corretora Telma França não percebeu queda na renovação de seguros nesse período, mas sente a falta de novos clientes, aqueles que compram carro novo.

“Na minha experiência, o pessoal está renovando normalmente. Tem uma média de 90% de renovação. O que não tem mais é a demanda de seguros novos, porque os carros estão demorando para chegar. Tenho cliente que comprou caminhonete em setembro e está esperando chegar”, avalia.

Telma conta que os preços variam muito em relação ao perfil e a seguradora, mas é notório o aumento de preços de alguns modelos. “No caso das caminhonetes a diesel, o valor do seguro subiu mais. Tem alguns que a alta passa de 10%, mas são modelos específicos. No geral, os preços continuam normais”, diz.

O fim de ano já traz novos ares ao setor, afinal é preciso ter coragem para viajar sem seguro. O corretor Leonardo Lorenzzetti também não percebeu grande impacto no último ano.

Veículos em trecho da BR-163. (Foto: Arquivo/Campo Grande News) 
Veículos em trecho da BR-163. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

“Muitas pessoas já estão pensando nas viagens de férias. As pessoas estão naquela ânsia de querer sair de casa, porque aparentemente as coisas melhoraram em relação à pandemia e aqueles que têm compreensão de que o seguro é uma proteção, estão contratando normalmente", relata.

DPVAT Zero - Quem não faz seguro privado conta com o DPVAT, mesmo sem ter pago nada em 2021. Ocorre que o governo isentou a cobrança, pois já tinha caixa suficiente para cobrir os veículos neste ano.

Foi um pequeno alívio para muita gente, pois o número de inadimplentes do licenciamento havia aumentado em 2020. No ano passado, mais de 527 mil pessoas não pagaram. Isso representa 11% a mais em comparação com os mais de 472 mil, que ficaram inadimplentes em 2019, conforme o Detran (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul).

A isenção veio depois de queda no valor. Em 2020, o DPVAT caiu 68% para carros, passando para R$ 5,23, e 86% para motos, ficando em R$ 12,30. Do valor arrecadado, 50% vão para o pagamento das indenizações, 45% são para o Ministério da Saúde pagar o atendimento médico de vítimas e 5% vão para programas de prevenção de acidentes.

Bilhete de seguro do DPVAT. (Marcello Casal Jr./Agência Brasil) 
Bilhete de seguro do DPVAT. (Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

Cobertura - O DPVAT continua cobrindo morte, invalidez permanente e despesas de assistência médica.

O seguro obrigatório não cobre danos materiais, como roubo, colisão ou incêndio; acidentes ocorridos fora do território nacional; multas, fianças e quaisquer despesas de ações ou processos criminais; além de danos pessoais de radiações ionizantes ou contaminações por radioatividade de qualquer tipo de combustível nuclear ou resíduo de combustão de matéria nuclear.

Em caso de acidente, as indenizações são de R$ 13,5 mil para morte. Para invalidez permanente, pode ser pago até  R$ 13,5 mil e os reembolsos de despesas médicas e hospitalares não passam de R$ 2,7 mil.

Se alguém receber o seguro por invalidez permanente e vir a falecer em função do acidente, os valores não acumulam. Em caso de morte, metade do valor do seguro é pago ao cônjuge e o restante aos herdeiros da vítima. Se não houver esposo ou esposa e filhos, o valor vai para quem provar que dependia financeiramente da vítima.

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