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Economia

Gastos e insegurança nas rodovias deixam MS com deficit de mil caminhoneiros

De acordo com o Setlog-MS, para normalizar o cenário, seria preciso cerca de 5 mil caminhoneiros no Estado

Izabela Cavalcanti | 24/05/2023 10:56
Caminhoneiro José Antônio sentado em um banco, mexendo no celular (Foto: Marcos Maluf)
Caminhoneiro José Antônio sentado em um banco, mexendo no celular (Foto: Marcos Maluf)

O alto custo de se habilitar para dirigir caminhões e a falta de segurança nas rodovias têm deixado Mato Grosso do Sul com deficit de mil profissionais no mercado, que é o número de vagas abertas. É o que avalia o diretor de administração do Setlog-MS (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística de Mato Grosso do Sul), Dorival Oliveira.

Ainda de acordo com ele, para normalizar o cenário, seria preciso cerca de 5 mil caminhoneiros no Estado.

“Aqui no Estado, estamos com uma parceria com o Governo do Estado para formar uma parcela, porém, sabemos que será insuficiente. É complicado a empresa formar o motorista, pois assim que isso acontece, outra empresa contrata por um salário um pouco maior, e aquele que formou acaba ficando sem o profissional”, destacou.

O cenário também é desanimador para quem já trabalha há anos na área. Desvalorização da profissão, salário baixo, preço do diesel e do frete, saudade da família e postos de combustíveis em condições não tão boas são algumas das reclamações.

José Antônio Ferreira, de 64 anos, trabalha como autônomo faz 44 anos. De Londrina, ele conta que carrega de tudo um pouco em seu caminhão, para conseguir fechar as contas no fim do mês.

José Antônio, de 64 anos, esperando em posto de combustível para poder prosseguir a viagem (Foto: Marcos Maluf)
José Antônio, de 64 anos, esperando em posto de combustível para poder prosseguir a viagem (Foto: Marcos Maluf)

Em média, ele gasta pelo menos R$ 30 a cada refeição no dia, ou seja, se for almoçar e jantar, o gasto chega a R$ 70. O café, ele mesmo providencia.

“Já foi melhor, hoje está mais complicado. As coisas estão muito caras. O pessoal quer oferecer qualquer quantia por frete, dá 500 reais e acha que é muito”, disse.

A cada viagem, José diz que é um valor diferente para abastecer, mas gasta em torno de R$ 5 mil a cada viagem que faz.

Everaldo Corpa, de 44 anos, está há 18 anos como caminhoneiro. Ele se diz apaixonado pela profissão e já chegou a ficar 32 dias viajando e um dia apenas em casa.

Mas há 3 meses lembra que tinha tudo para desistir da profissão, quando decidiu trabalhar de carteira assinada para uma empresa e em uma das viagens foi sequestrado por três dias.

“Eu amo de paixão, passo raiva, dor de cabeça, mas gosto. Eu prefiro trabalhar por conta”, disse.

Everaldo Corpa próximo ao seu caminhão, no posto de combustível Caravágio (Foto: Marcos Maluf)
Everaldo Corpa próximo ao seu caminhão, no posto de combustível Caravágio (Foto: Marcos Maluf)

Mesmo apaixonado pela profissão, ele reconhece que a categoria não vive o melhor momento. “Está tudo caro. Fácil de se manter não está. Se eu vejo que a viagem vai beneficiar a empresa eu não vou, tem que ser bom para mim. Tem que jogar para ganhar”, disse Corpa.

Os gastos para ele também ficam na mesma linha dos demais, R$ 70 por dia com refeições, gasto com banho, diesel e manutenção da carreta.

Levando em consideração o diesel a R$ 5,42 em Mato Grosso do Sul, ele gasta por mês 3.500 litros de combustível, que totaliza R$ 18,9 mil.

Carlos Alberto Lima, de 51 anos, é caminhoneiro há 30 anos. Ele trabalha com carga a granel e está de passagem por Campo Grande, vindo de Igarapava, São Paulo.

“A profissão está bem desvalorizada. Salário ruim, falta de apoio, alimentação cara. O salário não acompanha a inflação”, lamentou.

De acordo com ele, por dia, gasta no almoço e no jantar a média de R$ 70, além de precisar pagar por banho, que dependendo do posto cobra de R$ 10 a R$ 15.

Voucher transportador – Para tentar minimizar esses impactos, o Governo do Estado sancionou a Lei nº 6.055, que institui o Programa Estadual de Qualificação Profissional para Motoristas de Veículos de Carga e de Ônibus - Voucher Transportador.

Na prática, serão pagos todos os custos para a qualificação de motoristas que vão trabalhar com transporte de cargas e de passageiros.

Na semana passada, o presidente da Setlog-MS, Cláudio Cavol, disse que 70% das empresas do Estado estão com “deficiência” de caminhoneiros.

“A falta de motoristas traz muita preocupação, principalmente a ausência do pequeno transportador que tem quatro ou cinco caminhões e que acaba, devido à falta de oferta, contratando gente não qualificada. Esse programa, além de ser benéfico à nossa economia, também tem um caráter humanitário, que é a segurança nas nossas estradas”, destacou.

O Sest Senat de Campo Grande pode ser uma boa opção para se aperfeiçoar. Do dia 19 a 25 de junho, das 7h40 às 15h10, tem um curso especializado para condutores de veículos de transporte de carga indivisíveis e outras. A carga horária é de 50 horas.

Será explicado sobre: Legislação de Trânsito; Direção Defensiva; Noções de Primeiros Socorros, Respeito ao Meio Ambiente e Prevenção de Incêndio e Movimentação de Carga. Clique aqui e confira mais informações sobre a qualificação.

Carretas paradas no posto de combustíveis Caravágio, em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)
Carretas paradas no posto de combustíveis Caravágio, em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)


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