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Economia

Jornal dos EUA chama hidrovia Paraguai-Paraná de ‘superautopista de cocaína’

Washington Post destaca papel que o trecho fluvial de mais de 3 mil km desempenha no tráfico para Europa

Por Gabriela Couto | 30/12/2024 13:02
Transporte de carga via hidrovia, no Rio Paraguai, em Corumbá (Foto: Arquivo/Semadesc)
Transporte de carga via hidrovia, no Rio Paraguai, em Corumbá (Foto: Arquivo/Semadesc)

A hidrovia Paraguai-Paraná, um extenso trecho fluvial de mais de 3 mil km que conecta portos da Argentina, Brasil, Bolívia, Paraguai e Uruguai, tem sido descrita por especialistas e agora também pelo The Washington Post como uma rota estratégica para o narcotráfico, especialmente o comércio de cocaína.

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A hidrovia Paraguai-Paraná, crucial para o comércio sul-americano, tornou-se uma rota estratégica para o tráfico de cocaína, especialmente para a Europa. O Washington Post expôs o uso da hidrovia como "superautopista de cocaína", destacando a ineficiência da fiscalização, especialmente no Paraguai, onde a falta de monitoramento aéreo e a sofisticação dos métodos de ocultação de drogas expõem vulnerabilidades. A apreensão de grandes carregamentos de cocaína e uma crise diplomática com os EUA, posteriormente resolvida, ilustram os desafios no combate ao narcotráfico na região, contrastando com planos de modernização da hidrovia para o transporte de mercadorias.

O diário norte-americano realizou uma investigação detalhada sobre o uso dessa via navegável, considerada uma "superautopista de cocaína", destacando o papel crescente que desempenha no tráfico de drogas para a Europa.

Originalmente projetada para ser uma das principais artérias de transporte de mercadorias na América do Sul, conectando aproximadamente 150 portos entre os países da região, a hidrovia tem visto uma transformação em seu uso, conforme os traficantes de drogas se aproveitam da explosão do transporte global de contêineres.

O comércio de cocaína, antes focado em rotas mais tradicionais rumo ao norte, agora encontra no sul da região uma alternativa para exportar grandes quantidades da droga.

De acordo com a investigação do Washington Post, a hidrovia tornou-se uma via crucial para o envio de cocaína para os mercados europeus. A crescente demanda pela droga tem impulsionado o uso dessa rota, com destinos como o Rio da Prata, na Argentina, e portos no Paraguai se tornando pontos de passagem de grandes carregamentos de cocaína.

Um dos exemplos mais notáveis de como a hidrovia tem sido utilizada para o tráfico de drogas ocorreu em julho de 2023, quando uma carga de sementes de gergelim, embarcada no Porto de Assunção, no Paraguai, foi interceptada na Alemanha. O carregamento, que ocultava mais de 500 kg de cocaína, foi descoberto em Hamburgo, na Alemanha, provocando uma forte reação do governo paraguaio.

A apreensão de drogas levou a uma crise política no país. Nove dias antes do embarque da carga, o governo paraguaio havia celebrado a chegada de cinco novos scanners para reforçar a fiscalização nos portos.

Trasporte de containers via Rio Paraguai é um dos principais meios utilizados por traficantes para transportar cocaína (Foto: Arquivo/Semadesc)
Trasporte de containers via Rio Paraguai é um dos principais meios utilizados por traficantes para transportar cocaína (Foto: Arquivo/Semadesc)

A Diretoria Nacional de Alfândegas (DNA), que na época estava sob a responsabilidade de Mario Abdo Benítez, declarou que o Paraguai não seria mais um simples ponto de trânsito para o crime organizado. Contudo, a apreensão na Europa revelou as falhas no sistema de controle, o que foi descrito como um "balde de água fria" para o governo paraguaio, que se viu forçado a rever suas estratégias de combate ao narcotráfico.

Sem fiscalização - Além disso, a falta de infraestrutura para lidar com o crime organizado foi um ponto crítico apontado pela reportagem. O Paraguai, ao contrário de seus vizinhos, possui uma limitada capacidade de monitoramento aéreo, o que facilita a ação dos traficantes, especialmente bolivianos, que transportam cocaína de forma clandestina por vias não regulamentadas. Muitas vezes, as drogas são levadas para pistas de pouso ilegais no norte do país, uma região pouco habitada que se tornou um ponto vulnerável ao tráfico.

Embora o Paraguai tenha investido em scanners para tentar combater o tráfico de drogas, os traficantes têm se tornado cada vez mais engenhosos em ocultar a cocaína. A pesquisa revela que, em um caso recente, em junho de 2023, mais de quatro toneladas de cocaína foram encontradas escondidas em sacos de açúcar, em um contêiner com destino a Antuérpia, na Bélgica.

O mais alarmante é que esse carregamento passou pelos scanners sem ser detectado, evidenciando as limitações das tecnologias de fiscalização e a adaptação dos traficantes para evitar a detecção.

Crise diplomática - O Washington Post também destaca a recente crise diplomática entre o Paraguai e os Estados Unidos, com a suspensão da cooperação entre a Administração para o Controle de Drogas (DEA) e a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) do Paraguai.

Transporte de cereais via hidrovia no Rio Paraguai (Foto: Arquivo/Semadesc)
Transporte de cereais via hidrovia no Rio Paraguai (Foto: Arquivo/Semadesc)

Esse rompimento afetou investigações importantes sobre o tráfico de cocaína e envolveu casos de grande notoriedade, como a busca pelo traficante Sebastián Marset, que supostamente controla parte do narcotráfico ao longo do Rio Paraguai.

A decisão de interromper a colaboração com a DEA gerou polêmica e foi vista por críticos como uma tentativa de proteger figuras políticas paraguaias supostamente ligadas ao tráfico de drogas. No entanto, após a publicação do artigo no Washington Post, o governo paraguaio reverteu sua posição e anunciou que fortaleceria a cooperação com os Estados Unidos, reafirmando seu compromisso no combate ao narcotráfico.

Projeto – Está aberta a consulta pública para a concessão da Hidrovia do Rio Paraguai no Brasil. O governo federal, por meio do Ministério de Portos e Aeroportos, abriu espaço para coletar contribuições e sugestões para o modelo de concessão, que prevê investimentos iniciais de R$ 63,8 milhões e um contrato de 15 anos, prorrogável por igual período.

A iniciativa pretende modernizar a infraestrutura de transporte fluvial e reduzir os custos logísticos no país. O projeto de concessão abrange o Tramo Sul da hidrovia, incluindo o Canal do Tamengo e infraestruturas associadas.

O trecho total a ser concedido tem 600 km de extensão, compreendendo a rota entre Corumbá e a Foz do Rio Apa, no município de Porto Murtinho e o leito do Canal do Tamengo, no trecho compreendido também no município Corumbá. Parte significativa do trajeto faz fronteira com o Paraguai (330 km) e com a Bolívia (48 km).

Para garantir a navegabilidade durante todo o ano, o projeto estabelece um calado de 3 metros durante períodos de cheia e de 2 metros em períodos de seca. As medidas visam assegurar a trafegabilidade contínua das embarcações, mesmo em períodos de estiagem.

Nos primeiros cinco anos de concessão, a empresa vencedora terá que realizar dragagem, derrocagem, sinalização e balizamento adequados, além da construção de um galpão industrial, aquisição de uma draga e a implantação de sistemas de monitoramento hidrológico. Também está prevista a melhoria de travessias e pontos de desmembramento de comboios, além da implantação de sistemas de gestão de tráfego hidroviário.

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