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Economia

Mãe e profissional: quando o impasse dá lugar ao empreendedorismo

Em um mundo fortemente machista, mulheres conseguem contornar as intempéries do mercado

Osvaldo Júnior | 13/05/2018 08:00
Bárbara beijando a filha, Júlia (Foto: Arquivo pessoal)
Bárbara beijando a filha, Júlia (Foto: Arquivo pessoal)

Um gênero e dois papéis: mulher; mãe e profissional. Um obstáculo: sociedade com valores machistas. Um dilema: dedicar tempo maior aos filhos ou continuar trabalhando.

Essas equações tiram o sono de muitas mulheres que se tornam mães ou que já têm filhos. Como ainda é delegada a elas a tarefa de cuidar da casa e como flexibilidade e tolerância não costumam ser características do mercado, chega um momento em que os papéis se chocam: a mãe atropela a trabalhadora; a mulher deixa o emprego. Mas dos destroços dessa colisão, é possível edificar uma empreendedora.

Esse é o desafio do empreendedorismo materno, movimento de ajuda mútua para que mulheres consigam conciliar maternidade e carreira. São mulheres colaborando entre si para dar continuidade, sem muitos transtornos, às rotinas de mães e de profissionais.

Na antessala da virada empreendedora, há histórias com enredos que se repetem: trabalho, gravidez, licença maternidade, retorno à empresa, desligamento do emprego. “Parei de trabalhar quando minha filha nasceu”, conta Luciana Suzuki, 36 anos, extensionista de cílios (profissional que alonga os cílios).

Luciana com o filho Theodoro, um "presente de Deus" (Foto: Lyra)
Luciana com o filho Theodoro, um "presente de Deus" (Foto: Lyra)

Demissão e recomeço – Luciana, mãe de Sofia, de seis, e de Theodoro, de três anos (nomes gregos que significam “sabedoria” e “presente de Deus”, respectivamente), afirma que se sente realizada. Ela abriu recentemente um negócio depois de quase sete anos fora do mercado. “Sou formada em administração e trabalhava como bancária em São Paulo. Saí do emprego em 2011”, conta.

A hoje empreendedora na área de beleza deixou o trabalho por precisar de tempo para cuidar da filha, que estava doente. As faltas, embora justificadas, abalaram o emprego na agência bancária. “Um dia me chamaram no RH e me demitiram”, lembra-se.

Foi depois do nascimento do segundo filho e já morando em Campo Grande que Luciana iniciou o caminho para fazer do empreendedorismo a resposta ao impasse entre ser mãe e ser profissional. “Aqui em Campo Grande comecei a buscar alternativas para voltar a trabalhar, mas na área da administração seria o dia todo em qualquer empresa. Aí não teria tempo para as crianças”, afirmou.

No ano passado, Luciana decidiu, com o incentivo de uma amiga, investir em uma franquia. “Fui a São Paulo fazer um curso e, depois, comecei meu negócio”, resumiu. Ela é uma das empreendedoras do Casa Nuvem, espaço em que mulheres atuam em diferentes empresas, dividindo custos e fazendo investimentos conjuntos.

À frente do próprio negócio, Luciana tem tempo para trabalhar e se dedicar aos filhos. Mas engana-se quem pensa que ser mãe empreendedora é uma panaceia, que todos os problemas relativos a maternidade e carreira estariam sanados. “As dificuldades continuam. Tem dia, por exemplo, que preciso ficar até mais tarde e pedir para outra pessoa pegar as crianças na escola”, afirma.

São nesses contratempos que se manifesta outra importante característica do movimento do empreendedorismo materno: a rede de apoio, isto é, o universo de pessoas, grupos e instituições que ajudam (melhor: entreajudam) mães nas necessidades cotidianas para que continuem e cresçam como empreendedoras.

Mãe e profissional: quando o impasse dá lugar ao empreendedorismo

Jornalista, blogueira e mãe – Nesse mundo de ajudas mútuas, de mulheres que cooperam entre si, está Bárbara Vitoriano, 32 anos, jornalista, blogueira e, sobretudo, mãe da Júlia, de dez, e da Isadora, de quatro anos. Conforme afirma em um de seus blogues, ela “descobriu um mundo totalmente novo depois da maternidade e se apaixonou por ele”. Isso, é claro, não significa que a maternidade seja um “mar de rosas”: ao contrário, o desafio é maior, porque as exigências sociais às mães são mais intensas.

Bárbara, por exemplo, assim como outras mães, vive em um mundo em que o dia não se restringe a 24 horas. Como empreendedora online, ela está à frente de diversos projetos. Em 2012, criou o Indiretas Maternas, com a proposta de tratar de forma leve e divertida sobre maternidade (clique aqui). No ano seguinte, iniciou o blogue Empreender Materno, que faz parte do movimento de empreendedorismo materno (clique aqui).

A jornalista também tem o “Campo Grande com crianças”, blogue com dicas de lugares e eventos para o público infantil e seus familiares (clique aqui). Há, ainda, outros espaços online, onde ela divide as experiências de ser mãe (clique aqui e aqui).

Bárbara com suas duas filhas, Júlia e Isadora  (Foto: Fernando Antunes)
Bárbara com suas duas filhas, Júlia e Isadora (Foto: Fernando Antunes)

Da maternidade nasceu a empreendedora – A blogueira desses tantos projetos é feita de criatividade, inovação e familiaridade com as novas tecnologias, mas só passou a existir depois de se tornar mãe. A jornalista empreendedora nasceu da Bárbara mãe.

Ela explica, a partir das pesquisas que tem feito sobre o assunto, que a experiência da maternidade provoca espécie de reconfiguração do cérebro da mulher. Muitas competências são suscitadas depois do nascimento do filho e diversas delas são importantes no empreendedorismo.

“A empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro, a concentração, de fazer várias coisas ao mesmo tempo, a atenção, produtividade... tudo se intensifica depois que a mulher se torna mãe. E essas habilidades são importantes no empreendedorismo”, finaliza.

Abaixo um vídeo de Bárbara, produzido para esta reportagem, com dicas para mães que buscam abrir o próprio negócio.

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