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Educação e Tecnologia

Campo-grandense comanda polo de tecnologia com 573 milhões de seguidores

Jovem escolheu Campo Grande para criar ambiente de automação com clientes de várias partes do mundo

Paulo Nonato de Souza | 26/10/2021 10:00
De bermuda, no estilo bem à vontade, é assim que o campo-grandense Douglas Lacerda, 29 anos, trabalha em seu escritório em Campo Grande (Foto: Pedro Shimith/Arquivo pessoal)
De bermuda, no estilo bem à vontade, é assim que o campo-grandense Douglas Lacerda, 29 anos, trabalha em seu escritório em Campo Grande (Foto: Pedro Shimith/Arquivo pessoal)

Engana-se quem pensa que tudo já foi inventado e que não há mais lugar para a criatividade. O campo-grandense Douglas Lacerda, 29 anos, empreendedor desde os 13 anos de idade como programador na Internet, é uma prova de que sempre há algo a ser feito para atender necessidades do cotidiano das pessoas, especialmente em um país de muitas carências nos mais diversos setores da sociedade como o Brasil.

Douglas começou criando servidores de jogos online para atender a demanda dos colegas de escola em Campo Grande. Em 2005, faturou R$ 100,00 na venda dos seus próprios jogos, quando teve a certeza de que seu caminho era empreender, criar coisas no mundo virtual, e desde 2016 comanda um grupo de produtos de tecnologia, como a GrowSocial, uma ferramenta de automação em Instagram, que já movimentou mais de 700 mil usuários em todo o planeta, e a SorteioGram, plataforma pioneira em sorteios no Instagram, considerada líder no Brasil.

“A gente passou a fazer um tipo de marketing que na época tinha um custo bem baixo. O Facebook ainda não tinha comprado o Instagram e era barato fazer marketing para o empreendedor. Começamos fazendo de 100 a 200 novos seguidores diários para cada empresário, e isso foi evoluindo. Em 2017 crescemos 1000% e triplicamos em 2018 com faturamento de 8 dígitos”, revelou Douglas Lacerda sobre a GrowSocial, considerada atualmente uma das maiores holding do mundo no segmento de automação no Instagram.

Com atendimento em cinco idiomas - português, inglês, espanhol, francês e russo -, a GrowSocial é um serviço que automatiza a interação no Instagram e funciona mesmo quando o dono do perfil está dormindo. Parte do princípio de que a melhor forma de promover a sua rede social é interagindo com outros usuários e, em seis anos, já atraiu 573,1 milhões de seguidores reais para seus clientes espalhados pelo mundo.

“Importante dizer que não fazemos venda de seguidores, isso inclusive é ilegal em muitos países. O que a gente faz é atrair seguidores reais, pessoas reais para entrar no Instagram dos nossos clientes. Portanto, não fazemos venda de seguidores, porque isso é crime e nós não recomendamos”, explicou ele.

Hoje, Douglas trabalha com uma equipe grande de programadores em um escritório instalado bem em frente de um dos principais cartões postais de Mato Grosso do Sul, o Parque das Nações Indígenas, mas não foi sempre assim. Ele conta que criou a GrowSocial trabalhando sozinho. Desenvolvia, fazia toda a parte financeira, suporte ao cliente, toda a parte de programação e toda a estratégia de marketing. “Fui um verdadeiro solo founder, trabalhava 18 horas por dia, incluindo finais de semana e feriados que para mim não existiam”, comentou.

Instalado em frente ao Parque das Nações Indígenas, Douglas adotou a diversidade de cores em seu escritório para criar uma atmosfera produtiva (Foto: Pedro Shimith)
Instalado em frente ao Parque das Nações Indígenas, Douglas adotou a diversidade de cores em seu escritório para criar uma atmosfera produtiva (Foto: Pedro Shimith)

Ineditismo - Douglas lembra que a ideia de criar a GrowSocial nasceu de conversas com uma amiga que estava começando a investir em uma loja de moda feminina, logo que voltou para Campo Grande, em 2016, depois de um período de aprendizado no Vale do Silício, na Califórnia (Estados Unidos), lugar considerado o berço do mundo digital que abriga empresas globais de tecnologia como a Apple, Facebook e Google.

“Perguntei como fazia o marketing da loja e ela me contou que usava o Instagram dela para captar clientes. Ela disse: “vou seguindo as pessoas, elas me seguem de volta e assim ficam conhecendo meus produtos, perguntam os preços e muitas compram”. Faz isso manual? Ela disse, sim. Então, como eu já trabalhava com automação, decidi criar um robô para fazer tudo e muito mais do que ela tinha que fazer sozinha para conquistar novos clientes”, revelou Douglas.

Provavelmente você já tenha usado a plataforma SorteioGram para promover seus negócios com sorteios de prêmios a partir dos comentários em suas postagens no Instagram, mas nem tem ideia de que um campo-grandense foi o criador dessas ferramentas. Em uma lista top five, a plataforma SorteioGram é a número 1 do Brasil, frequentada por influencers e artistas da música em uma extensa lista que tem o DJ Alok, Lucas Lucco, Julio Cocielo e Gracyanne.

Nem a pandemia foi empecilho para a expansão da empresa. Nesse período em que a Covid-19 sacudiu o planeta, o crescimento dos negócios da GrowSocial foi de 300%, e teve a novidade da compra de alguns concorrentes, que fez com que o jovem campo-grandense se tornasse dono do maior marketshare de sorteios em redes sociais do Brasil. “E vem mais por aí”, frisou.

Com atendimento em português, inglês e espanhol, a plataforma SorteioGram, que em breve vai se tornar “Sorteio.com”, foi pioneira em sorteios no Instagram. “Atendemos clientes do mundo todo, a maioria PME (pequenos e médios empresários) e influencers”, ressaltou.

A proposta é buscar o engajamento dos posts com distribuição de brindes aos seguidores de maneira divertida, justa e transparente, além de simples e dinâmica. Cada postagem é organizada em uma lista numerada e o uso é grátis para sorteios com menos de 20 mil comentários, algo bastante ousado como tem que ser um bom empreendedor.

Tênis de mesa no local de trabalho para aliviar a mente e ativar a criatividade (Foto: Pedro Shimith)
Tênis de mesa no local de trabalho para aliviar a mente e ativar a criatividade (Foto: Pedro Shimith)

Empreendedorismo social na pandemia - Outras decisões importantes nesse período em que o coronavírus provoca tantos danos à vida das pessoas, foram as iniciativas de investimento social no sentido de proporcionar ajuda nos mais diversos aspectos relacionados aos problemas causados pela pandemia. Por exemplo,  a criação de vagas na empresa para desenvolvedores na área de tecnologia, considerando o fato de, sobretudo os jovens, terem sido bastante afetados pela redução de oportunidades no mercado de trabalho. “No momento estamos com 20 vagas abertas”, disse Douglas.

Com aulas grátis, na pandemia também foram criadas três turmas de cursos de inglês para jovens e adultos, duas turmas de iniciação à alfabetização de adultos, uma turma de iniciação à alfabetização para crianças de 5 a 8 anos de idade, duas turmas de informática básica e uma turma de informática no nível intermediário e uma turma de aulas preparatória para o Enceja (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos). Tudo isso funciona na Clínica da Alma, uma Ong que atende moradores de rua de Campo Grande, com o apoio da empresa.

“No curso de alfabetização de adultos temos alunos que antes não sabiam ler nem escrever e hoje já estão fazendo caligrafia e lendo, e vamos dar início às aulas de manutenção de computadores e serigrafia para jovens e adultos”,

O escritório de trabalho também tem o cantinho da leitura para relaxar e ampliar conhecimento (Foto: Pedro Shimith)
O escritório de trabalho também tem o cantinho da leitura para relaxar e ampliar conhecimento (Foto: Pedro Shimith)

Como tudo começou - Antes de criar o que considera o seu atual principal negócio, Douglas Lacerda foi bastante diverso em suas atividades como programador digital. “Sempre tive espírito criador, sempre gostei de criar coisas e a tecnologia junto com a programação me proporcionam criar coisas rápidas e de impacto na vida das pessoas. Meus pais foram meus grandes incentivadores”, declarou ele.

Atuou no mundo dos jogos online dos 13 aos 17 anos de idade, criando servidores de games e até ganhou fama entre os colegas de escola que jogavam seus jogos. O principal deles era um servidor de jogo online da categoria MMORPG (Massively Multiplayer Online Role-Playing Game). “Eu criei um servidor do jogo como se fosse particular para alguns amigos, mas a brincadeira cresceu. Lembro que eu tinha 15 anos de idade e comemorava o fato de que tinha 1.200 pessoas jogando simultaneamente o meu jogo”, contou.

Quando deixou os jogos online, aos 17 anos de idade, Douglas começou a criar diversos sites de negócios variados mundo a fora para ganhar com anúncios de publicidade no Google. Entrou no segmento “yellow-page”, as famosas páginas amarelas com catalogos em sites online. Criou catálogos de endereços, catálogos de festas e eventos, como os sites FestasMS, ClassificadosMS, Feest e Infolugares (alguns foram vendidos e outros ainda estão no ar, mas sem atualização), e entendeu que seu trabalho estava atraindo muitas visitas no Brasil e tinha muito potencial de crescimento também no exterior.

Então, ele decidiu replicar a ideia para mais de 40 países, criando mais de 40 sites com catálogos de endereços. Todo evento tinha um endereço online. “Eu fazia sites de eventos, sites de classificados, endereços online e jogos online, e assim eu expandia os negócios não apenas no Brasil, mas em vários outros países, como Argentina, Espanha, Holanda e Estados Unidos”.

Todos os sites eram autogeridos por robôs criados pelo próprio Douglas Lacerda, de maneira que ele não precisava postar conteúdos. Os robôs cumpriam essa tarefa e os sites cresciam organicamente na medida em que as visitas também aumentavam organicamente, e isso garantia uma boa renda mensal paga em dólar pelo Google.

Juntos, os sites somavam mais de 5 milhões de visitas ao mês, volume de acessos na época bastante representativo, inclusive sobre o impacto direto na vida das pessoas por se tratar de ferramentas que facilitavam a localização de endereços.

A vida que levava era economicamente tranquila com a renda mensal que recebia do Google, mas não o bastante para quem é um inovador inquieto. Certo dia se deu conta de que aquilo não dava para escalar no sonho pessoal de fazer algo muito maior, que era chegar a ter uma empresa “Unicórnio”, expressão criada em 2013 pela investidora de capital de risco americana, Aileen Lee, para classificar startups que valem mais de 1 bilhão de dólares.

“Entendi que se eu quisesse chegar a ter uma empresa Unicórnio não poderia seguir em diversas direções. Teria que focar em uma coisa só, e buscar clientes reais, porque até então meus clientes eram virtuais que eventualmente clicavam em meus anúncios e proporcionavam a minha renda”.

Foi quando, em 2016, se mudou para Palo Alto, na Califórnia, sede de algumas das principais empresas de alta tecnologia do Vale do Silício e próxima da Universidade de Stanford. “Eu já tinha largado o curso de Ciências da Computação para trabalhar com programação e precisava evoluir e abrir a mente”, lembra. Então, buscou na Internet e achou uma hostel chamada Startup Embassy, a mais antiga residência de empreendedores de Palo Alto, fundada em 2012, hoje uma espécie de comunidade de criadores do mundo digital.

“Mandei um email com minhas informações e logo que recebi a confirmação de que tinha sido aprovado comprei minha passagem, fiz a mala e fui para os Estados Unidos ainda sem falar muito bem inglês, mas chegando lá conheci um canadense que falava um pouco de português e isso me ajudou bastante”.

A opção pelo lugar para morar e se desenvolver no ambiente da tecnologia não poderia ter sido melhor, segundo Douglas. “Era muito legal a Startup Embassy porque lá todo dia chegava um novo empreendedor, um japonês, um chinês, enfim, de várias partes do mundo. O aprendizado era tanto que nem os perrengues incomodavam.

“Éramos 14 pessoas na casa. A gente dormia em beliches e muitas vezes fomos acordados com o barulho de ratos em cima da gente, mas foi muito legal ter deixado a vida boa no Brasil por todo o aprendizado que eu tive lá. Foi um período curto, mas o suficiente para eu voltar com a ideia fixa de que precisava criar algo maior e que fosse global”.

Dicas para os jovens que pensam em empreender e não sabem por onde iniciar – Apesar da pouca idade, mas com uma larga experiência no empreendedorismo, afinal já são 16 anos de atividades, Douglas Lacerda diz que é preciso ficar atento aos rumos e tendências dos mercados para identificar necessidades e criar soluções.

Segundo ele, onde todo mundo reclama que nada funciona, para o empreendedor é um mar de oportunidade. “O Brasil é um país com muitos problemas, e lá fora também é assim, mas todo problema tem alguma solução, e isso gera muitas oportunidades para empreender. Mesmo o que já foi criado pode ser aperfeiçoado e melhorado, ou seja, é possível inovar sempre”, disse Douglas Lacerda.

“A minha história de empreendedor começou aos 13 anos, quando entendi que eu precisava produzir e contribuir economicamente com a minha mãe, e como na época eu gostava muito de jogos online, percebi que era possível ganhar dinheiro com os jogos online”.

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