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Educação e Tecnologia

Fundação anuncia R$ 10 milhões para investimento em ciência e startups

Diretor-presidente da Fundect detalha modalidades de incentivo à pesquisa, tecnologia e empreendedorismo

Mylena Fraiha | 02/06/2023 06:21
Márcio de Araújo Pereira, diretor-presidente da Fundect, em reunião com representantes União Européia, governo e universidades (Foto: Leandro Benites/Fundect)
Márcio de Araújo Pereira, diretor-presidente da Fundect, em reunião com representantes União Européia, governo e universidades (Foto: Leandro Benites/Fundect)

Nesta sexta-feira (2), a Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul) realizará o lançamento de dois editais que totalizam R$ 10 milhões em investimentos para impulsionar a ciência no estado. O evento acontecerá no auditório da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), em Campo Grande, a partir das 9h.

Um dos editais de destaque é o programa Pictec (Programa de Iniciação Científica e Tecnológica do Estado de Mato Grosso do Sul), que chega à sua terceira edição trazendo uma novidade: a ampliação para 200 o número de pesquisas de escolas públicas contempladas com bolsas de iniciação científica.

O programa beneficiará 140 escolas estaduais e 60 escolas federais em todo o estado, com um investimento total de R$ 5,76 milhões. Os estudantes do ensino médio selecionados receberão bolsas no valor de R$ 400, enquanto os professores-orientadores serão remunerados com R$ 800.

Também será lançado o segundo edital do Programa Centelha 2, uma parceria entre a Fundect, a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), o Confap (Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa) e a Fundação Certi.

O Programa Centelha 2 tem como objetivo fomentar a criação de empreendimentos inovadores e promover a cultura empreendedora no estado. Os participantes selecionados receberão capacitações, recursos financeiros e suporte para transformar suas ideias em negócios de sucesso. Nessa nova etapa, serão destinados R$ 4,3 milhões para o desenvolvimento dos projetos.

Em entrevista exclusiva concedida ao Campo Grande News, o diretor-presidente da Fundect, Márcio de Araújo Pereira, detalhou algumas modalidades de incentivo à pesquisa, tecnologia e empreendedorismo que serão oferecidas. Essas iniciativas visam impulsionar a inovação e fortalecer o cenário científico e tecnológico em Mato Grosso do Sul.

1. Qual o papel da Fundect no desenvolvimento científico, tecnológico e econômico do MS?

A Fundect tem um papel importantíssimo no desenvolvimento de Mato Grosso do Sul porque a gente trabalha na formação de pessoas.

A gente concede bolsas, desde o ensino médio, em programa de iniciação científica, que prepara e dá uma noção ao jovem sobre ciência e tecnologia, para que possa se tornar um cientista ou um empreendedor tecnológico. Também concedemos bolsas em nível de graduação, mestrado acadêmico, mestrado profissional, doutorado e pós-doutorado.

Ou seja, atuamos na preparação de diversas gerações de profissionais que vão atuar tanto nas universidades, como nas empresas, onde irão desenvolver suas ações.

O nosso papel é em pesquisa básica e aplicada para as universidades, em grandes editais, para fazer a transformação na área científica do Estado. Também temos o papel de trabalhar no desenvolvimento tecnológico, como por exemplo, o investimento que temos no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia lá na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco) que é um centro de qualidade de criação de novas tecnologias voltadas ao agronegócio. Lá foram investidos mais de 10 milhões de reais.

Essas ações colocam o Mato Grosso do Sul no centro da tecnologia nacional e internacional, mas agora também na questão econômica de inovação, na fomentação de novas empresas, por meio dos programas Centelha, Tecnova e Tuiuiú. São várias ações que criam novas empresas, que vão gerar mais renda, vão gerar novos empregos e vão nos colocar na vanguarda do desenvolvimento tecnológico.

Então a inovação está no papel da fundação. Trabalhamos desde a formação de pessoas, com investimento científico e tecnológico muito pesado; e também agora com a questão da inovação. Tudo isso gera um movimento econômico, porque pra cada real investido em ciência, tecnologia e inovação, você gera outros dez reais a mais, segundo a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo)

2. Como a Fundect apoia a pesquisa científica no Mato Grosso do Sul? Quais são as atuais formas de apoio nesta área? 

Na pesquisa nós trabalhamos com editais voltados para professores pesquisadores das nossas universidades, em diversas atividades. Temos áreas prioritárias estabelecidas para investimento em pesquisa no Estado que são elas: o agronegócio, a bioeconomia, a biotecnologia, as cidades inteligentes, as energias renováveis, a biodiversidade, a saúde animal, a saúde humana e as tecnologias sociais assertivas.

Também temos editais importantes, como o edital universal ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), que seguem os objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas), no qual foram investidos dez milhões de reais em um único edital para pesquisas voltadas a essas áreas que eu citei, mas tivessem conectadas às ODS. Ou seja, é um edital que é conectado com o que há de mais inovador no mundo.

Também já lançamos um edital de Carbono Neutro, que foi há dois anos, que foi o primeiro do Brasil. E nós vamos lançando editais sempre trazendo os pesquisadores em novas temáticas e novos avanços para ciência do mundo.

E nesse total de recurso investido, só no ano passado foram sessenta e seis milhões de reais investidos em pesquisas e em projetos de inovação. Então isso coloca o Mato Grosso do Sul à frente em muitas áreas. Esse é o nosso papel de investimento.

3. Notamos um padrão no interior do país que os jovens pesquisadores acabam migrando para o eixo Rio-São Paulo. A Fundect tem alguma iniciativa que incentiva a permanência de doutores e pesquisadores em Mato Grosso do Sul?

Além dos editais de doutorado e pós-doutorado que nós temos junto à Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que permitem que os pesquisadores fiquem em Mato Grosso do Sul, estudem e se desenvolvam, também temos um edital voltado aos jovens doutores, o qual temos o objetivo de atrair os talentos de outros estados e mantermos os que temos aqui.

Também temos o edital de PDCTR (Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional no Estado de Mato Grosso do Sul), que é um programa de desenvolvimento científico e tecnológico regional, que visa atrair esses profissionais para o estado com um kit de recurso. Além da bolsa, os pesquisadores também recebem um recurso adicional para sua pesquisa.

E nesse sentido a gente vai mantendo e atraindo esses profissionais. Claro, tem que ter estratégias para que eles permaneçam e continuem, por isso temos acordos com as universidades. Com essa parceria, a gente consegue criar editais de pesquisadores visitantes e as universidades poderão atrair jovens doutores em crescimento, como também aqueles profissionais já estabelecidos e que possuem um conhecimento notório em sua área.

Então são várias formas de você mantê-los e atraí-los, para que a gente consiga manter nossa ciência cada vez mais viva. Nós falamos de um estado que saiu de 136 doutores nos anos 2000, agora temos mais de 3 mil doutores. E precisamos cada vez mais desses doutores para contribuir com o desenvolvimento do nosso Estado.

4. Gostaria que o senhor comentasse um pouco sobre as iniciativas da Fundect voltadas ao público não-acadêmico.

E para o público não acadêmico, a primeira coisa, nós temos um programa de iniciação científica tecnológica nas escolas de ensino médio, voltado às escolas estaduais, instituto federal e colégio militar. Ou seja, esse jovem do ensino médio pode receber uma bolsa de R$ 400, durante um ano, para trabalhar com seu professor dentro de sua escola e criar uma cultura de cidadania da ciência. Isso é importante, porque já começa a trabalhar na base do futuro do Estado.

Ele pode não ser o cientista, mas vai ser o cidadão que entende de ciência e tecnologia. Ele vai amar e vai criar uma conexão com o conhecimento, que é o que queremos. É a popularização da ciência e não só da ciência, mas da tecnologia também. Muitos empreendedores podem sair daí", explica Márcio.

Além disso, também pra comunidade não acadêmica a gente oferece editais de inovação. Tem editais do Centelha, que nós abrimos junto à Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e ofertamos recursos para que qualquer pessoa acima de dezoito anos e que tenha uma boa ideia possa buscar este edital e conquistar até 86 mil reais para abrir sua empresa.

E para quem não tem a empresa estabelecida também a gente também abre os editais Tecnova, que no último edital foram 200 mil reais por empresa e no próximo futuro edital, poderá ser até 500 mil reais por empresa.

Essas ações não são voltadas para as universidades, mas para o público em geral. Só que, claro, quem tem a maior qualificação acaba pegando maior quantidade de recursos editais, porque isso mostra o poder do conhecimento.

A gente vai trabalhando em todas as frentes. O importante nesses editais é ter uma boa ideia. Investimos nisso porque nossas ações e investimentos acabam impactando a sociedade de diversas maneiras. Quando os cientistas desenvolvem novos medicamentos, formas alimentares, produtos inovadores, sementes ou variedades, eles impactam a alimentação, a saúde, a segurança e a tecnologia. Dessa forma, a ciência pode afetar a vida cotidiana dos cidadãos de várias maneiras.

5. Como a Fundect apoia as iniciativas empreendedoras?

O empreendedorismo é o caminho inevitável para o crescimento tecnológico desse Estado e deste país. E os programas Centelha, Tecnova e Tuiuiú, são investimentos que a gente pode oferecer para começar uma empresa, mas também para quem tem sua empresa, mas precisa de investimento para desenvolver suas ideias. Então são múltiplas formas de concessão de recursos para grandes ideias.

Nesta semana, no dia 02 de junho, estamos anunciando as cinquenta empresas contempladas com o recurso do programa Centelha. Essas empresas terão a oportunidade de desenvolver seus projetos, gerar renda, criar empregos e impulsionar o Estado rumo a novos patamares de inovação.

6. Quantos empreendimentos têm sido beneficiados até o momento? 

Ao todo, recentemente, mais de cem empresas passaram a receber recursos da Fundect para desenvolver seus produtos tecnológicos, serviços ou processos e muitos têm conseguido vários êxitos.

Eu vou citar uma, que é a Juridics, que conseguiu criar um sistema de inteligência artificial para jurimetria, ou seja, consegue entender por meio da inteligência artificial como funciona o caminho que os tribunais vão tomar para determinada peça jurídica. Isso facilita a vida do advogado, para que ele encontre o tom correto da montagem da defesa de cada peça e poupe um trabalho imenso.

Também temos lá em Bonito, a Ciclo Azul, que trabalha com compostagem, em um novo método de trazer e trabalhar esses resíduos em um tratamento adequado, que consiga gerar energia, mas também gerar novas de plantação.

Tem gente que criou essências com frutos do Cerrado, trabalhando com produtos veganos. Existe iniciativa que trabalha a inteligência artificial para crianças autistas em 3D.

Outro exemplo do edital Tecnova, é de uma empresa que desenvolveu uma solução de previsibilidade energética, que é capaz de antecipar picos de energia, o que resulta em economia para as indústrias e estabeleceu uma parceria significativa com a Energisa para implementar essa solução inovadora.

Então são exemplos claros de que, o investimento ele funciona, ele muda a vida das pessoas. Muda a vida na parte educacional, na parte de computacional muda a vida também na parte energética que é um grande desafio, fora as empresas que trabalham com sustentabilidade, como é o caso da Bruaca, é uma empresa que reúne produtos com a com a identidade pantaneira e proporciona sua comercialização no Brasil e no exterior. Então são coisas que trabalham com nossa identidade, comercialização e sustentabilidade.

7. Como a Fundect atua no desenvolvimento do agronegócio, mas sem perder o compromisso ambiental? 

O agronegócio é uma das áreas prioritárias de investimento da Fundect e nós trabalhamos sempre lado a lado com a questão ambiental. Não tem como dissociar, nós somos o estado agroambiental. E nesse investimento em pesquisa para o agro, sempre estamos nos conectando com a questão ambiental e da sustentabilidade.

Quando investimos na validação de sementes de milho e soja, estamos apostando em variedades que serão aplicadas corretamente em nosso solo, resultando em menor uso de defensivos e uma adaptação mais adequada ao nosso clima, o que resultará em uma produtividade mais alta.

As sementes recebem essa validação pelas fundações de pesquisa de Mato Grosso do Sul, como a Fundação MS e a Fundação Chapadão, que testam e garantem a qualidade dessas sementes. Dessa forma, os produtores recebem sementes já validadas para produzir mais alimentos para o mundo.

Em relação à questão ambiental, estamos implementando editais de carbono neutro, que estão alinhados com nossa realidade e nos permitem fazer inventários ambientais do estado. Além disso, estamos trabalhando em um importante edital de mudanças climáticas, antecipando soluções para lidar com secas intensas no Pantanal e buscando respostas científicas para minimizar os danos.

Sabemos que o Pantanal se recupera rapidamente, e estamos colaborando com a ciência para tornar essa recuperação menos agressiva. É um conjunto de ações científicas que busca aumentar a produtividade agrícola e, ao mesmo tempo, proteger o meio ambiente. O agronegócio e a preservação ambiental são nossos principais ativos, e estão interconectados para nos tornar uma potência.

Governador, Eduardo Riedel, e o diretor-presidente da Fundect, Márcio Pereira, em lançamento de investimentos (Foto: Leandro Benites/Fundect)
Governador, Eduardo Riedel, e o diretor-presidente da Fundect, Márcio Pereira, em lançamento de investimentos (Foto: Leandro Benites/Fundect)


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