Alvo por desvio milionário, federação de MS lidera o 3º pior futebol do Brasil
Presidente Francisco Cezário de Oliveira, que está no sétimo mandato, foi preso em operação do Gaeco
No centro da operação “Cartão Vermelho”, a FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul) é investigada por desvios milionários, mas o desempenho é bem mais tímido quando a bola rola. MS ocupa o terceiro pior lugar no RNF (Ranking Nacional de Futebol), divulgado pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) em 8 de dezembro do ano passado.
Dentre as 27 unidades da federação, Mato Grosso do Sul ocupou a 25ª posição. Atrás de Rondônia e Amapá. No topo, está o futebol paulista, seguido por Rio de Janeiro e Minas Gerais. A classificação leva em consideração a pontuação nos campeonatos.
As equipes de MS disputam a Série D do Campeonato Brasileiro de Futebol e a Copa do Brasil. Nesta terça-feira (dia 21), a sede da entidade, na Rua 26 de Agosto, no Bairro Amambaí, em Campo Grande, foi alvo de mandado de busca e apreensão.
Às 6 horas, policiais chegaram ao local para evitar a entrada de terceiros. No fim da manhã, chegou outra equipe, acompanhada por um funcionário da federação, da área de tecnologia da informação.
Do lado de fora, a esposa dele, que não quis se identificar, contou que o casal foi acordado às 6h pela polícia. “Foi que nem cena de filme, mas são bem tranquilos, olharam tudo e não acharam nada. Tudo que eles tiram do lugar, eles colocam de volta", detalhou. Na sequência, foi chamado um chaveiro para abrir porta.
O presidente - Preso na ação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), Francisco Cezário de Oliveira, 77 anos, está no sétimo mandato de presidente da entidade. São cerca de 26 anos no cargo. Ele também foi prefeito do município de Rio Negro, mas não se reelegeu.
A ação investiga esquema de desvio de R$ 6 milhões na Federação de Futebol. Foram identificados mais de 1.200 saques para diluir os valores e “driblar” a fiscalização.
De acordo com o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), a ofensiva desbarata organização criminosa voltada à prática de peculato e delitos correlatos na federação que comanda o futebol no Estado.
Em 20 meses de investigação, o Gaeco constatou que um grupo desviava valores, provenientes do Estado (via convênio, subvenção ou termo de fomento) ou mesmo da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), em benefício próprio e de terceiros.
“Uma das formas de desvio era a realização de frequentes saques em espécie de contas bancárias da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul – FFMS, em valores não superiores a R$ 5.000,00 (cinco mil reais), para não alertarem os órgãos de controle, que depois eram divididos entre os integrantes do esquema”, informa a nota da promotoria.
Nessa modalidade, verificou-se que os integrantes da organização criminosa realizaram mais de 1.200 saques, que ultrapassaram o total de R$ 3 milhões.
Cashback criminoso - A organização criminosa também contava com esquema de desvio de diárias dos hotéis pagos pelo Estado de MS em jogos do Campeonato Estadual de Futebol. O esquema de peculato tinha “cashback”, numa devolução criminosa de valores.
“Esse esquema de peculato estendia-se a outros estabelecimentos, todos recebedores de altas quantias da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul. A prática consistia em devolver para os integrantes do esquema parte dos valores cobrados naquelas contratações (seja de serviços ou de produtos) efetuadas pela Federação”.
Ao todo, os valores desviados da FFMS, no período de setembro de 2018 até fevereiro de 2023, superaram R$ 6 milhões.
A operação “Cartão Vermelho” cumpre sete mandados de prisão preventiva, além de 14 mandados de busca e apreensão, nos municípios de Campo Grande, Dourados e Três Lagoas. Já foram apreendidos R$ 800 mil em espécie. A ação tem apoio da PM (Polícia Militar).
Cartão Vermelho - Nome da operação, “Cartão Vermelho” é autoexplicativo e faz alusão à Vartao expulsão de jogadores que cometem faltas graves durante as partidas de futebol.
A defesa da FFMS informa que esclarecimentos serão prestados durante o dia. “Nessa fase qualquer investigação é sempre unilateral; logo ela será submetida ao necessário contraditório; devemos aguardar os esclarecimentos, que serão prestados, oportunamente”, afirma o advogado André Borges.
A Setesc (Secretaria Estadual de Turismo, Esporte e Cultura) informou que "sobre os questionamentos de que as denúncias da operação Cartão Vermelho apontam supostos desvios de recursos oriundos da Fundesporte [Fundação de Esporte], esclarecemos que a mesma não é alvo da referida operação e, em tempo, acompanha as investigações e espera que as denúncias sejam apuradas no rigor da lei". A reportagem não conseguiu contato com a CBF.
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