Prédios históricos de MS estão preparados para enfrentar incêndios?
Em processo de restauração, Morada dos Baís irá receber pintura específica contra chamas
Nos últimos meses, espaços históricos de Campo Grande (como a Morada dos Baís e o Complexo Ferroviário) têm estado em discussão sobre suas restaurações e reformas. Muito se fala sobre como prédios antigos como eles não podem se perder, mas, para além do abandono de uns e retomada de outros: será que os prédios históricos conseguiriam se salvar de incêndios?
RESUMO
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A preservação de prédios históricos em Campo Grande, como a Morada dos Baís e o Complexo Ferroviário, levanta preocupações sobre a segurança contra incêndios. A reabertura da Morada dos Baís foi adiada devido à necessidade de aplicação de pintura anti chamas, uma medida de segurança contra incêndios. O Governo do Estado também está incluindo essa proteção em outros bens históricos, como a Igreja de São Benedito e o Castelinho de Ponta Porã. De acordo com o Corpo de Bombeiros Militar, a aplicação da pintura anti chamas é obrigatória em alguns casos, dependendo das características da edificação, e é recomendada para todos os bens históricos. A prevenção contra incêndios também inclui a revisão das instalações elétricas, especialmente em casas antigas, devido ao aumento do uso de equipamentos de alta potência.
Pensar em construções que carregam o passado é focar, também, na sua permanência. E, no Brasil, temos exemplos de grandes perdas como o Museu Nacional (que pegou fogo).
Uma das construções que são referências na Capital, a Morada dos Baís, teve sua reabertura postergada mais uma vez justamente devido a esse questionamento, conforme explica a responsável pela Sectur (Secretaria de Cultura e Turismo), Mara Bethânia Gurgel.
E, aproveitando o tema, questionamos o Governo do Estado sobre outros bens históricos que receberam ou vão receber a mesma proteção em Mato Grosso do Sul. Além disso, o CBM/MS (Corpo de Bombeiros Militar) também explica sobre o assunto.
Fechado há três anos, o prédio da Morada dos Baís estava previsto para reabrir em agosto. Na época do anúncio feito pela prefeitura, a lista de ações necessárias envolviam reparo em pilares de madeira, pisos, forros, revisão elétrica, revisão da cobertura de telhas, reparo nas calhas e ajustes na escadaria.
Mas, conforme as ações foram sendo executadas, outras precisaram ser incluídas. Exemplo disso é uma medida, para além do plano geral de segurança, contra fogo: pintura antichamas.
Na prática, quando há contato com o fogo, o material se expande várias vezes. A consequência é uma proteção em meio às temperaturas elevadas, ou seja, consegue retardar a propagação do fogo.
Por enquanto, a prefeitura está aguardando a chegada do material para a aplicação (que deve ser concluída neste mês). Em seguida, o acervo interno começa a ser montado e a expectativa de reabertura segue sendo 2024.
Já com a pintura aplicada na Capital, temos a sede do Iphan/MS (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que integra o Complexo Ferroviário.
Outra construção histórica que deverá receber o material é a Igreja de São Benedito, na comunidade Tia Eva. A informação da Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos) é de que a aplicação está presente no projeto, mas até o momento não houve retorno sobre quando as obras devem começar.
Nos últimos anos, a Casa do Artesão também foi reformada pelo governo do Estado, mas não entrou na lista de bens informados pela Agesul. Além da igreja, foi citado apenas o Castelinho de Ponta Porã.
Por lá, houve a aplicação do “verniz intumescente fosco à base de água”. Esse produto costuma ser aplicado apenas em madeiras, mas também pode ser usado em alvenaria, conforme consta na divulgação de marcas que trabalham com o verniz.
Outras cidades com patrimônios históricos tombados pelo governo estadual não foram citadas. Mas, em Corumbá, também está prevista a aplicação desse material, conforme a Fundação de Cultura municipal.
Na Cidade Branca, os prédios públicos históricos que possuem assoalho de madeira deverão receber mais essa prevenção. Entretanto, ainda não há data específica para o ajuste.
O que é obrigatório? E o que é indicado?
Falando especificamente sobre bens históricos, o superintendente do Iphan/MS, João Santos, explica que as obrigatoriedades dependem do solicitado pelo CBM/MS (Corpo de Bombeiros Militar). Mas que, quando o contato é feito com o instituto, a orientação é de aplicar a pintura antichamas e outras normas do PPCip (Projeto de Prevenção e Combate a Incêndio e Pânico).
“É interessante não apenas para bens tombados e históricos, mas também para a construção civil em geral”.
Questionado sobre a obrigatoriedade da pintura antichamas e de outras medidas contra incêndios, o CBM/MS informou que a Lei 4335, o Código de Segurança Contra Incêndio, Pânico e outros Riscos, solicita uma série de medidas cobradas dependendo das características da edificação, área construída, altura e ocupação.
“Entre as exigências, temos duas em que a solução para que a medida seja atendida de acordo com a norma é a aplicação da pintura antichama. A primeira é a resistência ao fogo, que nós exigimos para alguns elementos estruturais e para alguns elementos de saída de emergência e compartimentação”.
Segundo o Corpo de Bombeiros Militar, isso ocorre porque as construções precisam ter um tempo de resistência mínima ao fogo. Ou seja, se a estrutura da edificação for de madeira, ela não possui uma resistência por si só, então precisa desse “revestimento”.
Outro caso que também precisa de uma pintura específica é para o controle de materiais de acabamento e de revestimento.
Essa medida é cobrada para algumas edificações em que os materiais empregados no acabamento e revestimento, como pisos, paredes, divisórias, teto, forro e cobertura, tenham determinada característica de velocidade de propagação da chama e de quantidade de liberação de fumaça quando há a queima desse material”.
Por isso, se o material não tiver uma resistência “natural”, mesmo não sendo de madeira, também precisa da pintura.
“A aplicação da tinta antichama visa dificultar a propagação do fogo. Dessa forma, ela diminui a evolução da chama no material. Em alguns casos, se não tiver mais a energia ativadora, ela vai até extinguir as chamas”, destaca o CBM/MS sobre a pintura preventiva.
De forma geral, para além de construções históricas, os bombeiros explicam que os cuidados com as casas (antigas ou não) são parecidas quando o assunto é prevenção. É necessário se atentar à parte elétrica, instalações e funcionamento de equipamentos, além dos equipamentos de gás serem instalados por profissionais.
“O que diferencia as residências novas das antigas é, principalmente, a parte elétrica, porque as residências que têm 20, 30 anos, têm suas instalações elétricas antigas e sabemos que com o tempo a capacidade de passagem de energia pelos fios se degrada e naturalmente, ao longo do tempo, eles vão aquecer mais. Outro problema é que, geralmente, quem faz a instalação elétrica em uma residência faz de acordo com o que se prevê de uso e o uso que tínhamos há 30, 40 anos é muito diferente do que a gente prevê na maior parte das casas atualmente”.
Equipamentos como ar-condicionado e chuveiro, com potências mais fortes, precisam ser analisados nestes casos. Idealmente, as instalações deveriam passar por uma revisão com profissional habilitado para a manutenção ou redimensionamento da rede.
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