Preservada, casa de 83 anos é lugar que quase não se percebe na Afonso Pena
Mas quem para para olhar encontra quase intacta a arquitetura de 1935, em portas, janelas e histórias da família que ainda vive no lugar
A casa com fachada amarela em contraste com o verde desbotado da janela de madeira é o que restou de mais antigo na avenida Afonso Pena. Apesar de toda a mudança em volta, nada se transformou no cenário do imóvel erguido em 1935, que continua na mesma família.
O portão de ferro é o detalhe que separa o passado da avenida, que apesar de ser a mais movimentada da cidade, ainda esconde tamanha relíquia, quase invísivel para quem costuma passar pela Afonso Pena sem olhar para os lados.
Lá dentro, parte da família ficou para contar a história da casa, em um lugar de aproximadamente 800m², comprado em 1937 por dona Isabel Chaparro Barbosa, fazendeira que chegou à região e comprou parte dos imóveis que já existiam naquele trecho, perto de onde hoje fica a igreja Perpétuo Socorro.
Longe do asfalto e da movimentação, o lugar era de uma calmaria hoje desconhecida "Naquela época, a cidade terminava na Calógeras. Aqui era, praticamente, tudo chácara. Minhas tias contam que era preciso atravessar o córrego em um pinguela de madeira para ir à escola", conta o técnico de informática Paulo Martins Baudenarok, de 52 anos, um dos nove netos de Isabel que morreu em 2007.
O local é um dos imóveis que a fazendeira deixou para os filhos na avenida. "Ainda está em processo de inventário, mas é demorado", explica o neto que vive na casa com a mãe, diagnosticada com Alzheimer há 8 anos.
Do lado de fora, a arquitetura intocada é o que mais chama atenção. Um desejo da avó que nunca foi ligada às mudanças, mas que valorizava como ninguém a beleza da casa. "Ela nunca sentiu vontade de mudar, pelo menos nunca falou. Os filhos também não, todo mundo foi muito feliz nessa casa".
A obra que terminava no meio do terreno foi ampliada na década de 1980. "Foram ampliando conforme a necessidade", mas o que existia desde 1935 nos primeiros cômodos permaneceu intacto. Dentro, o mobiliário antigo deu lugar ao vazio. Há poucos móveis, mesmo assim é de se admirar o tamanho das janelas, a porta imponente e o pé direito com aproximadamente 5 metros de altura.
No banheiro, azulejos antigos casam com o vaso sanitário colorido e com um dos pisos renovados na década de 1980. De resto, o ladrilho hidráulico da sala e alguns quartos também permanecem intactos.
Será assim até que a família decida que destino dar ao lugar que por anos foi alegria da família e vista privilegiada para a transformação da cidade. "Aqui minha avó viu muita coisa acontecer, a cidade foi crescendo, tomando conta da região. Tudo mudava, menos a casa dela".
Nos álbuns antigos, as fotografias com a família na Afonso Pena, já existente na porta de casa. Em uma das fotos é possível ver um prédio antigo que hoje dá lugar a um dos bancos da região. Outro retrato, abriga a primeira casa de planta circular da cidade e a criançada que fazia do canteiro central um ponto para brincadeiras.
Na garagem, outra relíquia, a Variant de 1973 guardada por Paulo desde que o pai faleceu. "Ele gostava muito desse carro. Mesmo com outros veículos ele não se desfazia. É um lembrança que a gente quis guardar dele".
Se por ali algumas casas históricas desapareceram do cotidiano do campo-grandense, ao tornarem-se pontos comerciais, Paulo acredita que a casa amarela ainda tem muito pela frente. "Enquanto pertencer a família, será cuidada e mantido do jeito que nossa avó deixou".