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Arquitetura

Hotéis no Centro: do cuidado com a preservação à decadência

Ângela Kempfer | 06/12/2011 10:53
Centrais telefônicas antigas, amontoadas em prédio do Hotel Anache.
Centrais telefônicas antigas, amontoadas em prédio do Hotel Anache.

Quando Campo Grande nem sequer tinha uma rodoviária, alguns hotéis ainda hoje no Centro da cidade já funcionavam na região da estação ferroviária, para receber quem chegava de trem.

Décadas depois, um dos principais pontos de hospedagem é quase ruína na rua 14 de Julho. O Hotel Americano, na esquina com a rua Cândido Mariano, tem na fachada a oferta: “aluga-se”. Mas também há a opção “vende-se”.

O prédio vermelho desbotado, de 1939, até 2006 ainda recebia hóspedes, mas a decadência tornou inviável a manutenção, conta o empresário Leandro Luis, que havia arrendado o local. “Não quero ficar como o cara que enterrou o Americano”, adverte ele em entrevista ao Lado B.

Leandro prefere não falar muito sobre o hotel, exemplo da art déco, projetado por Frederico Urlass, com 35 quartos. Só diz que o prédio estava muito “judiado” e os proprietários não tinham interesse em recuperar as instalações, por isso o rompimento do contrato.

Na mesma época, o empresário arrendou outros dois hotéis no Centro de Campo Grande - o Hotel União, na Calógeras, e o Hotel Anache, na Cândido Mariano.

Os dois ainda funcionam e exibem mobiliário dos anos de auge, hoje sem qualquer glamour. Ressabiado, o dono não permite imagens dos quartos ou de outra dependência que não seja a portaria.

No Anache, 3 centrais telefônicas antigas, inclusive a do Americano, são indicativos da idade dos hotéis, da década de 50. “Mas não sei quantos anos eles tem não”, diz Leandro.

Ele espera o projeto de revitalização do Centro vingar, para retirar das fachadas dos hotéis as grandes placas que escondem a originalidade dos prédios. “Sempre quis tirar, mas os vizinhos não querem, então não posso mudar porque senão vou ficar apagado”, justifica.

Apesar de se render à modernidade, com mudanças estruturais e adaptações aos tempos modernos, como internet e TV a cabo, eles, pelo menos, ainda estão em pé com cerca de 20 leitos cada um e diárias que variam de 39 a 44 reais. Contemporâneo, o imponente Hotel Campo Grande, criado pela família Coelho, fechou do dia para a noite e hoje é objeto de briga judicial. As linhas retas da fachada eram, na época, o must da arquitetura no País, bancada com a riqueza vinda da produção rural. Hoje, só o térreo é ocupado, com uma loja de produtos populares.

Outros hotéis históricos de Campo Grande, como o Democrata, de 1912, o Hotel Globo, o Colombo e o Rio Hotel, da década de 30, já foram demolidos. Não deixaram vestígios.

Cris e as lembranças do avô e da avó, na escadaria preservada do Hotel Gaspar.
Cris e as lembranças do avô e da avó, na escadaria preservada do Hotel Gaspar.
Portas e móveis da época da inauguração.
Portas e móveis da época da inauguração.
Grades originais na sacada e vista de Campo Grande.
Grades originais na sacada e vista de Campo Grande.

Bom exemplo - Uma exceção é o Hotel Gaspar. Na esquina da Calógeras com a avenida Mato Grosso, a neta do fundador Antônio Gaspar exibe o prédio com orgulho de quem dá valor à história. “Preservo tudo que posso”, conta Cris Gaspar Melim. Mas alguma coisa mudou.

Onde hoje é a lavanderia do Gaspar, na década de 50 chegou a funcionar o guichê de embarque de ônibus intermunicipais e interestaduais. O prédio também ganhou um andar extra nos anos 70, para mais apartamentos.

Já as portas de madeira, os lustres, as grades em sacadas e o mesmo piso de ladrilho hidráulico do dia da inauguração, no dia 26 de Agosto de 1954, estão intactos. Ao longo dos 57 anos, o hotel ganhou carpete, que foi retirado pela atual administração.

Nos quartos, os móveis são preservados, de madeira de verdade, sem o compensado da rede hoteleira moderna. O segredo é a manutenção constante, a limpeza exemplar, características do hotel que também trata os hóspedes como se fossem da família.

Também arrendado durante mais de 10 anos, o prédio voltou as mãos da terceira geração, em 1998. “Por sorte não mexeram na estrutura”.

Com o retorno, seria mais fácil modernizar, diz a neta, “porque a manutenção não é fácil”, mas as mostras de carinho com a história do Gaspar fortalecem a vontade de preservar.

“Já teve limusine parando aqui na porta com noiva para tirar fotos. Sempre somos procurados porque em Campo Grande não há muitos prédios preservados”.

Art déco abandonada no Hotel Americano.
Art déco abandonada no Hotel Americano.
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