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Artes

Artista que teve obra apreendida volta a MS, com críticas à “morte” do Cerrado

Alessandra Cunha diz que ainda sente os reflexos da censura à obra “Pedofilia”, mas não desiste de protestar

Thailla Torres | 17/07/2019 08:15
Dois anos depois da polêmica, Alessandra volta a Campo Grande com exposição “Espectro”. (Foto: Thailla Torres)
Dois anos depois da polêmica, Alessandra volta a Campo Grande com exposição “Espectro”. (Foto: Thailla Torres)

Há dois anos, a artista plástica Alessandra Cunha trouxe pela primeira vez para Campo Grande sua exposição “Cadafalso”. Em suas obras não havia outro objetivo que não fosse apenas mostrar as formas e consequências violentas do machismo na sociedade. Mas políticos resolveram acusar a artista de apologia à pedofilia e ela viveu o drama de ter uma de suas obras apreendidas.

À época, a polêmica foi levantada pelos deputados estaduais Lídio Lopes (PEN), Paulo Siufi (PMDB), Herculano Borges (Solidariedade), Maurício Picarelli (PSDB) e Coronel David (PSC) que acabaram envolvendo a DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente) na exposição. Além da apreensão da obra, sua exposição foi censurada para maiores de 18 anos.

Dois anos depois Alessandra está de volta. Fortalecida pelo papel desenvolvido na arte, mas ainda revoltada com a injustiça. “Voltei por uma revolta. Ao mesmo tempo que fiquei acuada, também fiquei pensando que somos agentes do mundo. Tudo o que a gente faz é político, a arte é um ato político, e se eu ficasse de fora eu seria uma perdedora”, afirma.

Obra de Alessandra Cunha.
Obra de Alessandra Cunha.

Para quem veio de Uberlândia (MG) e ainda lidava com anonimato dentro da arte, o “julgamento” vivido em Campo Grande refletiu, e muito, na carreira. “E sou muito sensível. Tudo no mundo me afeta. À princípio, fiquei com medo achando que não poderia mais pintar. Depois de um tempo fui voltando ao normal, me colocando no chão novamente e até fiz uma pintura em protesto aquele episódio, que está aqui entre as obras”, revela.

Alessandra diz que a polêmica com um dos quadros chamado “Pedofilia” mudou sua forma de ver o mundo e a arte, mas sem perder o tom da denúncia. “Refletiu na minha forma de pensar sobre como o meu trabalho atinge o outro. Mas sempre foi de denúncia e vai continuar. Agora apenas mudou o foco, se eu não posso protestar aqui de uma maneira, eu vou protestar de outra”.

A nova exposição “Espectro” denúncia o mundo e o que temos feito com a natureza, especialmente com o cerrado. “Da última vez que eu vim para cá, no caminho, eu vi muita queimada e devastação. Mas sempre havia uma árvore tentando sobreviver em meio aquele cinza, até o céu tinha essa cor. Fiquei muito chocada de ver o quanto estamos destruindo tanto a natureza. Então criei uma série com figurinhas que são os espectros das árvores, com suas almas e seus fantasmas. Para todas as obras eu bordei uma árvore que se contorce para tentar escapar do fogo e resistir”, conta.

“Espectro” é uma das exposições Primeira Temporada de Exposições do Marco (Museu de Arte Contemporânea) 2019. A abertura será hoje (17), às 19h30, com apresentação da cantora Evelyn Lechuga, acompanhada pelos músicos Rafael Bendo e Marcos Assunção. A entrada é gratuita.

“O problema sem nome” com classificação indicativa de 14 anos do artista Gabriel Quartin. (Foto: Gabriel Quartín)
“O problema sem nome” com classificação indicativa de 14 anos do artista Gabriel Quartin. (Foto: Gabriel Quartín)

Outras três exposições marcam a primeira temporada como “O problema sem nome” com classificação indicativa de 14 anos do artista Gabriel Quartin, que problematiza e incita o debate sobre a objetificação da mulher. Formado em Design desde 2007, o projeto fotográfico foi conclusão de curso do artista que abordou a objetificação não só sexualmente, mas socialmente.

Entre as séries fotográficas estão o incômodo com ensaios femininos onde o empoderamento é pautado no sensual. “O que me inspirou muito foi uma frase de um motorista de Uber que falou que agora só pegava mulher filé mignon. E vejo muito isso no mundo dos ensaios de ‘nu artístico’ que só tem nu e nada de artístico, onde as pessoas fazem associação da mulher com pedaço de carne”, explica.

Gabriel também faz crítica as lentes ou olhares utilizados para fotografar uma mulher, onde os fotógrafos estão sempre por cima dela “criando um clima de ordem”, explica.

O designer também expõe como as mulheres tem suas teorias e conteúdos banidos por causa da beleza, como são vistas na mídia, no local de trabalho e dentro de casa. “Busquei mostrar recortes de ações cotidianas que elas enfrentam com a pressão da moda, da indústria, do aprisionamento social, corpo exposto na TV, maternidade endeusada e educação prejudicada”.

Aldo Torres traz em sua exposição “A Revolta da Escultura”. (Foto: Aldo Torres)
Aldo Torres traz em sua exposição “A Revolta da Escultura”. (Foto: Aldo Torres)

Formado em Artes Visuais pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e inspirado pelos artesanatos vendidos nas ruas, o artista plástico Aldo Torres traz em sua exposição “A Revolta da Escultura” obras que contam sobre a realidade atual em que vive o morador de uma comunidade.

A exposição é composta por 18 esculturas + um quadro. Todas as obras foram produzidas no final de 2018 e início de 2019, retratando desilusões vividas pelo artista e seus amigos no Bairro Jardim Los Angeles. “Apesar de ter essa visualidade de obra mal-acabada, as obras tratam também de política e fé. E, sobretudo, revoltas”, explica Aldo.

Wagner Thomaz é arquiteto, fotógrafo e artista visual que traz a exposição “Paisagem”, um elemento sempre presente na história da arte, explica o artista. “Eu apenas decidi olhar para essa paisagem e colhê-la com a máquina fotográfica. Elas são tão passageiras que são paisagens com uma tempestade. Também, embora eu use equipamento digital, minha premissa é editar o olhar e fazer uma série de fotografias curtas”.

Exposição - A Primeira Temporada de Exposições do Museu de Arte Contemporânea fica aberta ao público de 18 de julho a 1º de setembro, sempre com entrada gratuita.

O Marco fica na Rua Antônio Maria Coelho, 6000, no Parque das Nações Indígenas. As visitações podem ser feitas de terça a sexta, das 7h30 às 17h30. Sábados, domingos e feriados das 14h às 18h.

Informações e agendamento com escolas para realização podem ser feitos no no telefone (67) 3326-7449.

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Wagner Thomaz é arquiteto, fotógrafo e artista visual que traz a exposição “Paisagem”. (Foto: Wagner Thomaz)
Wagner Thomaz é arquiteto, fotógrafo e artista visual que traz a exposição “Paisagem”. (Foto: Wagner Thomaz)
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