Coletivo de MS está entre 8 artistas de exposição no Rio de Janeiro
Coletiva apresenta cerca de 50 obras de artistas de diversas etnias dos povos originários do Brasil
A Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), vinculada à Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro (SECEC-RJ), abriu neste sábado (22), a exposição coletiva gratuita Elas Indígenas. A mostra reúne 50 obras de oito mulheres de povos indígenas do norte ao sul do país, entre elas estão obras do Coletivo Kadiwéu, de Mato Grosso do Sul.
As artistas selecionadas são Ana Kariri (Paraíba), Benilda Kadiwéu e Coletivo Kadiwéu (Mato Grosso do Sul), Juliana Guarany (Rio de Janeiro), Mara Kambeba (Amazonas), Tapixi Guajajara (Maranhão), Vãngri Kaingáng (Rio Grande do Sul), Varin Marubo (Amazonas) e We'e'ena Tikuna (Amazonas). A exposição ficará aberta até o dia 10 de setembro.
O curador da exposição e também diretor da EAV, Alberto Saraiva, considera “extremamente importante” mostrar o trabalho dessas artistas agora. “A gente escolheu apresentar justamente os grafismos dos seus referidos povos, porque esses grafismos já existiam no Brasil como a arte desses povos. E hoje, através dessa exposição, a gente abre uma porta para que esses grafismos artísticos sejam inseridos na história da arte brasileira. Porque isso não aconteceu ainda, de forma clara. É preciso fazer um esforço nesse sentido”, disse o curador à Agência Brasil.
Protagonismo
Alberto Saraiva explicou que a escolha por mulheres e não por homens para a exposição é porque as mulheres têm tido um destaque e protagonismo muito grandes na luta pelos seus povos. “Elas foram gradativamente entrando nas universidades, na política e, também, na arte. A maioria das mulheres que estão aqui participa de movimentos de mulheres em prol dos direitos indígenas e dos direitos das mulheres na vida, na sociedade e na política”.
Uma das artistas, Varin Marubo, é doutora em antropologia e trabalha com a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), uma organização não governamental (ONG) que acompanha os povos indígenas na região. “Ela trabalha com os povos isolados da Amazônia e é muito importante que ela, como indígena, faça esse papel junto aos povos também indígenas”, comentou o diretor da EAV.
A exposição marca o lançamento de um núcleo de arte indígena que a EAV está abrindo, denominado Ações Indígenas Permanentes. “Não é interessante para a Escola só fazer uma exposição que dura dois meses. É preciso ter uma ação consistente que provoque a inserção dessas mulheres e desses saberes indígenas na estrutura pedagógica, na estrutura de ensino da Escola”, destacou Saraiva. Varin Marubo, por exemplo, foi convidada para ser professora da EAV. “Ela se tornou a primeira professora indígena de arte na EAV e dará aula sobre grafismo do povo marubo. Varin será a primeira professora indígena do corpo docente do Parque Lage”.
Alberto Saraiva espera que em 2024 haja a cada mês um indígena dando curso ou oficina na Escola sobre saberes indígenas. Ele já pensou em pintura corporal e pigmentos como primeiros temas a serem abordados. Antropólogos e linguistas que são também indígenas serão convidados a participar dessas atividades. “A exposição Elas Indígenas é que marca a presença dos povos indígenas na Escola”, reiterou Alberto Saraiva.
Escolha
A escolha pelos grafismos para a mostra tem um significado histórico, porque são anteriores à chegada dos portugueses no país. “E porque há uma fricção entre a tradição visual europeia que chega aqui no território brasileiro e essa tradição visual que já existia aqui. Por isso é que estamos trabalhando com grafismos e não com outras representações, como paisagens, por exemplo”. O curador esclareceu que os povos indígenas não pensam como quem estuda, se forma em arte e se torna artista.
“Eles já são artistas porque, ali, todo mundo participa dessa construção estética. Está no corpo da pessoa, está nos lares, na cestaria, nos objetos. Está em tudo naturalmente. É um sistema diferente desse que foi trazido pelo colonizador europeu. É um sistema não capitalista”, enfatizou Saraiva. Por isso, reforçou que as mulheres indígenas que participam da exposição “já são artistas naturalmente”. Apontou que a exposição promoverá a inserção dessas artistas dentro de um sistema artístico que é capitalista. “Com a clareza que elas têm hoje, entendem isso”, concluiu o curador.
Com Agência Brasil