Doa a quem doer, Nany People fala como país sem cultura é fábrica de boçais
Atriz lotou Palácio Popular da Cultura com seu show de humor. Em entrevista falou sobre carreira, aceitação e as ameaças à cultura
A noite de sábado (15) foi de humor e Palácio Popular da Cultura lotado. No palco, Nany People soltou o verbo com seu show “TsuNANY”, espetáculo solo idealizado por ela. De maneira divertida, falou sobre hábitos da vida moderna. Mais do que isso, ela ainda contou sobre a carreira e desceu à lenha, sem medo, na ignorância que insiste em mexer com cultura do país.
Com Brasil que mata, e muito, pela homofobia, em que vida média de transexuais é de 35 anos, porque o mundo não dá a elas o direito de serem amadas e educadas, e uma Campo Grande altamente conservadora, a pergunta principal era: quem vai ao show da Nany People?
O cenário foi de um teatro lotado e uma plateia diversa, de jovens a idosos, solteiros a casados, gente sem nenhum figurino especial a transexuais e drag queens bem produzidas. O show é cheio de bom humor e muito besteirol, do tipo que mostra que Nany People é “gente como a gente”. Ela fala o que alguns consideram absurdos, como fazer sexo e chupar, mas, sempre lembrando que seu “show é familiar”, garantindo ainda mais humor. Em um momento do espatáculo ela também desce do palco para interagir com plateia.
Nany lembra que seu sucesso percorreu caminhos difíceis e fala como o estrelismo hoje acontece “do nada”. Falou das novelas, do teatro, shows em boates, seu trabalho com Hebe Camargo e os momentos que deram a ela a projeção nacional. Em entrevista ao Lado B ela diz que ser transexual nunca fechou portas e ousa dizer que tudo é “uma questão de talento”.
Questionada sobre o que acha de ver um público pagante lotar seu show, e o mesmo não valorizar o trabalho de outras drags que batalham na noite, ela resume. “Eu não sei o nível da drag”. E acrescenta. “Ninguém me vê como trans, me vê como artista. Eu me imponho com o meu talento e trabalho. Sei que tenho uma série de discursos e opiniões que são contrários ao que os outros querem que eu diga, mas a internet deu voz a um bando de boçais que não sabem o que dizer, que se não tivesse a internet eles passariam batidos”, afirma.
Ela também diz que se preocupa mais com a cultura do que questões que envolvem preconceito. “Quando há cultura você se impõe em qualquer lugar. Tenho 54 anos e sei que sou uma privilegiada por ter tido uma família que me empoderou, mas para ter talento e reconhecimento tem que ter cultura”, acredita.
Nany afirma que a relação com o teatro é a principal ferramenta para alcancar o respeito do público. “Não quero que me aceitem, quero que me respeitem”, diz. “O problema do nosso governo brasileiro é não ter cultura. Ele está atacando a cultura porque ele é burro e a ignorância é atrevida. Quando você mexe com a cultura é tudo muito mais difícil”, acrescenta.
E a falta de cultura, na visão da atriz, é o que torna viver da arte um martírio para alguns. “Teatro para muita gente é dispensável. Tem gente que acha que o teatro não existe como profissão. Por isso, eu me preocupo mais com a cultura do que com o discurso da aceitação.Se não houver cultura ninguém se transforma. O perigo desse país é que estão mexendo com a cultura”, reforça.
Para quem pergunta do talento ou busca seguir a mesma carreira, a atriz manda sugestões. “Eu conheço muita gente talentosa, que para ser talentosa saiu da zona de conforto e tirou a bunda da cadeira, mas ainda são poucos. A vida artística é muito ampla, todo mundo vai tentar a carreira artística, mas poucos tentam viver com ela. Se eu não me reinventasse constantemente eu seria enxotada para debaixo do tapete. Por isso, o segredo é fazer o trabalho com graça, elegância e gosto, sem ser presunçosa, isso é o que conta na vida”.
Fãs – Ao final do show, o cenário era de olhares encantados pela disposição e humor de Nany aos 54 anos. Lazara Lessonier, 67, é artista plástica e foi sozinha ao show. “Já que não tinha companhia vim sozinha mesmo", riu. Ela disse que fã da atriz desde que a conheceu na novela. “Fiquei muito feliz de ver o superpoder que ela tem de agradar as pessoas. Ela é um ser humano que merece todo amor e respeito, é nota 10”, afirmou.
O casal Gilton Almeida, de 63 anos, e a Lilian Sanz, 55, também estavam admirados. “Campo Grande ainda é carente de eventos culturais como esse. Eu conheço Nany de São Paulo e da TV, gosto por ela ser descontraída”. E esposa completa que investiu no ingresso rir muito. “Ela faz rir. A conheci na novela e me encantei”.
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