Falando sobre Bolshoi pela cidade, menina paga preço alto pelo sonho de dançar
Quando Cecília Basseto chegou às salas de aula da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, em Joinville, após enfrentar uma intensa e acirrada disputa, o sonho era um só: viver da dança. Mas nem de longe ela imaginava que o esforço para dedicar-se integralmente à arte seria tanto. Hoje, aos 14 anos, a menina sul-mato-grossense encara uma jornada de visitas em Campo Grande para falar dos planos e das lições aprendidas com a dança a outros jovens. Mas deixa claro no semblante cansado que, para chegar até lá, o preço é alto.
A menina já foi matéria no Lado B em 2012, quando o primeiro grande passo foi dado ao ser selecionada pelo Bolshoi. Hoje, o sonho de Cecília ainda é fazer parte do elenco de grandes companhias de dança pelo mundo. Mas a medida que o ritmo aumenta, sobra pouco tempo para atividades comuns no universo de uma adolescente.
Sua rotina começa às 06h40. Cecília vai para escola no período da manhã, não tem tempo para sentar à mesa na hora do almoço e corre para as atividades na escola de balé no período da tarde. "Ela come no carro. Depois entra no balé, faz todo preparatório e se dedica às aulas", explica Adalton Garcia, pai de Cecília, nitidamente a pessoa que mais parece interessada na divulgação da filha.
Apesar do ritmo corrido, o pai jura que a menina leva uma vida saudável. "Ela tem uma alimentação toda balanceada. A nutricionista passa um cardápio, a mãe prepara e ela come a caminho da escola. É uma dedicação exclusiva", reforça.
Além da escola, Cecília estuda dança clássica, teatro, piano, história da arte, repertório e dança contemporânea e já tem a dimensão da grade que será exigida no próximo ano. "Sei que temos também teoria da música e dança popular histórica", detalha.
Em entrevista, Cecília parece exausta, mas afirma que a dura disciplina do balé clássico nunca a fez pensar em desistir. "Acho que apenas preciso de férias", resume sobre suas vontades.
De postura impecável e como quem mede as palavras, a bailarina fala pouco da dança. Mas o pai não esconde a empolgação sobre o universo da dança.
"Temos muito orgulho dela, já fez parte de vários espetáculos, por exemplo, O Quebra Nozes e Dom Quixote. É uma menina dedicada e esforçada", diz o pai.
Durante esta semana, Cecília tem visitado crianças e adolescente de várias regiões da cidade para dar seu testemunho sobre como é lutar por um sonho. Na visão dela, todo mundo pode, mas é preciso esforço. "Eu falo que todo mundo pode tentar, independente da condição social", resume.
Mas a iniciativa de levar sua história adiante foi, exclusivamente, da família. "Essa é devolutiva que a gente sempre quis, é uma cobrança nossa que ela faça isso e que faça mais vezes. Para que outras crianças vejam o interesse dela e saibam que podem conseguir", diz Adalton.
Sonho - Cecília se interessou pelo balé aos 2 anos e passou a treinar aos 4. Começou em um projeto social no Sesc e depois ganhou uma bolsa para uma escola de dança na Capital. Aos 9 anos a família a levou para Santa Catarina, onde fez o teste e foi uma das 16 selecionadas para o Bolshoi entre 1.6 mil alunas.
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