Felizes ou "bugadas", crianças ajudam a escrever dicionário de sentimentos
A escritora Fernanda Salgueiro deu muitas voltas até ter a certeza que tinha o dom para fazer a diferença. Há um ano, ela se dedicou a projeto social que rendeu seu quarto livro, uma obra que fala sobre sentimentos que teve a ajudinha de crianças pelos País.
Fernanda realizou diversas oficinas antes da obra ficar pronta, para ouvir o que a criançada tinha a dizer sobre os próprios sentimentos. "Começamos com 12 e terminamos com 39 sentimentos para compor o livro. Eu perguntava qual o sentimento quando algum deles tirava nota 10 na prova e, quando alguém respondia feliz, a gente passava a escrever sobre a felicidade".
Assim como a alegria, o medo, culpa, tristeza e até termos da modernidade como ''bugado'' deram sentido ao que as crianças pensavam. "Os sentimentos foram surgindo e as coisas foram além do que eu imaginava. Com isso eu percebi que não poderia limitar essas crianças, muito menos com a formalidade da língua portuguesa", destaca.
"Dicionário Ilustrado de Sentimentos" é um apanhado de histórias, emoções e complementos traduzidos na ingenuidade infantil, acolhidos pela escritora. Há, principalmente, situações cotidianas como ansiedade, raiva, culpa, medo e felicidade.
"Naquele instante percebi que não existe bom ou ruim. Temos que acolher esses sentimentos e fazer com que elas (crianças) entendam o que estão sentindo. Porque acredito que nunca é cedo para falar com as crianças sobre isso".
Além de tudo, o livro é também um projeto de incentivo à leitura, explica Fernanda. "Recentemente, saiu um estudo sobre os retratos da leitura no Brasil e a constatação é que 80% dos leitores nunca ganharam um livro quando eram criança. Então, esse projeto além de envolver a criança na cadeia produtiva, faz questão de incentivar", destaca.
Em 88 páginas, além da leitura e ilustrações, o livro é composto por espaços interativos para que cada leitor faça transbordar a curiosidade. "O espaço é para que as crianças possam desenhar e dar cor a cada sentimento delas", explica.
A resposta - O desejo pela Literatura surgiu na infância, mas há 10 anos, problemas de saúde afastaram Fernanda do sonho de ser escritora. Morando em Curitiba, foi durante uma viagem para um tratamento, que ela encontrou respostas para sensação guardada há anos.
"Nesse período eu estava na casa da minha mãe e encontrei um baú com um diário de quando eu era pequena. Lá estava com a letrinha de criança dizendo que eu gostaria de ser escritora quando crescesse. Percebi quantas voltas dei nesse mundo para perceber algo que eu já sabia aos 12 anos", revela.
A partir desse dia, Fernanda foi estudar. já com o sonho de contribuir para que as crianças tivessem mais acesso a leitura. Por isso, a obra financiada pela Lei Roanet, de incentivo à cultura, tem distribuição gratuita.
"Estive ontem na Secretária de Educação para que a gente consiga distribuir em bibliotecas públicas de Mato Grosso do Sul. Porque é uma satisfação enorme conseguir fazer algo pela minha cidade e por essas crianças", pontua.
Após o lançamento do livro na Casa de Ensaio em Campo Grande, a criançada aproveitou 40 minutos de demonstração de aula de yoga praticados com a contação de histórias na entidade. "É só uma demonstração para que eles saiam daqui ainda mais felizes. Quem sabe a gente não consiga implantar o yoga para essas crianças", torce Lais Dória, fundadora e presidente da Casa de Ensaio.