Na correria da pauta, também há espaço para olhar sensível aos mais vulneráveis
No dia a dia das pautas do Campo Grande News, seria muito fácil se tornar insensível aos dramas e condições vividas pela população. São vários casos diários acompanhados por quem apura e fotografa as notícias. Mas não é o que acontece com o fotógrafo daqui do site André Bittar. Ele criou a exposição "Cotidianos que inspiram", especialmente para o aniversário de 2 anos da Escola da Assistência Social de MS 'Mariluce Bittar', que aconteceu na última quinta-feira (27/07).
Na mostra, 12 imagens capturam momentos únicos de crianças em meio às dificuldades que enfrentam nas favelas e conjuntos habitacionais de Campo Grande. A maioria das fotos foram feitas em pautas jornalísticas, em momentos difíceis para as famílias, como desapropriações.
Mesmo diante do cenário triste, a alegria das crianças chamava atenção do fotógrafo. "Isso que sempre me deixou tocado. Você chega na pauta desanimado, mas sai de lá de outro jeito. As crianças vivendo com tão pouco, tão menos que eu, mas sempre com aquele sorriso bonito no rosto", diz André.
Ele relata que, ao longos dos anos como repórter fotográfico, desenvolveu uma maior afinidade com as meninas, especialmente nos últimos três anos. Por isso, metade das fotos são de meninas, geralmente em momento de espontaneidade para as lentes. "Depois que minha mãe faleceu, em 2014, fiquei com essa coisa com as mulheres, de defesa e de carinho", avalia.
A Escola de Assistência Social leva o nome da mãe de André, Mariluce Bittar. Ela faleceu devido a um câncer, há três anos. Foi ela teve influência direta no olhar apurado do fotógrafo para as pessoas em situação de vulnerabilidade. "Minha mãe desenvolvia muitos trabalhos na defesa de minorias, de índios e da população negra", explica. "Acho que é por isso que eu desenvolvi uma sensibilidade maior com essas pessoas", reflete.
Com a mostra, ele tem a intenção de ajudar e evidenciar uma realidade que muita gente sequer conhece. "Tem amigos meus que não sabem que ainda existe favela em Campo Grande. A intenção é mostrar. Ainda quero realizar algum trabalho social maior", pontua.
As 12 imagens foram escolhidas entre mais de 600 fotografias. Uma das mais emblemáticas mostra uma menina tocando violino, enquanto acontece uma desapropriação na sua casa, com o caos e tratores a sua volta. "Na exposição, um senhor chorou vendo a foto, ficou emocionado", conta André. "Faz perceber o alcance que uma fotografia pode ter".
O fotógrafo diz que vai continuar capturando esses momentos a cada pauta jornalística, sempre focando nas crianças que encaram situações de risco com tanta inocência e otimismo. "O que me chama atenção é a veracidade, o olhar verdadeiro da criança, sem influência ainda do mundo. Muita coisa que eu gosto vai passando. Mas com as crianças não, eu sempre tenho esse sentimento", finaliza.
A exposição ficará aberta até o fim da semana que vem, sexta-feira (04/08), na Rua André Pace, 630, bairro Guanandi.
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