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Artes

Nada de ‘empoeirada’: vencedora do Jabuti é prova de poesia viva na rua

Atriz e poeta premiada, Luiza Romão defende literatura nos livros, mas reforça potência da arte falada

Por Aletheya Alves | 27/05/2024 07:01
Luiza Ramão, com microfone, durante evento do projeto "Miolo". (Foto: Aletheya Alves)
Luiza Ramão, com microfone, durante evento do projeto "Miolo". (Foto: Aletheya Alves)

“Minha chegada e formação toda como poeta se deu através dos movimentos de poesia falada com o slam, sarau, leituras públicas e esse lugar, para mim, foi essencial”, introduz a poeta e atriz Luiza Romão. Em Campo Grande, a autora vencedora do prêmio Jabuti 2022 participou de um circuito de leituras em bar na 14 de Julho, conversou com o Lado B e defendeu que longe de ficar “empoeirada”, a força da literatura nos livros não exclui a potência da arte falada.

Usando a própria trajetória como exemplo, Luiza, autora de “Também guardamos pedras aqui”, destacou que o momento talvez seja de repensar a forma com que os cânones são entendidos e reforçar os movimentos que a literatura independente vem tomando. Isso dito antes de seguir para o lado de fora do bar, com o frio de 14ºC, para dividir a leitura pública de “Caixa D’Água”, de Febraro de Oliveira, com Karô Castanha.

Questionada sobre como ver a poesia viver mais intensamente em espaços ainda conservadores como Campo Grande e Mato Grosso do Sul, a resposta foi que, em resumo, é necessário gerar espaços de possibilidade. É aqui que Luiza explicou que sua trajetória fala muito sobre como as poéticas não precisam, necessariamente, ser criadas com as capas e contracapas dos livros.

“Se não fosse esse movimento (da poesia falada), eu não seria poeta. Acho que cada território tem sua especificidade, não é porque isso funcionou em São Paulo que vai funcionar aqui, mas há algo nisso de se criar condições para que as novas produções sejam lidas, escutadas e analisadas com a mesma atenção que se dá aos autores consagrados”, diz a escritora.

Na prática, ao invés de focar nas definições sobre o que é ou deixa de ser literatura, Luiza preferiu comentar sobre como existe uma falta de preocupação com a produção cultural em âmbitos variados.

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Acho que há algo de precariedade de políticas culturais de longo prazo no Brasil, nós passamos quatro anos de um desmonte total. Isso pensando no pouco de política pública que a gente tinha e ainda mais quando pensamos em uma cena cultural que não está vinculada ao eixo cultural Rio-São Paulo”, comenta Luiza.

Mas, ao mesmo tempo em que há uma preocupação com essa formação de base e incentivo, ela faz questão de garantir que tem visto uma cena forte da poesia independente que vai desde as batalhas de slam até produções que fogem à escrita nas páginas e chegam ao audiovisual, por exemplo.

Sua participação no projeto "Miolo: Circuito de Leituras Integrais", em Campo Grande, é exemplo de como a cena de produtores independentes têm evoluído.

É por esse caminho que Luiza reflete sobre como as tradições e as obras tidas como cânones podem e precisam ser repensadas, já que há espaço para uma construção do futuro conectada com a história.

“Tem algo desse nosso momento que é repensar o cânone, primeiro pensando na obrigatoriedade dele enquanto cânone, já que na América Latina a gente tem tantos referenciais, literaturas e culturas. Se vamos continuar manejando esse cânone, que outros conhecimentos a gente pode elencar?”, questiona a poeta.

Tomando Manoel de Barros como uma possibilidade para se pensar no assunto, Luiza logo opinou que o poeta muito provavelmente se sentiria traído se fosse colocado nesse espaço. E, completando a reflexão sobre como as variadas formas de literatura têm borbulhado, argumentou que colocar as poéticas à sombra do que pode ser considerado “grande”, é mais uma perda do que qualquer outra coisa.

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