ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
DEZEMBRO, DOMINGO  29    CAMPO GRANDE 31º

Artes

Nada de ‘empoeirada’: vencedora do Jabuti é prova de poesia viva na rua

Atriz e poeta premiada, Luiza Romão defende literatura nos livros, mas reforça potência da arte falada

Por Aletheya Alves | 27/05/2024 07:01
Luiza Ramão, com microfone, durante evento do projeto "Miolo". (Foto: Aletheya Alves)
Luiza Ramão, com microfone, durante evento do projeto "Miolo". (Foto: Aletheya Alves)

“Minha chegada e formação toda como poeta se deu através dos movimentos de poesia falada com o slam, sarau, leituras públicas e esse lugar, para mim, foi essencial”, introduz a poeta e atriz Luiza Romão. Em Campo Grande, a autora vencedora do prêmio Jabuti 2022 participou de um circuito de leituras em bar na 14 de Julho, conversou com o Lado B e defendeu que longe de ficar “empoeirada”, a força da literatura nos livros não exclui a potência da arte falada.

Usando a própria trajetória como exemplo, Luiza, autora de “Também guardamos pedras aqui”, destacou que o momento talvez seja de repensar a forma com que os cânones são entendidos e reforçar os movimentos que a literatura independente vem tomando. Isso dito antes de seguir para o lado de fora do bar, com o frio de 14ºC, para dividir a leitura pública de “Caixa D’Água”, de Febraro de Oliveira, com Karô Castanha.

Questionada sobre como ver a poesia viver mais intensamente em espaços ainda conservadores como Campo Grande e Mato Grosso do Sul, a resposta foi que, em resumo, é necessário gerar espaços de possibilidade. É aqui que Luiza explicou que sua trajetória fala muito sobre como as poéticas não precisam, necessariamente, ser criadas com as capas e contracapas dos livros.

“Se não fosse esse movimento (da poesia falada), eu não seria poeta. Acho que cada território tem sua especificidade, não é porque isso funcionou em São Paulo que vai funcionar aqui, mas há algo nisso de se criar condições para que as novas produções sejam lidas, escutadas e analisadas com a mesma atenção que se dá aos autores consagrados”, diz a escritora.

Na prática, ao invés de focar nas definições sobre o que é ou deixa de ser literatura, Luiza preferiu comentar sobre como existe uma falta de preocupação com a produção cultural em âmbitos variados.

Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Acho que há algo de precariedade de políticas culturais de longo prazo no Brasil, nós passamos quatro anos de um desmonte total. Isso pensando no pouco de política pública que a gente tinha e ainda mais quando pensamos em uma cena cultural que não está vinculada ao eixo cultural Rio-São Paulo”, comenta Luiza.

Mas, ao mesmo tempo em que há uma preocupação com essa formação de base e incentivo, ela faz questão de garantir que tem visto uma cena forte da poesia independente que vai desde as batalhas de slam até produções que fogem à escrita nas páginas e chegam ao audiovisual, por exemplo.

Sua participação no projeto "Miolo: Circuito de Leituras Integrais", em Campo Grande, é exemplo de como a cena de produtores independentes têm evoluído.

É por esse caminho que Luiza reflete sobre como as tradições e as obras tidas como cânones podem e precisam ser repensadas, já que há espaço para uma construção do futuro conectada com a história.

“Tem algo desse nosso momento que é repensar o cânone, primeiro pensando na obrigatoriedade dele enquanto cânone, já que na América Latina a gente tem tantos referenciais, literaturas e culturas. Se vamos continuar manejando esse cânone, que outros conhecimentos a gente pode elencar?”, questiona a poeta.

Tomando Manoel de Barros como uma possibilidade para se pensar no assunto, Luiza logo opinou que o poeta muito provavelmente se sentiria traído se fosse colocado nesse espaço. E, completando a reflexão sobre como as variadas formas de literatura têm borbulhado, argumentou que colocar as poéticas à sombra do que pode ser considerado “grande”, é mais uma perda do que qualquer outra coisa.

Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.

Nos siga no Google Notícias