Personalidades e instituições lamentam morte do poeta Manoel de Barros
A morte de Manoel de Barros, nesta quinta-feira (13), virou um verdadeiro acontecimento e já é um dos assuntos mais comentados do Twitter. Não poderia ser diferente. O poeta que ganhou dois prêmios Jabutis ao longo de seus 77 anos de carreira (em 1989 com “O Guardador de Águas”, e em 2002 com “O Fazedor do Amanhecer”) conquistou, com suas palavras simples, carregadas de significados, o respeito de anônimos e personalidades que, hoje, se manifestaram.
A escritora Lya Luft disse, em entrevista ao portal Uol, que Manoel foi uma figura extremamente original e um artista livre de convenções e modismos sociais, com rica e surpreendente visão da vida e da natureza.
“Nessa simplicidade foi altamente requintado. Sempre longe das nasalações da vida literária, muito enriqueceu a literatura brasileira”, destacou.
Ao jornal O Globo, Pedro Cezar, diretor do documentário “Só dez por cento é mentira” (2008), que fala sobre a vida do poeta cuiabano, comentou que Manoel foi “inventivo, original, experimental e atrevido até o fim da vida” e que fez isso através de uma linguagem única.
“Ele também falou de sentimentos universais do homem, especialmente os mais positivos, como o amor. Você não vê em sua obra coisas sobre a inveja, o ciúme, a traição. Existe quase uma coisa religiosa sobre o que o ser humano tem de melhor. Ele falou com muita humildade sobre todos os seres vivos: as árvores, os bichos. Deu os sentimentos mais nobres para eles, e isso com muita criatividade”, afirmou, ao comentar que o legado do autor é composto de versos bonitos e a vontade de originalidade no ser humano.
“Muita gente tem vontade de dançar quando vê o Michael Jackson, ou de jogar futebol quando assiste ao Neymar. Da mesma forma, todo mundo quer escrever quando lê Manoel de Barros. As melhores ilusões vêm quando estamos diante de alguém muito especial e inventivo. E o Manoel transmite essa boa ilusão", comparou.
De Mato Grosso do Sul vei outra mensagem de reconhecimento, de um também poeta, Emmanuel Marinho. “ É uma perda irreparável para o nosso País e para o mundo. Manoel foi além da fronteira de Mato Grosso do Sul. Além de grande poeta, era meu amigo. Tinha grande importância na minha vida. É uma dorzinha cheia de poesia”, disse, referindo-se à morte do autor.
Por meio de nota oficial, entidades também se manifestaram. A Editora Planeta, que lançou o livro “Memórias inventadas para crianças”, de autoria do cuiabano, lamentou a perda do que chamou de “um dos maiores poetas do Brasil”.
“Manoel de Barros foi voar com seus pássaros e as suas palavras. E como a mãe ensinava, temos a certeza de que ele estará em todas as partes através da eternidade dos seus poemas”, diz trecho da nota.
A Fundação Manoel de Barros divulgou que “o homem Manoel de Barros foi finito como todos nós, mas o poeta e suas obras pautadas no belo sorriso, simplicidade, no amor e na criatividade, permanecerão para sempre. Gerações após gerações”.
A CBL (Câmara Brasileira do Livro) manifestou “imenso pesar” e ressaltou que teve a honra de reconhecer o trabalho do poeta por meio do Prêmio Jabuti.
“A literatura brasileira perde hoje um grande e importante talento, mas sabemos que ele continuará vivo na memória de todos nós, leitores. Fica como lembrança seu um último poema, a “Turma”, que selou sua carreira com a leveza da linguagem e da imaginação das crianças, diz o texto.
A turma, de Manoel de Barros
A gente foi criado no ermo igual ser pedra.
Nossa voz tinha nível de fonte.
A gente passeava nas origens. Bernardo conversava pedrinhas
com as rãs de tarde.
Sebastião fez um martelo de pregar água
na parede.
A gente não sabia botar comportamento
nas palavras.
Para nós obedecer a desordem das falas
Infantis gerava mais poesia do que obedecer
as regras gramaticais.
Bernardo fez um ferro de engomar gelo.
Eu gostava das águas indormidas.
A gente queria encontrar a raiz das
palavras.
Vimos um afeto de aves no olhar de
Bernardo.
Logo vimos um sapo com olhar de árvore!
Ele queria mudar a Natureza?
Vimos depois um lagarto de olhos garços beijar as pernas da Manhã!
Ele queria mudar a Natureza?
Mas o que nós queríamos é que a nossa
palavra poemasse.”