Revoltada com censura, Viviane Mosé lembra que a arte não tem limite
"A arte é livre, arte é arte, e não está ali para dizer que é para fazer aquilo que ela está mostrando, a arte é uma expressão, ela não pode ter limite, nunca teve". Ao dizer estas palavras, a filósofa Viviane Mosé expressava toda a indignação que sentia sobre o caso da exposição Cadafalso, da artista plástica Alessandra Cunha, que foi denunciada nesta semana pelo parlamento. Uma das telas da autora foi apreendida com a acusação de incitar a pedofilia.
Avessa ao radicalismo, a filósofa destaca que a internet mudou o curso do mundo e que hoje em dia a censura não é mais capaz de calar a voz do povo. "A gente tinha uma sociedade na qual os lugares estavam marcados, tudo estava no lugar (em um lugar torto, mas estava). A internet desfez a lógica, a gente está reconstruindo a sociedade", alega Viviane.
Às reações deste tipo, Viviane diz que chama de radical de direita. "Que tem mania de trazer de volta a censura, assim como tem gente que pede de volta o regime militar, é o desespero daqueles que estão perdendo o poder, pois hoje, quem tem poder é a internet", afirma.
Sobre o fracasso previsto de uma possível ditadura, Viviane responsabiliza o poder do compartilhamento. "A censura pode até tirar um quadro de uma parede, mas a foto dele vai ser infinitamente compartilhada".
A filosofa bate na tecla de que o poder está mudando de mãos e é necessário que todos estejam atentos a este novo ciclo. "O presidente dos Estados Unidos quer colocar o país de novo da ponta do mundo, mas não há mais ponta, só tem rede", argumenta.
Ela critica enfaticamente as reações negativas às exposições apresentadas. "As pessoas não entendem que acabou, perdeu. A sociedade tem que se reorganizar, os artistas precisam se organizar, os jovens. Nós temos que nos contrapor a eles, eles são menores, são apenas os últimos desesperados que estão vendo que não têm controle. A gente não pode deixar isso acontecer. Os artistas tem que protestar, a juventude tem que protestar, pois são eles que daqui alguns anos estarão no poder", provoca a filósofa.
Para ela, a visibilidade que a internet proporciona de todas as situações é o ponto chave da questão. "Quem estava meio escondido com vergonha de mostrar seu preconceito, seu racismo, hoje aparece. Mas aparecer não para gente cortar, temos o direito de viver a diferença, as pessoas tem que viver suas vidas com respeito", destaca.
A filósofa encerrou a entrevista resslatando que o espaço da arte é o da experimentação e ela ainda explana sobre a tão polêmica liberdade expressão. "O artista se expressa através da arte. Se uma pessoa não gostou, ela tem todo o direito e liberdade de dizê-lo, de expressar o descontentamento, mas isso da o direito a ninguém de retirar a arte da parede", finaliza.
Viviane Mosé é uma poetisa, filósofa, psicóloga, psicanalista e especialista em elaboração e implementação de políticas públicas. Mestre e doutora em filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ela veio a Campo Grande para ministrar uma paletra na Noite da Poesia.