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Artes

Vizinhança expulsa circo do Coopharádio que sai à caça de onde montar picadeiro

São mais de 40 anos de história vivida e apresentada debaixo da lona da Família Perez

Paula Maciulevicius Brasil | 23/12/2019 06:47
São mais de 40 anos de história com o nome "Top Circo", mas se contar a origem na família, são pelo menos seis décadas. (Foto: Arquivo/Vaca Azul)
São mais de 40 anos de história com o nome "Top Circo", mas se contar a origem na família, são pelo menos seis décadas. (Foto: Arquivo/Vaca Azul)

Às vésperas de abrir o picadeiro, a vizinhança não quis saber de circo no bairro Coopharádio, em Campo Grande. O triste episódio aconteceu na semana passada, depois que a Família Perez, proprietária do "Top Circo" já havia pago todas as taxas e estava com a documentação em mãos, prontos para a estreia.

"Não foi a população, foi um vizinho que é influente e não quis o circo no local", conta Hugo Perez, de 44 anos, o palhaço que está à frente do circo. Eles vinham do bairro Moreninhas onde passaram uma temporada e ocuparam um terreno no bairro na terça-feira da semana passada. Com espetáculo previsto para a última sexta (20), no dia anterior eles foram aconselhados a deixar o local. "Quando chegamos aqui já fomos recebidos pela Polícia, ligaram e denunciaram que tinham ciganos invadindo o local e sujando a área", relata Hugo.

Os "ciganos" eram as 30 pessoas da família Perez que chegaram nas carretas para apresentar espetáculo na região. "Nós mostramos toda a documentação de engenheiro, de autorização. Eu pago todos os meus impostos, meu circo é cadastrado na Prefeitura e a gente não pode ficar no local. Achei falta de respeito pela cultura. Para começar que não somos de fora, somos aqui de Campo Grande, o único circo do Estado registrado é o nosso. Foi humilhante o que passamos no local, polícia e vizinhos rindo da nossa cara. Nunca tínhamos passado por isso", lamenta. 

Parte da Família Perez, que está por trás dos espetáculos do Top Circo. (Foto: Arquivo Pessoal)
Parte da Família Perez, que está por trás dos espetáculos do Top Circo. (Foto: Arquivo Pessoal)

São mais de 40 anos de história com o nome "Top Circo", mas se contar a origem na família, são pelo menos seis décadas. O picadeiro que já teve o nome de Circo Real Pantanal nos 1950 nasceu com o mexicano, mágico Liochan e, chegou pela fronteira em Mato Grosso do Sul. Depois de chegar ao Brasil, o mágico não gostou do que viu e pediu à família para voltar para o México. Com o circo, ficaram a mãe e os filhos, um deles, Paulo Vitor Perez, pai de quem hoje está à frente do Top Circo, Hugo.

Este ano eles também já foram notícia, quando um incêndio queimou parte do material de trabalho da família, à época instalada no bairro Los Angeles.

Há décadas em Campo Grande, o circo só não chegou às regiões centrais. Em se tratando de periferia, já passou por todas as regiões da cidade se apresentando com palhaços, malabaristas, trapezistas, tecidos e os transformers.

"Isso é preconceito com circo, discriminação. Ali não era praça, era um campo sem nada. Igual a área que eu estou agora, terreno da prefeitura", garante Hugo. O circo se mudou às pressas para um terreno no Tiradentes e estreou nesse sábado (21). "Fomos muito bem recebidos aqui, só que eu tive que correr atrás de documentação. Tivemos que pagar tudo de novo para poder estrear", ressalta.   

Os espetáculos são de segunda a segunda, às 20h30, com ingresso único a R$ 10,00. Mas nas próximas semanas já deve entrar promoção. "Com pai e mãe, criança não paga. Vamos trabalhando assim, com promoções, para a gente poder sobreviver", descreve Hugo. 

A tenda do circo é novinha e foi comprada com o dinheiro vindo de um edital do Fmic (Fundo Municipal de Incentivo à Cultura). Até pouco tempo atrás, o circo também contava com Globo da Morte, mas teve de se desfazer da atração devido ao estado que já oferecia riscos. 

Questionado sobre o que gostaria de falar para a população, Hugo diz que em nome da Família Perez, gostaria de ver apoio à cultura de circo. "Se você ver chegando circo no bairro, ajude. A gente é ser humano como qualquer um, respeite o trabalhador. É o nosso trabalho. Acolhe, porque circo é cultura e enquanto existir criança sorrindo, o circo jamais acabará", poetiza. 

O circo está montado na Avenida José Nogueira Vieira, em frente ao asilo São João Bosco. Os espetáculos são todos os dias, às 20h30. 

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Há décadas em Campo Grande, o circo só não chegou às regiões centrais. Em se tratando de periferia, já passou por todas as regiões da cidade. (Foto: Arquivo/Thailla Torres)
Há décadas em Campo Grande, o circo só não chegou às regiões centrais. Em se tratando de periferia, já passou por todas as regiões da cidade. (Foto: Arquivo/Thailla Torres)
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