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Artes

Músicos vivem do erudito em Estado sem tradição clássica

Ângela Kempfer | 05/11/2011 12:38
Felipe aprendeu a tocar violino na igreja. (Foto: João Garrigó)
Felipe aprendeu a tocar violino na igreja. (Foto: João Garrigó)

Aos 10 anos de idade, Felipe frequentava os cultos da Igreja Evangélica para ouvir o som do violino. “Ficava olhando para o outro lado, enquanto todo mundo olhava para a frente, só para ver o músico tocando”, comenta.

O menino pediu o instrumento para o pai, ganhou, e desde então nunca deixou de estudar. Dez anos depois, é um dos 35 músicos da Orquestra Sinfônica Municipal de Campo Grande e no mês passado venceu na categoria solo o Prêmio Campo Grande de Música de Concerto.

Nos próximos dias, a orquestra apresenta o trabalho ao público da Capital em espaços diferentes, da praça ao teatro. No repertório estão composições clássicas e populares, com arranjos eruditos.

Entre cordas e instrumentos de sopro, os músicos são a maioria jovem, estudantes ou recém formados no curso de Música da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), criado já há 10 anos.

Jovem, Rodrigo é maestro assistente da Orquestra.
Jovem, Rodrigo é maestro assistente da Orquestra.

Rodrigo Faleiros, aos 28 anos, está entre o rock e a sinfônica. Maestro auxiliar, ele começou como baixista da banda Jennifer Magnética, entrou no curso de Música e agora deslancha no clássico com o trabalho autoral. “Muita gente legal passou pelo curso, porque os professores são bons e alguns são referências”, comenta.

O resultado é o público, já “cativo”, segundo Rodrigo. “Nossas apresentações são sempre lotadas. Teve caso de ter de abrir sessão extra, porque esgotaram os ingressos”, lembra.

Reconhecido por todos como um dos motivos dos avanços, o maestro Eduardo Martinelli é um dos docentes mais citados entre as entrevistas com os integrantes da Orquestra. “Ele é um dos grandes responsáveis pela profissionalização da música clássica aqui no Estado”, diz o 1º violino da sinfônica, Josias Alves Martins, músico de 61 anos que já passou por todas as orquestras implantadas no Estado.

Como os outros integrantes da orquestra, ganha mais dinheiro com eventos, apresentações em aniversários e casamentos, por exemplo.

Militar da reserva, ele se formou em violino clássico no Rio de Janeiro, em 89. Também tem um quarteto de cordas em Campo Grande, mas o que mais agrada, além da sinfônica é o ofício de professor. “Tem alunos que já estão tocando melhor do que eu”, sorri.

Caio toca desde os 9 anos.
Caio toca desde os 9 anos.

Alcançar a excelência é meta de todos. Para dominar a técnica, são 3 ensaios com o grupo por semana e outras horas em casa, diz o estudante Caio Fortunato. Aos 15 anos, ele é o mais novo da Orquestra. Descobriu o violino aos 9 anos, em um projeto social da Fundação Barbosa Rodrigues e hoje diz ser o orgulho da família.

O colega Mateus Coelho é um ano mais velho, aprendeu instrumentos de sopro no Colégio Militar e o futuro já está definido. “Quero ser regente”. Hoje, ganha uma ajuda de custo de pouco mais de R$ 400,00 para tocar na Orquestra Municipal.

Entre o objetivo e a conquista, o que falta é aprimorar a técnica. O violinista Felipe lembra que para ser grande é preciso sair do Estado e buscar espaço em orquestras de São Paulo, Riod e Janeiro e depois do exterior. “Já fiz um teste fora, mas percebi que ainda precisava estudar muito. Vou aprimorar a técnica para ir e passar”, justifica.

A orquestra Sinfônica de Campo Grande tem apresentação às 19 horas, no Caminhão da Cultura no Bairro Maria Aparecida Pedrossian e de 06 a 09 de novembro, às 20 horas, se apresenta no Teatro Glauce Rocha, com entrada franca.

Ensaio antes de apresentação na Praça do Rádio Clube, na última sexta-feira.
Ensaio antes de apresentação na Praça do Rádio Clube, na última sexta-feira.
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