“Pneu furado” não cola mais. Qual a desculpa moderna para matar serviço?
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No ranking do RH das empresas hoje, não tem mais aquela história de faltar ou atrasar no serviço com a clássica “o pneu furou”. Agora as desculpas mais frequentes são dengue, filhos e problema no celular. A reportagem é só para deixar a dica: tem coisa que não cola.
O “relógio não despertou” só trocou de tecnologia. Agora é o texto mudou para “meu celular não despertou porque acabou a bateria”. Mas algumas tradicionais ainda servem bem no mercado, pelo menos para justificar o atraso. “O ônibus quebrou” é a líder na lábia dos empregados.
Os próprios chefes admitem que ainda aceitam bem essa história. “Há desculpas que é a gente desconfia, mas não podemos julgar, procuro acreditar nos funcionários”, garante o gerente de loja de calçados Reginaldo Gonzales.
Ele conta que entre as mulheres, a mais comovente é “o filho está doente, não tem creche hoje também”.
A experiência de 9 anos sob o comando de uma loja fez a gerente Katia Arruda ficar esperta com as desculpas esfarrapadas. As lições vieram com o tempo, depois de muita enganação. Uma das funcionárias chegou a aparecer com a perna enfaixada, para mostrar que não poderia trabalhar. Anos depois, as duas se tornaram amigas e veio a confissão “Ela mentiu para poder viajar no Carnaval”.
Para o gerente Gabriel Lucas, a pior das desculpas é a falsa doença. “O funcionário avisa que está doente, mas no outro dia aparece na loja super bem”.
Em outra loja, o gerente Evanildo Francisco dos Santos, de 29 anos, se considera “compreensivo”, ele entende que às vezes é possível perder o ônibus ou acordar atrasado. Mas diz que há exageros. Segundo ele, um dos maiores absurdos que já ouviu de um de seus funcionários foi o atraso por conta da bebedeira no dia anterior. Na cara de pau, o rapaz admitiu: “sai ontem, por isso cheguei atrasado”.
Também há histórias mal contadas, por isso Evanildo acredita que o convívio é suficiente para saber quando estão dizendo a verdade ou mentindo.
Fica a dica: A psicóloga organizacional, Rose Martins, trabalha há 18 anos com “gente”. Tem a função de fazer empresa e funcionário se entenderem direito.
Sobre as faltas, nas contas da psicóloga, um atestado por semestre é aceitável, mas acima disso o alerta já dispara. “Se a coisa é recorrente, precisa ser investigada”, comenta.
Rose divide o problema em 2: a falta realmente por doença e a falta dos que estão cavando uma demissão. No primeiro caso, é preciso descobrir se algo no trabalho está provocando alguma enfermidade e apresentar alternativas para superar.
No segundo, não há muito o que fazer. “Não é nada bacana faltar para cavar uma demissão, mas é o que fica claro para a empresa quando as faltas são constantes. Isso indica que o profissional não é bom”, lembra.
A psicóloga também sai em defesa dos funcionários. Perder o horário por um vacilo, por exemplo, deve ser perdoado, quando o empregado vale a pena.
“A relação entre o gestor e o funcionário tem de ser de proximidade, não precisa ser de intimidade. Assim, um sempre terá abertura com o outro e o chefe vai conhecer o contexto de vida do profissional para medir quando a ausência é justificável”.