A solidão materna não mora só na silenciosa escuridão da madrugada
“Ela está na mesa do café quando todos se levantam para tocar suas vidas e a mãe permanece ali no caos do lar”
Esta semana o bar paulistano Miúda se envolveu em grande polêmica ao proibir a entrada de mãe com seu filho pequeno. A mulher iria ao aniversário da amiga, marcado para o fim da tarde e, segundo ela, sua passagem seria breve, porém não ocorreu porque estava com seu menino. O local, com área ao ar livre e funcionamento também diurno, alegou, por sua vez, não haver estrutura para receber crianças.
A discussão tomou as redes sociais, canais de notícias e jogou luz sob um tema de extrema importância: a solidão materna. Bem, eu não estou aqui para entrar no mérito de quem está certo na referida situação, mas sim para ilustrar como o exílio de mulheres que pariram não se limita às longas madrugadas de privação de sono. Tal afastamento compulsório está presente em praticamente todo lugar, principalmente quando se trata de bebê ou criança pequena.
O fato é que se excluem os miúdos, automaticamente as mães também se vão, já que na esmagadora maioria dos casos são elas as cuidadoras principais, senão as únicas. Por mais óbvio que pareça, a solidão materna se faz presente em incontáveis ocasiões.
Ela está na mesa do café quando todos se levantam para tocar suas vidas e a mãe permanece ali no caos do lar, pois precisa viver a vida de seu filho durante a primeira infância. Está na ausência de convites para saídas com os amigos que não estão dispostos a adequar ambientes ou ouvir músicas com volume mais baixo para acomodar os pequenos. Está nos lugares de convívio social em que todos se divertem, mas a mãe precisa ficar atrás da cria para certificar sua segurança. Está nos olhares de julgamento quando o filho chora alto e sem parar no meio do supermercado, praça de alimentação, igreja ou qualquer lugar que não seja dentro da própria casa.
A solidão materna é ratificada nos estabelecimentos denominados 'child free' e nos momentos em que a mãe precisa se ausentar para fazer o filho dormir, comer, trocar ou dar remédio. Está na entrevista de emprego que a constrange com inúmeras perguntas sobre seu maternar e que jamais serão feitas ao homem que é pai. Está nessas e em inúmeras situações excludentes que fazem mães desistirem de ir antes mesmo de tentarem sair porque, no fim das contas, a solidão materna também mora na culpa que a mãe - não deveria - mas sente toda santa vez que pensa "o filho é meu, então preciso aguentar sozinha".
Talvez você que me lê agora ainda não tenha passado ou nunca vá passar por isso, então eu sei que por mais que eu tente explicar, será difícil compreender de fato o que é se sentir sozinha mesmo estando sempre com pessoas por perto.
A questão, desta forma, é que os olhares estejam mais atentos a esta mulher que muito antes de ser mãe é ser humano e não pode ser punida, banida ou isolada pelo simples fato de ter criança. Para finalizar, não podemos nos esquecer de que a mesma sociedade que pressiona a mulher a ser mãe é a que a exclui quando ela se torna uma. A conta, meus amigos, não fecha!
*Jéssica Benitez é mãe do Caetano e da Maria Cecília, jornalista e aspirante a escritora no @eeunemqueriasermae
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