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Comportamento

Adesivo inusitado no carro de avó responde motorista que insiste em buzinar

Avó de três, dona Zenaide manda recado no trânsito: “keep calm idosa ao volante e bebê a bordo"

Paula Maciulevicius Brasil | 10/12/2019 06:22
Plena, dona Zenaide mostra o adesivo que manda pessoal ter educação no trânsito. (Foto: Paulo Francis)
Plena, dona Zenaide mostra o adesivo que manda pessoal ter educação no trânsito. (Foto: Paulo Francis)

Um HB20 branco dá recado aos motoristas de Campo Grande que insistem em buzinar para dona Zenaide. Avó de três crianças pequenas, um deles ainda bebê, ela é a nordestina arretada que pede: "Keep calm. Idosa ao volante com bebê a bordo". A frase por si só já revela que atrás do volante está uma figura daquelas.

Dona Zenaide Teixeira de Carvalho tem 73 anos muito bem vividos, diz que história tem de monte e dá risada quando ao telefone nos confirma que o carro é dela mesmo. "Não tem 'keep calm' bebê a bordo? Então, mandei fazer idosa com bebê, porque buzinam demais atrás de mim", explica.

Desde que virou avó a senhorinha anda com bebê conforto e hoje cadeirinha no carro e diz que pode faltar cadeirinha para qualquer um, menos para ela levar o neto. No dia a dia, dona Zenaide conta que por andar atrás de ônibus e só do lado direito, recebe muita buzina e xingamento. "Ando com um bebê de 1 ano na cadeirinha, eu até dou espaço para ultrapassarem, mas ninguém quer ultrapassar um carro e um ônibus", observa.

A avó é daquelas que segue à risca o limite da via. Se a placa diz que é 60km/h, não adianta buzinar nem xingar que dos 60 ela não vai passar. Nascida em Pernambuco, o sotaque ainda a  acompanha mesmo depois de mais de 50 anos vividos por aqui. E é desse mesmo jeitinho nordestino de ser que ela convida à uma reflexão, do quanto o trânsito anda de mal a pior na última década.

"Eu tirei carteira tem 53 anos. Eu dirijo desde os 12 anos, aprendi em trator, andando em estrada de chão. Os motoristas foram perdendo a paciência e os carros aumentando também e as pessoas não têm o costume de respeitar, diz. 

Ideia foi de avó que mandou fazer na gráfica o aviso. (Foto: Paulo Francis)
Ideia foi de avó que mandou fazer na gráfica o aviso. (Foto: Paulo Francis)

Quem conhece sabe que o adesivo é só uma das peripécias da senhora. Ela é "tia" dos acadêmicos, em especial de Medicina da Uniderp, por estar sempre dando uma mãozinha na lanchonete da nora no Cemed (Centro de Especialidades Médicas) da universidade.

"E gente, não é só o bebê que tem que ter cuidado. Afinal de contas, eu cheguei aos 73 não foi pelo belo par de olhos que eu tenho, não é? Foi por merecimento. Então me respeita", explica ao retomar o assunto interrompido por cumprimento dos acadêmicos que carinhosamente a chamam de "tia". 

O adesivo já acompanha a rotina da avó e dos netos há dois anos, quando o primeiro netinho, hoje com 4 anos, João Felipe, estava com cerca de oito meses. Professora aposentada, foi pela didática que ela tentou ensinar aos motoristas de Campo Grande o respeito que precisam ter no trânsito. "Não tem jeito mais didático de pedir respeito do que o adesivo, as pessoas costumam xingar, fazem gestos obcenos. Eu não vou entrar nessa não, não faz parte do meu social. Meu social é: me respeita", frisa. 

Até em placa de condomínio, dona Zenaide pede retificações. Para a gente ela contou que onde mora colocaram, dia desses, os seguintes dizeres: 'Cuidado com as nossas crianças e idosos'. "Eu não preciso de cuidado, eu preciso é de respeito. Cuidado eu tenho do meu genro, da minha nora, da minha filha e do meu filho", enumera. 

Nesta etapa da vida, dona Zenaide quer só andar tranquilamente pela direita, atrás dos ônibus nas ruas de Campo Grande, cantando música de bebê com o neto. (Foto: Paulo Francis)
Nesta etapa da vida, dona Zenaide quer só andar tranquilamente pela direita, atrás dos ônibus nas ruas de Campo Grande, cantando música de bebê com o neto. (Foto: Paulo Francis)

Até surpreende quando a gente ouve ela citar com tanto amor o marido da filha e a mulher do filho. "Agora eu não faço nada, sou aposentada e graças a Deus não tenho nenhuma obrigação de ter trabalho nenhum. Só faço favores para a minha filha e nora", conta.

E os favores começam às 5h da manhã, quando dona Zenaide chega à casa da filha para ficar com o netinho caçula, de 1 aninho. "Mas eu faço tudo por livre e espontânea vontade", enfatiza. Quando a gente pergunta cadê a nordestina arretada diante de tanta calmaria, ela brinca que eu não faço ideia de que para ela ir de 8 a 80 basta "milésimo de fração de segundo". A avó também diz que é "zen", este é o lado que o Lado B mais conhece ali. "Sou zen até no nome: "Zenaide", brinca. 

Hoje a profissão é ser avó e sogra, e pensando na segurança das crianças e na tranquilidade da família que ela se preocupa tanto com o trânsito. "Quando você tem um tempo de vida, você não tem que fazer coisa que jovem faz, como ultrapassar para chegar logo. Eu não tenho pressa". 

Nesta etapa da vida, dona Zenaide quer só andar tranquilamente pela direita, atrás dos ônibus nas ruas de Campo Grande, cantando música de bebê com o neto. "Eu acho que a gente nasceu para ser feliz, então não pode carregar peso", ensina.

Quando questionada sobre onde fez, ela avisa que dá para fazer o adesivo em qualquer gráfica. As buzinas até pararam, garante a senhorinha que agora ouve motoristas dando apoio. "Muitas vezes as pessoas passam e buzinam, fazem positivo com a mão ou me pedem para parar pra comentar", conta. 

Se você ver o HB20 branco da dona Zenaide, cumprimente a avó e a criança. Ali está uma motorista feliz da vida diante do volante. "Ser mãe é o despertar para a vida, você vira mãe e acaba de descobrir a vida, quando você é avó é melhor que qualquer coisa do mundo, porque é tudo aquilo que você viu e presenciou só que com leite condensado". 

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