Agosto era mês de Vera surpreender José, o grande amor que partiu há 4 anos
José Rubens Senefonte era juiz conhecido na cidade e morreu após um grave acidente de moto, em 2015
Durante anos Vera só queria pintar, independentemente da profissão, e sempre teve para quem entregar suas obras. Do outro lado, o marido era quem recebia cada pintura com elogios e abraços de amor. Todo mês de agosto, o mundo inteiro podia querer suas telas, mas para Vera única coisa que importava era presentear José Rubens Senefonte, com as cores que ele tanto amava.
“Agosto é o mês do meu aniversário e do Dia dos Pais, então, todo agosto era mês de presentear José com uma tela. Foi assim desde o início do casamento. Ele esperava ansioso pelo presente. E mesmo sabendo que era mais uma pintura, ele recebia todas como um presente inédito”, lembra Vera Senefonte, de 61 anos.
Vera foi casada com José durante 42 anos. Juiz conhecido, ele sofreu um acidente de moto em 2015 e morreu pouco mais de um mês após a fatalidade. Pintar nunca mais foi mesma coisa, diz a esposa, mas nos últimos meses ela quis dar a volta por cima, impulsionada pelo carinho que permanece intacto no peito, embora divida espaço com a saudade do marido.
“Ele era a minha motivação. Quando eu estava triste, José não me deixava chorar, me dava tintas e pedia para eu colocar minhas emoções na pintura. Ela sabia exatamente o que estava fazendo”, conta.
Vera não se entristecia e pintava. Suas obras também nunca foram vendidas, a pedido do marido, que coloria o gabinete com as telas. “Outras eu doava, ele não me deixava vender, era um fã número 1 das telas”.
O mês de agosto era especial para presentear José e agora viu motivo extra para Vera continuar pintando. “Depois de um longo tempo longe dos pincéis, resolvi voltar a pintar e quis comemorar meu aniversário, que foi no último dia 18, de um jeito diferente”.
Nesta terça-feira, Vera foi até a Deam (Delegacia de Atendimento a Mulher), na Casa da Mulher Brasileira, entregar uma tela em homenagem ao Agosto Lilás, mês de campanha de combate à violência contra mulher. “Eu quis presentear de coração, porque é algo que me faz bem”, diz. “Lembro-me muito do sorriso de José toda vez que ele olhava para uma tela. Ele era um homem amoroso com as artes”.
A tela foi recebida nesta manhã pelas delegadas Thais França e Jennifer Estevam de Araújo. Vera depois recebeu o Lado B em casa, mostrando o que ficou das cores que José tanto gostava. “Quando ele faleceu, algumas telas foram para o consultório do meu filho que é médico, outras vieram para o meu apartamento. Continuo não vendendo nada, procuro sempre doar”, afirma.
A saudade ainda está pela casa, nas fotografias e telas de José, mas o que ficou em Vera é mais forte do qualquer ausência. “José sempre foi muito reservado, mas um marido carinho, um pai bondoso e preocupado com o ser humano. Quando eu me lembro de tudo isso, tentando não dar espaço para a tristeza e foi exatamente o que ele sempre nos ensinou em vida”.
Senefonte, como era conhecido, nasceu na cidade paulista de Uchoa e ingressou na magistratura em novembro de 2000. Ele atuou nas comarcas de São Gabriel do Oeste, Corumbá, Três Lagoas e Campo Grande. Em maio de 2015, um mês após o acidente, ele havia sido removido para ser titular da 1ª Vara Cível. Também estava feliz com o início de um mestrado. Além da esposa, José deixou três filhos.
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