Amilton é uma figura, mas bicicleta é ‘engenhoca’ que rouba cena na rua
Monark tem ‘teto’ de isopor e canos para proteger ciclista do São Conrado que sonha com chance na música
Na ciclovia da Avenida Afonso Pena, quase chegando na Rua Pedro Celestino, um homem pedala apressado a bicicleta. A velha Monark parece mais engenhoca do que meio de transporte e é cheia de particularidades, assim como quem a pedala.
Amilton Conceição Ribeiro, de 53 anos, e a bicicleta são uma cena à parte. À distância é difícil ver o rosto do homem que fica escondido embaixo do isopor. O aparato, que parece parte de uma caixa, é atravessado e sustentado por canos presos desde guidão a garupa.
Por volta das 9h40, Amilton voltava da ALEMS (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul) para o Bairro Jardim São Conrado, onde mora com a mãe. Na ciclovia, o semáforo fechado faz o ciclista interromper a pedalada e é graças ao bendito sinal vermelho que consigo ver Amilton de perto.
A primeira frase que verbaliza é sobre a ‘sombrinha’ de isopor. “Essa sombrinha aqui tá velha, vou por uma nova, mas essa protege do sol”, afirma. Em seguida, o sinal abre para os pedestres e Amilton busca uma sombra para conversar melhor.
O morador do São Conrado saiu nas primeiras horas da manhã em busca de uma oportunidade na ALEMS, no Parque dos Poderes. Mas, Amilton não queria arranjar emprego na Casa das Leis e sim divulgar o trabalho musical para um dos deputados.
“Fui atrás de um objetivo na música, do Lucas de Lima para ele revelar eu como compositor e cantor. Escrevo sertanejo, vários tipos de música, fiz uma pro aniversário de Campo Grande e nunca deu certo”, conta.
Veja o vídeo:
A carreira musical do ciclista teve início em 2000 e até hoje Amilton não emplacou nenhum sucesso, pois diz precisar de ajuda. “Eu coloquei um monte na internet e não deu em nada. Eu tenho que arrumar uma pessoa que sabe escrever a letra pela nota musical”, explica.
O ‘Parabéns para Campo Grande’ é uma das composições que não tem melodia, porém Amilton canta para divulgar o tom. Ele pede para que o vídeo não seja divulgado, pois sente receio de ter a letra plagiada.
Essa infelicidade o homem compartilha que sofreu com outra autoral. “Tem uma música que é a 'Linda Morena’. Ela tocou na rádio e roubaram a minha música”, afirma. Amilton ensaia o melhor tom e canta com muita vontade ambas as canções.
Veja o vídeo:
Mostrando outros talentos, ele tira uma latinha vazia da sacola. "Eu toco também, toco na latinha, mas ele está desafinada, mas eu imito a siriena o passarinho", diz. No semáforo, motoristas e motociclistas observam o cantor e a bicicleta modificada.
A bicicleta de Amilton deve ser observada mais de uma vez para ser compreendida. À primeira vista, o excesso de informação visual atrapalha a compressão. Os canos que sustentam o isopor formam um arco, enquanto outras peças do mesmo material viraram extensão do guidão que é amarrado com corda.
Além disso, também tem a bandeira do Brasil, o mini símbolo do brasão do time Fluminense e pedaços de latinha de cerveja próximo aos pedais. Os itens têm função de proteção e homenagem, sendo uma delas ao Rei do Futebol, o Pelé.
Apesar da criatividade em personalizar a bicicleta, Amilton é humilde ao falar da invenção. “Não dá muito trabalho só que não tá bem perfeito não tem perfeição. Está meio feio, mas protege. Esse isopor tá velho vou arrumar uma casinha nova”, comenta.
A sinceridade o leva a compartilhar outros sonhos que vão além da carreira de cantor. “O que eu quero é a música para comprar uma casa pra mim porque moro com a minha mãe. Eu quero arrumar uma família pra mim”, frisa.
Aos 53 anos, o homem diz ter ‘saúde de ferro’ como se tivesse 17 anos. A bicicleta faz parte da rotina de Amilton que depois de conversar volta a subir nela e se despede.
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