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Comportamento

Amor pela escrita fez Pompeia transformar a vida em boas histórias

Autora de sete livros, a mulher que adorava escrever e viajar faleceu no último domingo em Campo Grande

Jéssica Fernandes | 04/05/2023 07:52
Escritora sul-mato-grossense, Pompeia faleceu no domingo, aos 96 anos. (Foto: Arquivo pessoal)
Escritora sul-mato-grossense, Pompeia faleceu no domingo, aos 96 anos. (Foto: Arquivo pessoal)

Pompeia Barbosa Pereira foi uma mulher à frente de seu tempo. Autora de sete livros, antes de ser escritora e colocar em páginas as histórias que contava em detalhes para a família, ela trabalhou na Câmara de Vereadores de Maracaju, no Cartório de 1º ofício do município e também foi excelente professora.

No último domingo (30), a escritora se despediu da vida aos 96 anos, em Campo Grande. No O Que Ficou De Quem Partiu, o Lado B apresenta a história da mulher que prezava a independência, adorava contar causos e publicou sete livros que representam a produção literária sul-mato-grossense.

Única a terminar os estudos na família de sete irmãos, Pompeia nasceu para ser independente. Sozinha, com os filhos e netos, ela viajou pelo Brasil e depois desbravou destinos internacionais fazendo amizade com quem encontrava no caminho.

Pompeia e o marido Eurico ficaram casados por 49 anos. (Foto: Arquivo pessoal)
Pompeia e o marido Eurico ficaram casados por 49 anos. (Foto: Arquivo pessoal)

Os filhos Mauri César Barbosa Pereira, de 66 anos, e Paulo César Barbosa Pereira, de 71 anos, contam parte da trajetória da mulher que nunca se deixou abater e seguiu escrevendo em cadernos que agora estão espalhados pela casa. Natural de Maracaju, Pompeia se formou em secretariado no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora na Capital e depois retornou à cidade natal.

Engenheiro civil, Paulo relata que a mãe nunca se contentou em ficar parada em casa. “Ela voltou para Maracaju e foi trabalhar na Câmara de Vereadores, ela sempre trabalhou ou independente ou funcionária. Daí, ela conheceu o meu pai”, conta.

Na década de 1950, Pompeia e Eurico Fernandes Pereira se casaram, tiveram os dois filhos e 20 anos depois vieram morar na Capital. No mesmo ano, em 1970, ela voltou a estudar e se formou em Contabilidade.

Nascida em 1925 em Maracaju, Pompeia se tornou escritora em 1994. (Foto: Arquivo pessoal)
Nascida em 1925 em Maracaju, Pompeia se tornou escritora em 1994. (Foto: Arquivo pessoal)

A trajetória como escritora começou em 1994 com a publicação do primeiro livro. "Eliza" foi a obra de estreia da mulher que era a mais velha associada da UBE-MS (União Brasileira de Escritores de Mato Grosso do Sul).

Conforme Paulo, o incentivo para que a mãe escrevesse veio da família que reconheceu o talento que a mesma tinha para narrar histórias. “Ela contava muito causo, tinha uma memória muito boa, fantástica, lembrava tudo que aconteceu na vida dela. Ela contava pra família tudo e ela resolveu primeiro escrever a história da mãe dela”, diz.

A carreira literária seguiu com a publicação do segundo livro ‘Meus Poemas’ em 1996. Já em 2003, ela lançou ‘Lindos Olhos’ em homenagem ao marido Eurico, que faleceu quatro anos antes e com quem ficou casada por 49 anos.

Pompeia com os filhos Mauri (à esquerda), Paulo e as respectivas noras e netos. (Foto: Arquivo pessoal)
Pompeia com os filhos Mauri (à esquerda), Paulo e as respectivas noras e netos. (Foto: Arquivo pessoal)

Apesar da morte do companheiro, Pompeia não se fechou para o mundo, pelo contrário. Mauri comenta que a mãe começou a viajar para o exterior na companhia de grupos de amigos e familiares.

“Ela se tornou muito ativa, mais do que era, porque sempre foi ativa, intensa, decida, perseverante. Com o falecimento do pai, ela não se recolheu, viajou com as amigas, os netos, o Paulo. Eu sou maratonista e na minha primeira maratona ela foi”, afirma.

Nas viagens, Pompeia mostrava o lado sociável e a incrível habilidade de fazer amizade em qualquer lugar que passasse. Em contato com o outro, a escritora conseguiu romper as barreiras do idioma e estabelecer a própria comunicação.

Escritora fez viagem com filho maratonista, Mauri. (Foto: Arquivo pessoal)
Escritora fez viagem com filho maratonista, Mauri. (Foto: Arquivo pessoal)

Ela não precisava falar algo além de português para conquistar a amizade de alguém. Paulo cita como exemplo a viagem para Quebec quando Pompeia conheceu uma turista da China.

“Quando descemos no hall do hotel tinha uma família de chineses e tinha uma senhora da idade da minha mãe. Elas começaram a conversar, ficaram amigas, riam, olhavam pras pessoas. [...] O interessante é a empatia que ela criou com uma pessoa de outra língua, ela não tinha preconceito, se relacionava com qualquer pessoa”, destaca.

As experiências que acumulou percorrendo diversos países estão descritas no último livro publicado em 2018, o ‘Minhas Viagens Pelo Mundo’. Antes de lançar essa obra, ela escreveu ‘Um Pé de Prosa em Maracaju’ em 2006, ‘Intuições, contos e poesias’ em 2011 e 'Alvorecer' em 2016.

Pompeia com o filho Paulo, a nora e a neta Moema. (Foto: Arquivo pessoal)
Pompeia com o filho Paulo, a nora e a neta Moema. (Foto: Arquivo pessoal)

São diversas as histórias que Mauri e Paulo recordam da mãe que sempre os incentivou nos estudos e ajudava nas lições de casa usando o conhecimento que adquiriu como professora. Os relatos evidenciam camadas da personalidade da escritora que exercia liberdade e independência.

“Ela morava sozinha, dirigia até os 80 anos e era determinada. Ela morava aqui, ficava no computador, fazia os contos, achava um para produzir. Ela não tinha dependência”, ressalta Mauri.

Descrita por ele como determinada, Pompeia também era considerada o suporte da família. “No velório uma tia, irmã dela, fez uma menção que ela era o esteio da família. As duas irmãs que ficaram, Ramona e Eliza, fizeram um pronunciamento que era tipo um esteio, agregava”, fala.

Pompeia deixa os filhos Paulo César Barbosa Pereira, Mauri César Barbosa Pereira, as noras Maria de Fátima e Jucimara, além dos netos Moema Vilela, André Vilela e Gabriel Barbosa.

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