Antes de morrer, José deixou em livro o amor que tinha pela esposa
Um dos livros feito à mão traz poesias e trajetórias de um casamento cheio de intensidade
Quando o olhar encontrou com José Francisco de Lima, foi na casa dele que Nágila Aparecida Medeiros de Lima se apaixonou. Dias depois, veio o convite para um passeio na praça, em Três Lagoas, e meses depois foram suficientes para o adolescente inteligente a pedir em namoro com dose cavalar de romantismo que hoje muitos só encontram nos livros.
Passados 48 anos, o romantismo de José continua impecável em um dos seus diários feitos à mão, guardado no escritório da casa charmosa, projetada por ele, no Bairro Cidade Jardim.
Foi em um destes livros que José documentou todos os sentimentos e o amor pela esposa usando papel e caneta. Nas páginas estão poemas, lembranças, cartas que ele escreveu durante período distante de Nágila, e vivências que hoje são fontes de inspiração para a família.
Não fosse o diagnóstico positivo para covid-19 e complicações severas, novas páginas teriam sido escritas desde o dia 9 de junho, quando o engenheiro civil, que ficou conhecido como “Mestres das pontes”, morreu vítima da doença.
Em homenagem realizada no dia 12 de junho, em obra emblemática da Avenida Afonso Pena, amigos e familiares descreveram José como uma “ponte para a vida”.
Mas é só ouvir a voz de Nágila para entender que durante os quase 50 anos de casamento ele também foi uma ponte para o amor dentro de casa. Ainda que o sentimento tenha se transformado ao longo dos anos, a contabilista e artista plástica é enfática. “Nunca faltou amor, ele sempre foi romântico”.
Prova disso está nos diários, nas cartas, nas canções que ele insistia em tocar para a esposa toda vez que pegava o violão. “Ele sempre gostava de cantar pra mim”.
Uma das histórias que emocionam é do tempo das serenatas, quando ainda viviam em Três Lagoas e José insistia em cantar na porta de Nágila.
O ficou nos livros, hoje Nágila leva para vida como ânimo para seguir sem o grande amor ao lado. “O que me conforta é que ele foi um homem que viveu”.
Histórias não faltam, e para a família as vivências dariam páginas cheias de energia porque para José não havia tempo ruim para o conhecimento. “Eu falo que me apaixonei pela inteligência dele. José sempre foi um homem com muito conhecimento, que buscava esse conhecimento onde estivesse”, conta a esposa.
Engenheiro Civil especializado em pontes, José foi presidente do Conselho Regional de Engenharia e da Associação dos Engenheiros, além de professor do curso de Engenharia Civil e de Arquitetura da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Mas, sobretudo, um apaixonado da vida. Homem de muitos amigos, José sempre esteve com a varanda de casa cheia, assim como o escritório ao lado de casa que sempre reuniu alunos e amigos de profissão.
As fotografias ainda intactas no escritório exibem o gosto do engenheiro pela literatura, conhecimento, viagens, filmes de faroeste e trilhas de jipe no Pantanal.
“Nos últimos anos eu até brigava com ele porque insistia no mesmo filme. Eu dizia que queria ver coisa moderna, mas ele assistia o mesmo filme e ainda me contava as cenas, e nós caímos na risada”.
Momentos como esse ficarão agora no coração de Nágila, que na despedida pediu para que o grande amor ficasse bem, junto da rosa amarela deixada por ela, símbolo de uma tradição durante os anos de casamento. “Sempre que ele me visitava ou voltava para casa costumava me trazer uma rosa amarela. Era um gesto bonito. Então eu quis deixar essa rosa para que ele ficasse bem. E eu acredito que ele está”, finaliza.
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