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Comportamento

Antes de partir igual passarinho, Lucimar anotou cada passo da filha

Conquistas, viagens e pedidos de oração a cada aniversário são recordações que advogada guarda da mãe

Jéssica Fernandes | 08/07/2023 08:01
Gabriela Brum Colombo com a agenda deixada pela mãe Lucimar. (Foto: Alex Machado)
Gabriela Brum Colombo com a agenda deixada pela mãe Lucimar. (Foto: Alex Machado)

“Desejo que a Gabriela consiga passar em um concurso”, “Gabi voltou de Campo Grande”, “Saíram 8hs de Itu”. Página após página, Lucimar Acosta Brum escrevia os desejos, passos e conquistas da filha Gabriela Brum Colombo, de 34 anos. As frases curtas, abreviadas por siglas e anotadas na agenda, a advogada encontrou pouco tempo depois da mãe falecer, aos 61 anos.

No dia 29 de maio, Lucimar sofreu um infarto fulminante e deixou filha, mãe, sobrinhos e incontáveis amigos conquistados ao longo da vida dentro e fora da igreja em Miranda, onde atuava como presidente do apostolado. Desde que Gabriela se lembra, a mãe frequentava a igreja todos os dias e naquela segunda-feira não foi diferente.

Após dedicar anos às atividades da igreja, ela ganhou uma última homenagem neste lugar. “No dia do velório dela a paróquia pediu para fazer a exéquia dela dentro da igreja. Quando foi às 15h o pessoal da igreja pediu que fosse feito onde ela frequentava. Isso já não acontece há anos, as pessoas não fazem mais isso”, explica Gabriela.

Católica, Lucimar era ativa na igreja e atuava como presidente do apostolado (Foto: Arquivo pessoal)
Católica, Lucimar era ativa na igreja e atuava como presidente do apostolado (Foto: Arquivo pessoal)

Em questão de dois ou três dias, a advogada encontrou a agenda que a mãe usava com frequência. Com as anotações veio a surpresa, pois Gabriela não imaginava que a mãe tinha o costume. Ela sequer via a agenda nas mãos da mãe em casa.

“Eu nunca percebi, nem tinha visto, não sabia que ela fazia isso. Aqui ela colocou: ‘Gabi voltou de Campo Grande, saiu às 17h50 e chegou 21h sozinha’. Aqui em maio fiz uma viagem, por exemplo, saímos às 14h30 de Três Lagoas e chegamos às 17h em Marília. Ela cita meu nome em vários lugares”, afirma.

Datas, horários, chegadas e partidas de viagens, exames, eventos e outros detalhes que Lucimar considerava importante agora estão com a advogada que vê em cada frase escrita à mão uma recordação.

Entre as páginas da bíblia, Lucimar deixou papéis a cada aniversário da filha. (Foto: Alex Machado)
Entre as páginas da bíblia, Lucimar deixou papéis a cada aniversário da filha. (Foto: Alex Machado)

“Tudo que falava no WhatsApp, ela colocava na agenda. Na hora que vi isso fiquei bem emocionada. Foi bem legal, é uma bela lembrança que ela deixou”, comenta.

Além da agenda, a advogada encontrou na bíblia cartas que a mãe escrevia dias antes de completar mais um ano de vida. Para cada aniversário de Gabriela, Lucimar redigia mensagens em forma de oração.

Em uma delas, ela escreveu: ‘Desejo que a Gabriela consiga passar em um concurso neste 30 com ajuda de Deus e N. Sra do Perpétuo Socorro. Amém, glória a Deus. Eu espero em ti Senhor’.

No braço direito, advogada tatuou há quatro anos nome da mãe. (Foto: Alex Machado)
No braço direito, advogada tatuou há quatro anos nome da mãe. (Foto: Alex Machado)

Como os pais se separaram aos cinco anos, Gabriela foi criada somente pela mãe. Em todos os momentos, elas estavam juntas, desde os mais delicados aos alegres. “Meu pai foi embora e ela foi meu pai e minha mãe. A gente passou por muita dificuldade financeira porque ela sempre ganhou um salário mínimo. Eu vim pra cá estudar e foi difícil”, fala.

Quando a filha passou na OAB, Lucimar escreveu mais uma de suas mensagens. Ao ler é possível notar a emoção e orgulho que sentia. “Sou eternamente grata por esse dia [...] Obrigada Deus por me amar e amar a minha filha”, diz um trecho.

O que essa conquista representou apenas as duas sabiam. “Quando me formei foi uma realização muito grande na minha vida. Quando consegui passar na OAB ela até escreveu agradecendo. Eu sei a dificuldade que passei, ela também sabe”, pontua.

Na agenda, Lucimar escreveu sobre o dia que filha passou na OAB. (Foto: Alex Machado)
Na agenda, Lucimar escreveu sobre o dia que filha passou na OAB. (Foto: Alex Machado)
Advogada e a mãe no dia em que recebeu a carteirinha da OAB. (Foto: Arquivo pessoal)
Advogada e a mãe no dia em que recebeu a carteirinha da OAB. (Foto: Arquivo pessoal)

Sem problemas de saúde, Lucimar não sofria e nem se queixava de dores. A partida de uma hora para a outra pegou familiares e amigos de surpresa, mas no fim foi da maneira como acreditava ser melhor. Gabriela relata que em conversar sobre o assunto a mãe dizia como imaginava que deveria ser.

“Outra coisa que ela falava muito é que ela não queria sofrer. Ela falava que queria morrer igual um passarinho em silêncio, sem chorar ou gritar. Minha mãe rezou o último terço, chegou em casa, sentiu uma dor no peito e fechou o olho”, conta.

Após o falecimento, a advogada descobriu a corrente do bem que ela espalhou. “Foi um choque para a cidade. Minha mãe era uma pessoa muito caridosa. Depois do falecimento encontrei muitas pessoas que falavam: ‘Lucimar me ajudou tanto’. Pessoas que nem sabia. Ela era muito alegre, nunca reclamava da vida”, ressalta.

Em uma das mensagens, Lucimar anotou viagem da filha. (Foto: Alex Machado)
Em uma das mensagens, Lucimar anotou viagem da filha. (Foto: Alex Machado)

Além das mensagens na agenda e espalhadas na bíblia, Lucimar deixa, principalmente, a lição da fé. “Da minha mãe o que fica é a fé, muita fé. É só isso que faz a gente levantar, não tem outra coisa”, destaca.

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