Ao fazer parte de filme, Maria sentiu o que a bisavó escrava viveu
Na Espanha, campo-grandense é figurante em um filme que se tornou impactante em sua vida
A vida da auxiliar de enfermagem Maria Emília da Silva Marques, de 40 anos, mudou desde quando se mudou para a Espanha. Mas não apenas por causa da vida europeia diferente. Lá, Milla teve a oportunidade de participar de produções cinematográficas como figurante. “Foi uma experiência única na minha vida, gerou um impacto muito grande”, relata.
Maria Emília é nascida e criada em Campo Grande. É descendente de escravos. Sua bisavó é da comunidade quilombola de Furnas de Dionísio, distante aproximadamente 100 quilômetros da Capital. Em Campo Grande, Maria Emília também tem tios que são da comunidade de São Benedito. A primeira experiência dela como figurante ficou marcada justamente pelas suas origens.
A primeira experiência na figuração foi no filme “Claret”, do cineasta Pablo Moreno. A obra traz a história do Padre Claret, conhecido na Espanha por se impor diante de injustiças no período escravocrata. Maria Emíllia fez o papel da mucama do vilão da trama.
“A personagem fica grávida até desse vilão principal. Esse papel foi difícil pra mim, porque tudo vinha minha bisa na cabeça. Ela me contava as coisas que ela passou e o filme, ali, repetia tudo aqui. Na hora que eu ouvia as coisas que eles falavam, vinha minha bisa na minha cabeça, eu estava ali revivendo em um filme o que ela passou de verdade”, explica, emocionada.
Ter sido chamada para o papel foi uma surpresa agradável para Maria Emília. “Eu lembro que no dia, tinham muitos outros negros. Meu marido até disse que provavelmente nem ia dar certo, porque era muita gente. Até que recebi o telefonema e nem acreditei”, recorda.
Depois do filme, com contatos de grupos de Whatsapp, Maria Emília também já teve a oportunidade de participar de propagandas, shows de televisão e até séries da Netflix. Uma delas, “O favorito de Midas”, está disponível na plataforma aqui no Brasil.
Desde a pandemia, os trabalhos de gravação presencial ainda estão suspensos. Mas só pela experiência, Maria Emília já é grata e se empolga com possíveis trabalhos no futuro.
“Eu nunca imaginei fazendo isso, mas a experiência gerou um impacto muito grande mesmo. Nunca imaginei passar por isso. Mas agora, o que me chamarem, eu estou dentro”, detalha.
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