Ao trocar carteira pela cama, alunos continuam ao lado do professor no hospital
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A rotina da aula não segue os cinco tempos normais da escola, se concentra em ser em bem menos tempo e individual. Quando falta a lousa e a carteira, o leito vira sala de aula para professores e alunos que se cruzam no hospital.
"A gente veio estudar ortografia, G e J...", diz a mestre. Quem de fora ouve tem a certeza de que ali tem uma escola. No entanto, a professora Mari Sandra está sentada, junto do estudante Rian Pinheiro, em uma cama de hospital. O uniforme escolar o menino substituiu forçadamente pela roupa hospitalar desde que um acidente doméstico lhe cortou parte do dedo.
No 7° ano na escola, ele não vê a hora de voltar para casa e mais ainda para os estudos na sala coletiva. "Eu prefiro lá, tem meus amigos", diz timidamente.
O Lado B acompanhou a classe hospitalar da Santa Casa de Campo Grande. Ao todo, são quatro pedagogas e mais os professores de matérias específicas para conteúdos do Ensino Médio que trabalham em meio à recuperação dos pacientes/alunos.
Vera Aparecida Varzin Cabistani é uma das professoras da Santa Casa. A classe hospitalar fica no 6º andar, no setor da Pediatria, mas salas separadas estão espalhadas pela Ortopedia e no setor de queimados para abrigar os pacientes que não podem ir para longe do quarto. Quando nem sair da cama é possível, são as professoras que vão até elas.
"Quando o aluno chega, nós que entramos em contato com a escola para comunicar a internação. Às vezes os pais nem lembram disso, nós explicamos que ele está de atestado médico", explica Vera. No caso de pacientes sem previsão de alta, a escola envia atividades e provas referentes ao conteúdo que os demais colegas estão estudando. Quando os dias de internação são menores, os alunos vão acompanhando pelo material disponível nas classes.
"Ele não perde conteúdo e às vezes volta até melhor, porque o atendimento é como aula particular", completa Vera.
Hoje no Estado são oito classes hospitalares coordenadas pela Secretaria Estadual de Educação, em Dourados e em fase de implantação em Corumbá e mais quatro divididas entre a Santa Casa, AACC (Associação dos Amigos das Crianças com Câncer), Hospital de Câncer Alfredo Abrão, Hospital Regional, Hospital Universitário e o Nosso Lar.
"As crianças são atendidas independentemente da rede, tem idade escolar? Então os professores se organizam de acordo com o material", descreve a coordenadora da Secretaria, Vera Lúcia Gomes Carbonari.
Na primeira aula, que dura em média 40 minutos, as professoras avaliam o nível da criança e a melhor forma de proceder com as atividades. "Essa material pedagógico é de apoio, ela está no conteúdo de burguesia, então já discutimos aqui. Agora estamos na globalização", explica a professora Isabel Duarte de Souza que dava aula à uma paciente de 11 anos.
Como às vezes as crianças estão mais debilitadas, antes de tudo é preciso ter autorização dos médicos para iniciar a aula. "São aulas de máximo 40 minutos. Às vezes ele cansa, vai brincar, volta. Eu me preocupo com a qualidade. Se a criança fizer uma boa devolutiva, eu fico feliz", reforça Isabel.
Kelvin Rodrigues é o paciente/aluno com mais tempo, hoje, na Santa Casa. Entre idas e vindas por conta de uma cirurgia no fêmur, já são quatro meses fora da escola normal. Morador de Rio Verde, o menino de 12 anos está há mais de 20 dias tendo aulas no hospital. "Já tive aula no Pronto Socorro e depois eu vou até a salinha", conta. Estudante do 6° ano, ele já está até acostumado. "Se dá para colar? Dá sim, tem amigos no quarto", responde. Os colegas, neste caso não são de classe e sim de hospital.