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Comportamento

Após aturar muito bêbado, hoje Maria consola reprovados do Detran

Há 15 anos, ela administra o café no Bairro Santa Carmélia, que é ponto de partida das provas de carro

Jéssica Fernandes | 14/04/2022 07:15
No estabelecimento, Maria Anunciadora serve o café de R$ 1. (Foto: Paulo Francis)
No estabelecimento, Maria Anunciadora serve o café de R$ 1. (Foto: Paulo Francis)

A vontade de escrever essa história surgiu quando realizei o exame prático de carro para obter a CNH (Carteira Nacional de Habilitação). No Bairro Santa Carmélia, alunos e instrutores de autoescola, sem dúvidas, devem conhecer o café da Rua Imbirussu, 182. O estabelecimento é famoso por ser o ponto de partida das provas do Detran/MS (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul) e também por servir um delicioso cafezinho a qualquer hora do dia.

O MM Café é administrado pelo casal Maria Anunciadora, de 68 anos, e Eumir Soares de Oliveira, de 79 anos, o Miro. A simpática mineira é quem acorda cedo para abrir o ponto comercial, fritar o pastel e receber os primeiros e últimos clientes. Antes de vivenciar dias tranquilos, ela enfrentou diversos perrengues, pois o lugar funcionou durante anos como um bar.

Agora, Maria não precisa mais lidar com nenhum bêbado inconveniente no local. Longe de passar raiva, ela é quem acaba consolando os reprovados no exame do Detran. A proprietária comenta que tenta animar o pessoal que chega para desabafar. “De vez em quando, entra um chorando aí. Eu dou uma força e falo que isso acontece, porque é normal homem e mulher reprovar”, conta.

Maria e Eumir em frente ao café localizado na Rua Imbirussu. (Foto: Paulo Francis)
Maria e Eumir em frente ao café localizado na Rua Imbirussu. (Foto: Paulo Francis)

Maria nasceu em Moema (MG) e ainda era criança quando a família realizou mudança para o município de Corguinho, a 99 km da Capital. Por ter morado pouco tempo na terra natal, ela diz que não tem lembranças da cidade. "Eu vim para cá pequena, quando tinha seis anos. Eu só lembro de Uberaba, que também é em Minas", afirma.

No Distrito de Taboco, ela conheceu o marido Miro, com quem está casada há cinco décadas. O casal mora há 40 anos no Bairro Santa Carmélia, sendo que nos últimos 15, gerenciam juntos o estabelecimento. Na época que funcionava como bar, os dois vendiam de cachaça a cerveja no lugar.

A proprietária relata que passou por algumas situações difíceis, por exemplo, ficar no meio de uma confusão entre homens. “Aqui já teve de tudo, já teve até tiro aqui dentro, furaram de bala um freezer. Uma vez, um cara marcou de brigar com outro aqui, eles começaram e na hora fui fechar o bar. Um entrou e tentou se esconder atrás de mim, falei para ele fugir pelos fundos”, lembra.

Maria comenta sobre as confusões na epóca do bar. (Foto: Paulo Francis)
Maria comenta sobre as confusões na epóca do bar. (Foto: Paulo Francis)

Durante um curto período, Maria alugou o espaço para outras pessoas venderem os produtos. Certa vez, um dos alugadores tentou cobrar uma taxa para que os carros da autoescola pudessem parar em frente ao endereço. “Um queria que as autoescolas pagassem R$ 15 por mês para ele. Aí, quando retornei, o pessoal falou: “Não acredito que você tá de volta, não sai mais não”, expõe.

Há três anos, Maria e Miro transformaram o espaço em café e deixaram de ter problemas com os frequentadores. A forma do atendimento, segundo ela, é o que cativou o público. “Eu trato as pessoas bem, porque é tão ruim cê chegar num lugar e ser maltratado pelo dono que parece que tá com raiva do mundo. Eu acho que é a forma como trato, porque não tenho tanta coisa para oferecer”, explica.

Embora diga que não tem tanto a oferecer no ambiente, Maria faz um café no ponto ideal. A bebida, que não é fraca e nem muito amarga, custa R$ 1 e é servida no tradicional copo americano. Para não deixar os instrutores na mão, Maria diz que prefere abrir cedo o lugar. “Eu abro às seis e meia, porque o pessoal vem para tomar o cafezinho. Eles dizem que o café é muito bom e preferem tomar aqui”, fala.

Café é servido no copo americano e cliente só precisa colocar o açúcar. (Foto: Paulo Francis)
Café é servido no copo americano e cliente só precisa colocar o açúcar. (Foto: Paulo Francis)

Além do café, Maria frita na hora pastéis no sabor de carne e queijo por R$ 3.50. No local, o público também encontra paçoca, doce de leite com chocolate, doce de banana, pé de moleque, amendoim e uma variedade de salgadinhos. Receptiva, a única coisa que Maria não aceita é que deixem para pagar depois. Para deixar o recado claro, ela fixou um cartão com as inscrições “Fiado só amanhã”. Ela esclarece o motivo da regra. "Antes, eu tomava muito prejuízo", garante.

Sem planos de fechar, Maria abre o café de segunda a sábado, das 6h30 às 17h. Ao falar da possibilidade de parar de trabalhar, ela responde de forma prática. “Daqui uns dias, eu fico mais velha, fecho as portas e pronto”, conclui. O MM Café está localizado na Rua Imbirussu, 182, Bairro Santa Carmélia.

Na vitrine de balas e bolachas, Maria fixou o cartaz irônico. (Foto: Paulo Francis)
Na vitrine de balas e bolachas, Maria fixou o cartaz irônico. (Foto: Paulo Francis)

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