Após vida em hospital e presídio, cuidado de Odete foi para as plantas
Enfermeira dedicou 39 anos para o campo da saúde, chegou a cair até em emboscada, mas não se arrepende de nada
Aos 72 anos, Odete Araújo passa os dias cuidando da própria saúde e das plantas que faz questão de espalhar pelo quintal. Acostumada a se dedicar ao outro, a enfermeira aposentada dedicou 39 anos à área da saúde, indo desde o hospital a presídio em Campo Grande com história até de “emboscada”.
Ainda sem se acostumar com a vida de aposentada, ela brinca que por ter vivido uma profissão tão movimentada, não consegue ficar sentada ou deitada na cama vendo a vida passar. “Eu gosto de me mexer, de andar de um lado para o outro”.
E, para quem tomou gosto por manter os cuidados sempre ativos, a idosa narra que sente falta dos dias com o jaleco branco. Mas, sem poder voltar ao campo, se contenta em dar atenção para as roseiras e a coleção de orquídeas que exigem quase tanta atenção quanto familiares preocupados de pacientes.
“Eu tinha mais, agora ficaram até poucas plantas. Mas eu gosto demais, isso aqui é minha paixão”, resume sobre a vida atual. Voltando ao passado, Odete narra que gostaria mesmo é de ter sido médica.
O problema é que na época de sua formação, conseguir se dedicar aos estudos profundamente não era algo possível. “Meus pais eram muito rígidos, eu não podia sair para ir em biblioteca estudar, por exemplo. E nove horas da noite já tinha que estar na cama. Então não conseguia estudar o suficiente para a faculdade de Medicina”.
Mesmo assim, sem deixar de lado o interesse, ela conseguiu se encontrar na Enfermagem. “Eu acho que a vida é uma arte, a gente precisa aprender até o fim e se dedicar para as coisas que a gente faz”, explica.
Por isso, mergulhou no mundo da Saúde e participou até de projeto no Maranhão durante quase dois anos. “No início, eu trabalhei em hospital, depois dei aula de Técnico em Enfermagem, consegui também esse projeto no Nordeste e, por último, fiquei no presídio”.
Contrariando o que o senso comum pode apontar, a enfermeira explica que de todas as experiências, os serviços prestados no hospital foram os que Odete mais se interessava. “Em hospital, você precisa cuidar de muita gente, vai além do paciente. E faz sentido, é claro. Tem a família que fica preocupada, os outros funcionários da sua equipe e o paciente em si”.
Já no presídio, ela pontua que o contato era direto com o paciente, mas nem por isso os relacionamentos deixavam de ser importantes. “Eu acho que a enfermagem é mais relação do que qualquer outra coisa. Se você não sabe se relacionar, é difícil”, pontua.
E, durante o tempo que passou trabalhando com pessoas privadas de liberdade, a enfermeira relembra até a emboscada que caiu. Em um dos dias que dormia no serviço, recebeu a notícia de que precisaria levar dois presos para o hospital.
“Fomos, mas no meio do caminho um deles pegou meu pescoço, enquanto o outro arrumava para fugir. Fiquei ali meio enforcada com os dois saindo. Prestei vários depoimentos, mas não liguei para isso, não fiquei com medo de voltar não”, relembra Odete.
Tanto não ficou com medo que passou mais alguns anos no trabalho e só se aposentou graças o apoio de amigos. “Eu não queria não, mas um amigo meu ficava me falando, até que aposentei. Agora, estou aqui, ainda acostumando”.
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