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Comportamento

Cidade se despede de sociólogo que amava ensinar com simplicidade

Uma das figuras mais queridas, sóciologo Paulo Cabral morreu na manhã desta terça-feira (27) aos 75 anos

Por Thailla Torres e Antonio Bispo | 27/02/2024 11:08
Paulo Cabral durante entrevista ao Lado B em 2019. (Foto: Paulo Francis)
Paulo Cabral durante entrevista ao Lado B em 2019. (Foto: Paulo Francis)

Não tem um jornalista em Campo Grande que não conheça ou que não tenha pedido entrevista ao Paulo Cabral. Sociólogo e historiador famoso nas salas de aula e na mídia sul-mato-grossense, Paulo Cabral morreu na manhã desta terça-feira (27), vítima de câncer no pulmão. Um homem cheio de particularidades, que apesar do título de intelectual, gostava mesmo é de colocar no pedestal a simplicidade.

Paulo cursou Ciências Sociais em 1968 e formou-se em 1972, na fase mais sombria da ditadura militar. Foi presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul. Ocupou a cadeira nº 22 do IHGMS (patrono: Hélio Serejo) e presidiu a entidade no período de 6 de novembro de 2016 a 31 de dezembro de 2018. Foi professor em universidades e nunca negou uma entrevista ou conversa sobre tudo o que sabia.

Nos últimos anos levava uma vida simples. Gostava de andar pela cidade, conversar com as pessoas e ficar com a família. Em 2019, ele recebeu o Lado B para mostrar um lado de sua vida cheio de curiosidades, inclusive, como vendedor de bananas. Sim, Paulo ficou um bom tempo ao lado de um dos filhos produtores da cidade.

Quando muitos descobriram que o professor famoso vendia bananas, Paulo se divertia com os comentários. “É muito engraçado, porque isso desconcerta todas as pessoas”, comentou na entrevista.

Maurício (camisa branca), um dos filhos de Paulo Cabral, recebendo abraço durante velório do pai. (Foto: Henrique Kawaminami)
Maurício (camisa branca), um dos filhos de Paulo Cabral, recebendo abraço durante velório do pai. (Foto: Henrique Kawaminami)

Pai de quatro filhos e avô de dois, até então, Paulo se orgulhava de ser uma pessoa “desconectada”, tecnologicamente falando. Durante anos ele não teve celular, quem quisesse entrevista ou papo com o professor, precisava ligar em seu telefone fixo. Só quando foi trabalhar em uma universidade o celular se fez necessário. Paulo também detestava dirigir. A cabeça pensante o preocupava no trânsito e, por medo de se distrair, preferia mesmo usar o transporte público e, nos últimos anos, o Uber.

Na manhã de hoje, familiares e amigos se despedem do historiador. Um dos filhos, o promotor de Justiça Maurício Mecelis Cabral, de 44 anos, bastante emocionado, disse que, acima de tudo, o pai era um grande humanista. “Ele tinha uma missão de vida que era contribuir para a coletividade. Tanto na área da saúde, da educação e atuou por diversos órgãos públicos privados. Teve milhares de alunos e  foi sempre uma pessoa muito atuante”, disse o filho.

Maurício também lembrou do pai como um amante da democracia, que costumava dizer que “a democracia não é perfeita, mas é muito melhor que qualquer ditadura e, mesmo que seja imperfeita, é essencial para resolução de conflitos em uma sociedade”.

Paulo também foi lembrado com um pai e professor que nunca fugiu da polêmica e sempre buscou a liberdade para suas convicções. A dedicação à família também foi mencionada pelo filho. “Ele e minha mãe tinham que dar um duro, a vida inteira. Trabalhou em boa parte da vida em três turnos. Apesar dele sempre estar trabalhando, a gente nunca sentiu a ausência dele, ele sempre se fez presente. Ele sempre foi um pai muito presente”, afirma.

O câncer foi descoberto há 3 anos durante a pandemia. Os últimos anos foram vividos de forma intensa e sempre de cabeça erguida. Nos últimos meses, apesar das dificuldades por conta da doença, os filhos conseguiram realizar um dos maiores sonhos de Paulo, conhecer Portugal, a terra natal dos avós. “Pudemos proporcionar esse momento até o final da vida. Nós fizemos questão de atender os anseios dele, que era ficar com a família e permanecer em casa, assim foi feito. Ele morreu em casa ao lado de todos”, finaliza o filho.

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 Eu sou um cara bem resolvido como pessoa e me sinto muito privilegiado porque sempre trabalhei com o que gosto de fazer. Também tive a felicidade e o acaso de encontrar gente muito bacana no meu caminho, de ter tido oportunidades interessantes, por isso, não preciso ficar me afirmando em cima de nada, sou um sujeito feliz”, disse Paulo Cabral em 2019 ao Lado B.

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