Com a partida, Serafin deixou "filhos de bar" órfãos a brindar sua vida
Para muitos, a maior herança que seu Escobar deixou foi o bar de mesmo nome, o maior patrimônio "universitário" campo-grandense
Mal a notícia do falecimento de seu Serafin Escobar, dono do bar de mesmo nome localizado na Vila Olinda, corria as redes sociais no dia de ontem (19) e já foi possível ver a extensão do carinho e lamento de tanta gente. Na partida aos 89 anos, ele deixou órfãos seus incontáveis "filhos de bar", que em tristeza fizeram aquilo que melhor costumavam fazer ao lado dele: brindaram sua longa vida.
Você pode nem gostar de beber cerveja ou muito menos ter estudado na federal, porém com absoluta certeza já havia escutado a fama da conveniência e bar Escobar, o "point" dos universitários nas sexta-feiras (ou a qualquer hora do dia para se tomar uma gelada e relaxar no pós-aula).
"Tanto é que até placa de formatura prenderam em uma das paredes do bar. Ou seja, é literalmente a segunda casa de muitos estudantes. Mas só foi por causa do seu Serafin que virou o lugar que encontramos todo tipo de gente, mas só gente do bem, para dar boas altas risadas e esquecer dos problemas. E o melhor de tudo, ele sempre tinha uma cerveja estupidamente gelada", considera Paula Adas Pereira Suniga, médica veterinária de 27 anos que, dos seus tempos de aluna da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) até os dias de hoje, sempre fez questão de fazer rolês no Escobar.
"Serafin sempre estava bem humorado, adorava conversar com a gente e ficar por perto, principalmente em dias de jogo. Por mais que fosse são-paulino, ele era um querido, alto astral e tinha um sorriso constante no rosto", brinca Paula.
Mais de 40 anos antes, antes mesmo que surgisse qualquer sinal de campus da UFMS, seu Serafin já atendia a clientela do bairro com o estabelecimento Escobar. Com a ajuda da esposa e do filho Onivaldo, gerenciava o boteco simples mas querido de tanta gente. Quem viu de perto isso, trabalhando ao lado da família, foi Luckas Galeano.
"Trabalhei em 2019 no Mandacari, que é o restaurante do outro lado da rua que o filho Onivaldo toma conta. Por mais que não trabalhei diretamente com seu Serafin, ele sempre dava uma passadinha por lá. Contador de histórias, sentava com a gente pra almoçar e ia revelando suas pérolas. Gente fina, uma pessoa honesta e justa em tudo que fazia, tanto como ser humano quanto patrão", relata.
Na vizinhança e até nos comércios "adversários", a presença de seu Serafin era marcante e respeitosa, por mais que há anos seu estabelecimento enfrentava o problema causado pela "molecada" da bagunça, que invadia a rua e transformava a região em um pardieiro. Com a covid-19, aglomerações proibidas e aulas presenciais na UFMS canceladas, a questão deu uma acalmada.
Porém, seu Serafin nunca desistiu de atender a galera e manter o bar por todos esses anos, mesmo na dificuldade de uma pandemia. Desde o começo do negócio em meados dos anos 70-80 ao fim de tantas turmas de faculdade nos cursos universitários, marcou a vida dos seus tantos "filhos" de todas as idades.
"Escobar é certamente um patrimônio campo-grandense! Não existe uma pessoa que não tenha ouvido falar de lá, do nome e do dono. Minha avó, hoje com 92 anos, inclusive já tomou umas comigo no meu primeiro ano de faculdade. Assim como a neta aqui, ela adorou", relembra com saudade Paula.
Morte – O falecimento de seu Serafin Escobar ocorreu às 22h de quinta-feira (18), quando não resistiu às complicações da covid-19. Ele, que até havia curado da doença pandêmica um mês antes, não aguentou e se foi aos 89 anos. A informação foi confirmada pelo Campo Grande News por meio dos familiares.
Na quarta-feira passada (17), Serafin foi internado com falta de ar no Hospital Cassems. O dono do bar Escobar estava à espera de uma vaga em leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) porém a espera foi curta: faleceu antes mesmo de ser transferido. Também segundo os familiares, ele já lutava contra problemas cardíacos, o que intensificou seu quadro.
Serafin Escobar deixa para trás esposa, 7 filhos, netos e bisnetos – além de inúmeros "filhos de bar".
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